A artista Adriana Conti Melo nasceu em São Paulo, estudou desenho industrial antes de se dedicar exclusivamente as artes, expôs em diversas instituições no Brasil e no mundo. Entrevistamos a artista para entender um pouco mais sobre o seu processo e sua trajetória.
Artsoul: Como e quando você se descobriu artista?
Foi um processo longo, no fundo eu sempre identifiquei a necessidade de me expressar por formas, cores, falo pouco, alguns até me acham expansiva, mas sou bastante introspectiva, demorei para me dar conta que isso também era uma possibilidade profissional, embora difícil num país que a arte e a cultura são tão pouco valorizadas. Na hora da faculdade, um pouco por contexto familiar, outro por falta de coragem, fiz Desenho Industrial, que sempre gostei bastante e pensava ter mais possibilidades. Aí casei, empreendi, tive filhos, priorizei a necessidade, até que comecei a perceber que a arte também é uma necessidade para mim, talvez a artista mesmo sempre existiu, mas a coragem para expor e assumir esse papel perante ao mundo, tenha nascido junto com a minha filha, essa segunda gravidez foi um processo mais longo, as angústias e incertezas se conseguiria ou não, eram os mesmos medos e fantasmas, a gente vai lidando com cada um no momento que pode.
Artsoul: Como funciona o seu processo criativo? E o que influencia nele?
Sou mais intuitiva, trabalho com a emoção. Minha inspiração vem de algum incômodo, de alguma inconformidade, de acreditar que algo deveria ser diferente. Já vivi o suficiente para entender minha impossibilidade de mudar o mundo, mas gosto de colocar no trabalho um mundo de uma forma mais digerível, mais aceitável, mesmo tendo em mente questões densas não me deixo levar pelo lado sombrio. Proponho ao expectador uma discussão, ao dar um caminho para o olhar dele, acho que posso mostrar um lado que talvez não tenha visto, ou seja, dirigir um pouco mais o olhar diante do meu trabalho. Acredito que isso é uma das funções da arte, incomodar. Minhas angústias ou questionamentos são o ponto de partida, e isso por ser sincero é muito potente, tornando a obra potente e instigante, mesmo tendo cores suaves.
Adoro as observações que chegam, para isso as exposições são momentos incríveis, é possível ver as sensações e significados diferentes. É ótimo ouvir de alguém que você não conhece, o que pensa, ver que a obra não é mais sua, ela pertence ao mundo, ela fica potente com o olhar do outro
Esse é um atrativo da pintura, um jogo de reinterpretação da realidade. As cores são muito importantes para mim, adoro brincar com elas, usá-las de uma maneira menos convencional. É impressionante como pessoas tendem a ficar restritas em algumas possibilidades, uma simples cor distinta do usual pode abrir um campo todo novo.
Artsoul: Quais são seus projetos atuais no campo da arte?
Esse Ano veio mostrar que não adianta ficar fixo, devemos ser flexíveis, tudo que estava planejando foi adiado ou cancelado, o mundo passa por uma reviravolta muito complexa e atinge diretamente a minha obra, agora não consigo fazer planos a longo prazo. Minha obra mudou com tudo isso, teve outros fatores que acabaram acontecendo nesse mesmo período, mas o fato é que estou no período de geminar, gerando uma nova fase, trabalhando bastante, preparando para mostrar.
Artsoul: Quais artistas são as suas referências, inspirações ?
Matisse, Diebenkorn, Mark Rothko, Cruz Diez, Daniel Buren, James Turrel, também destacaria Richard Serra, e Olafur Eliasson
Artsoul: Quais foram os principais desafios que você vivenciou ao longo de sua carreira?
Além da pouca valorização do artista na sociedade e da obra na vida das pessoas, acredito que é bancar que você tem algo a dizer para o mundo, que o seu universo particular também pode emocionar alguém que nem ao fundo sabe a origem daquele trabalho. É, talvez o desafio maior seja nessa interação com o olhar do espectador convencê-lo que aquela imagem é significativa, que dela derivam muitas interpretações e ainda possibilitar renovações. Ouvi isso uma vez de uma das primeiras pessoas que compraram um trabalho meu, uma espécie de mudança de significado de algo que é estático, congelado no tempo, com as cores definidas e no fundo causar sensações diferentes, dependendo do momento de quem olha.
Sim, o maior desafio é essa conexão. Outro ponto é, adoro que meu trabalho entre na casa das pessoas, mas é como se eu precisasse me despedir dele, afinal, eu me coloquei ali, acho importante esse desapego. Entrar na casa de alguém que escolheu pendurar um trabalho seu na parede é uma emoção incrível, o mais difícil é ter que se conter.
Artsoul: Agora , para encerrar , fale :
uma obra de arte:
Muito complicado eleger somente uma.
um livro:
Eu não sei ter, do Marcelo Candido de Melo. Fui a primeira leitora, e tem uma obra minha feita especialmente para a capa.
um filme ou serie:
Gosto muito de cinema, e series, acho difícil eleger 1, as vezes um filme marcou em uma época da minha vida. Posso falar que gosto muito em geral dos filmes do Bergman, Sonata de Outono os diálogos são fortes e reais, um que tenho em mente e quero rever por que nem me lembro é Cinema Paradiso, e recentemente assisti O Cidadão Ilustre que gostei muito, mas se for elencar aqui, tem muitos filmes que poderia colocar em uma lista.
uma musica:
A musica tem um poder de transportar a gente no tempo, de remexer em memórias, Assim falou Zaratustra de Strauss e gosto bastante de Bossa Nova.
um lugar
O Mar
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