Na última quinta-feira, 08 de setembro de 2022, foi anunciada pela família real a morte da rainha. Ela faleceu no Castelo de Balmoral, na Escócia – destino de veraneio da família. Graças a sua longevidade, Elizabeth II possui uma extensa galeria de retratos oficiais – como expõe as quase 50 páginas de retratos disponíveis no site da National Portrait Gallery. O reinado de Elizabeth II foi contemporâneo à proliferação da fotografia a cores, à expansão comercial da televisão e ao surgimento e crescimento da internet. A imagem da rainha foi pintada, fotografada, gravada em selos postais, cédulas, moedas, louças, camisetas e inúmeros outros lugares. Dentre os criadores dessas reproduções de sua imagem está um considerável rol de artistas.
Elizabeth Alexandra Mary subiu ao trono após a Segunda Guerra Mundial, em 1952, aos 25 anos. Em seu posto por mais de 70 anos, foi a pessoa mais longeva à frente da realeza britânica. Sua ascensão à posição de chefe de Estado se deu após a morte de seu pai, o rei George VI. Sua coroação, em 1953, foi a primeira a ser televisionada na íntegra e a primeira a ser transmitida internacionalmente.
A construção da imagem da rainha – sua expressão, sua pose, seu olhar – foi também uma questão de relações públicas para a Coroa. Para os mais de 200 retratos oficiais, cada artista foi selecionado a dedo pela realeza. A composição das imagens, suas vestes, o local e as jóias escolhidas são apenas alguns dos elementos que deviam ser considerados, pois poderiam afetar a imagem pública da pessoa a vestir a coroa.
Com a popularização da televisão, pela primeira vez, trechos do dia-a-dia da realeza puderam ser acompanhados internacionalmente por qualquer pessoa. Isso também disseminou, em uma época de grandes reviravoltas culturais – na Inglaterra e no mundo – a imagem da rainha cotidiana, sem sua coroa e sua capa.
Entre os retratos de Elizabeth II que se acumularam pelos anos estão desde registros de eventos oficiais, como o de sua coroação, eternizada por Cecil Beaton, e retratos aclamados, como o capturado pelo fotógrafo Chris Levine, até de artistas como Andy Warhol, Jamie Reid, Justin Mortimer e Oluwole Omofemi.
Beaton e Levine capturaram, cada um à sua maneira, a imagem de Elizabeth de maneira mais alinhada aos que são tradicionalmente retratos oficiais da realeza. Dando imponência e reforçando o status da rainha – seja pela ostensividade ou quietude.
Warhol traz em seu trabalho uma iconografia voltada à pop culture – o que também atesta o lugar da figura de Elizabeth no imaginário coletivo – e destacando a reprodução midiática da imagem com suas diferentes versões do mesmo retrato em cores vibrantes. Reid, por sua vez, produziu uma imagem integral do movimento punk no Reino Unido. Trouxe a foto de Elizabeth censurada pela frase “God Save the Queen” e pelo nome da banda Sex Pistols sobre a bandeira britânica.
Mortimer e Omofemi, em suas obras homônimas, compõem, ambos, a imagem da rainha através da colagem. Sendo a obra de Mortimer uma representação da rainha em sua velhice enquanto Omofemi recupera a imagem de sua juventude – curiosamente, o último artista a pintar oficialmente Sua majestade.
Matheus Paiva é produtor cultural e internacionalista, formado pela Universidade de São Paulo.
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