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Exposição no Instituto Tomie Ohtake valoriza a cerâmica nipo-brasileira como um dos símbolos da imigração japonesa no Brasil

Publicado por Victoria Louise em 28/02/2024
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Identidade, tradição e diáspora são os temas levantados em “Tocar a Terra” a partir do trabalho de 15 ceramistas com práticas que flutuam entre a arte e o design

O Instituto Tomie Ohtake inaugura, no próximo sábado (2), “Tocar a Terra – Cerâmica contemporânea nipo-brasileira”. A exposição é a terceira a integrar o programa Diásporas Asiáticas, que tem como objetivo apresentar a produção de artistas vindos da China, da Coreia do Sul e do Japão, bem como de descendentes destes países, de famílias imigrantes. Com curadoria da designer e pesquisadora Rachel Hoshino e assistência de Ana Roman, a mostra permanecerá em cartaz até o final de maio.

Hideko Honma com uma chawan de seu atelier / Foto de Flavia Valsani

Reunindo obras de 15 artistas baseados no estado de São Paulo – a maior colônia japonesa fora do Japão -, a exposição coletiva parte da prática milenar da cerâmica para tratar de questões da diáspora e da imigração japonesa. Influenciados pelas tradições do país, esses ceramistas têm suas pesquisas, práticas e referências profundamente enraizadas no “ethos nipônico”, isto é, nos costumes e hábitos fundamentais da cultura japonesa.

Ponte (1973), de Megumi Yuasa. Foto: Patricia Ikeda.

A expografia carrega um detalhe particular: ao lado das peças, ao invés de uma simples legenda com os devidos créditos, foram criados alguns haicais – poesias japonesas compostas por três versos com cinco, sete e cinco sílabas. A autoria é do artista Kenichi Kaneko, que estudou as cerâmicas e desenvolveu cada texto como uma dedicatória.

Dos símbolos trazidos nas peças, que têm a presença frequente de elementos naturais como sementes e brotos, resultou, ainda, um importante conceito nipônico: o “wabi-sabi”. Trata-se de um ideal estético-filosófico segundo o qual o belo reside no imperfeito, no impermanente e no incompleto, noções essenciais para o conceito da mostra. Segundo Hoshino, “a plasticidade da argila, o respeito pelo tempo e a consciência da interdependência entre tudo fazem com que a cerâmica seja prática favorável ao diálogo do ceramista com a sua história, seu entorno e consigo próprio”.

Habitáculos (2007), de Alberto Cidraes. Foto: Patricia Ikeda.

Em conversa com a Artsoul, Rachel Hoshino conta detalhes do processo conceitual do projeto.

ARTSOUL A tradição japonesa da cerâmica é uma das mais antigas do mundo, explica para a gente como foi o processo de pesquisa para essa mostra e qual a relevância de partir da cerâmica para tratar da diáspora.

RACHEL HOSHINO A cerâmica é uma prática artesanal e artística que usa o solo, a própria terra onde pisamos, plantamos e habitamos. A pesquisa sobre processos de transformação da argila e os processos criativos e identitários, logo pensei que [a ideia da exposição] seria a cerâmica seria o tema perfeito para tratar da diáspora: as raízes culturais de um lugar brotando em e através de um novo solo. É por isso que tanto insisto no termo “nipo-brasileiro” com ênfase no hífen! Não se pode falar nem de brasileiro, nem de japonês, a gente está falando de um acontecimento único: uma cerâmica muito específica, que brotou em solo brasileiro 115 anos depois da primeira leva de imigrantes. Foi preciso de mais de um século para que uma cerâmica e artistas com identidade muito próprias despontasse em território brasileiro. Nosso chão trabalhado pelas técnicas e estilo (ou espírito) japonês resulta em obras e vidas ricas em aspectos culturais muito peculiares. Por isso a cerâmica foi eleita como tema para falar de nova terra, novo território, novo solo.

Retrato Rachel. Foto: Patricia Ikeda.

ARTSOUL A exposição reúne trabalhos de 15 artistas baseados no estado de São Paulo. Como foi chegar até esses nomes? Como se deu a escolha de artistas?

RACHEL HOSHINO A maioria dos ceramistas com a tradição japonesa na alta temperatura estão baseados no estado de São Paulo. Foram escolhidos os pioneiros, a maioria ainda viva, porém não só japoneses ou descendentes de japonês, escolhi também pessoas que trabalham dentro dessa ‘forma de viver’ nipônica, como o português Alberto Cidraes, baseado em Cunha (SP), que morou no Japão e a Renata Amaral, que é discípula de um desses mestres [da cerâmica japonesa]. A etnia não contou tanto, e sim as técnicas e a abordagem em relação ao barro e ao fogo, o respeito à matéria-prima, o jeito de pesquisar e observar a natureza.

ARTSOUL A exposição integra o programa Diásporas Asiáticas. Que relações ela estabelece com o instituto e de que forma dialoga com a obra de Tomie Ohtake?           

RACHEL HOSHINO As exposições entre si surpreendentemente tratam de temas muito próximos, como o porvir, o mistério do futuro, a chegada, o enraizar-se, o refúgio, a saudade, a novidade. Elas trazem muito o tema do encontro, do despertar para o novo e de nele se encontrar – a formação de uma nova identidade. A Tomie Ohtake foi uma pessoa que veio atrás do novo e que pôde ser uma mulher pintora contemporânea, coisa que talvez no Japão tivesse mais dificuldade. Foi uma artista e uma pessoa engajada em proporcionar a integração da comunidade japonesa no Brasil através das artes. E nesta exposição temos muitas ceramistas mulheres que jamais poderiam ter a mesma projeção que elas têm no Japão, ou a liberdade criativa, poética ,e isso se aproxima da Tomie.

ARTSOUL Como foi pensada a expografia? Quais relações foram feitas entre as obras?

RACHEL HOSHINO As obras foram escolhidas dentro de três eixos curatoriais: o vir a ser (travessia), o comunica-se (encontro) e o habitar (morada). São sementes, brotos, folhagens, casulos, conchas, passagens, abrigos, buracos… Os temas das cerâmicas escolhidas tratam do desenrolar do tempo e das possibilidades futuras. Então a expografia vai da semente, que é da terra, até a lua cheia, do cosmos. […] Ela vai da travessia para o brotar, do brotar para espaços e de espaços para morada e de volta para uma comunhão com o cosmos. Ela termina em uma tigela, objeto primordial da cerâmica, ancestral, o primeiro objeto doméstico de cerâmica. O espaço foi pensado para privilegiar a horizontalidade, o arejamento e a luz meditativa. Desenhada pela Ligia Zilbernstejn o mobiliário media a forte arquitetura do ITO comas obras. A composição é despojada, mas de contrastes. As legendas foram substituídas por haicais, feitas por um 16° artista, o Kenichi Kaneko, multiartista, que conhece profundamente a obra de cada artista e criou esses poemas para cada escultura.

Kenjiro Ikoma, Inverno Primavera / Foto Patrícia Ikeda

ARTSOUL Partindo deste tema tão forte de identidade, que aparece também em outras exposições, como a próxima edição da Bienal de Veneza ou nas Histórias no MASP, qual a importância de montar uma exposição desta no contexto artístico atual?

RACHEL HOSHINO O recorte dessa exposição de ceramistas nipo-brasileiros orienta-se pela construção da identidade humana. A gente está falando das diásporas japonesa, coreana e chinesa, mas quando se trata da formação de identidade através da arte e da cerâmica, cujas  características muito fortes favorecem o diálogo do artista com a própria identidade (porque o processo é todo de transitoriedade, acidentes e confluências de fenômenos), a gente consegue pensar a formação da identidade como um processo humano. A identidade é sempre transitória, uma coisa não-fixa, então uma contribuição para este diálogo atual de identidade que “Tocar a Terra” traz é apontar para a identidade como um processo de impermanência e transitoriedade, processos fluidos. Apesar de a palavra ‘identidade’ sugerir um recorte, “Tocar a Terra” aponta para a diluição dessas fronteiras nominativas atuais: identidades afro, indígena, feminina, LGBT, brasileira… A intenção da curadoria para falar de cerâmica e diáspora transborda as fronteiras de cada grupo num sentido integrativo.

Rachel Hoshino tocando a terra no Japão / Foto Futoshi Yoshizawa

ARTSOUL De maneira geral, como você entende a relação entre arte e design? Assim como a arte pode exprimir uma ideia de mundo, o design de objetos também é capaz disso?

RACHEL HOSHINO Sim. O que o japonês tem como grande contribuição com a cerâmica de alta temperatura (e outras artes) é a não-divisão entre arte e design. O design é arte, o artesanato é arte. O objeto utilitário voltado para as atividades humanas tem a mesma nobreza que um vaso decorativo no palácio imperial ou em um ritual budista, por exemplo. Não há essa separação. A nobreza de uma tigela, usada para preparar e servir  o alimento do dia tem uma relação horizontal com o objeto que a gente coloca em um pedestal no museu ou coloca em um lugar “nobre” da casa. O que mais encanta no universo da cerâmica japonesa é essa fronteira borrada entre arte e design, útil e contemplativo. Como designer e descendente de japoneses absorvi muito desta visão, então para mim é fácil transitar entre uma exposição de arte ou um projeto de design.

Serviço
Exposição: Tocar a Terra – Cerâmica contemporânea nipo-brasileira
Curadoria: Rachel Hoshino
Assistente de curadoria: Ana Roman
Local: Instituto Tomie Ohtake – Av. Faria Lima 201 (Entrada pela Rua Coropé, 88) – Pinheiros SP
Visitação: 02 de março a 26 de maio de 2024
Funcionamento: terça a domingo, 11h às 19h, entrada gratuita
Artistas: Akinori Nakatani, Alberto Cidraes, Hideko Honma, Katsuko Nakano, Kenjiro Ikoma, Kimi Nii, Kimiko Suenaga, Luciane Sakurada, Marcelo Tokai, Mário Konishi, Megumi Yuasa, Mieko Ukeseki, Renata Amaral, Shoko Suzuki e Tomie Ohtake.

Carla Gil é pesquisadora independente e graduada em Arte: História, Crítica e Curadoria pela PUC-SP. é pesquisadora independente e graduada em Arte: História, Crítica e Curadoria pela PUC-SP.

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