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Como a arte contemporânea incorporou novos materiais a partir da industrialização 

Publicado por Victoria Louise em 21/08/2023
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Pensar no termo “industrial” no campo das artes visuais pode levar a diversos caminhos, desde a produção de materiais em escala industrial – como as tintas – até a incorporação de métodos próprios da indústria no processo artístico. A aproximação entre artista e indústria aconteceu de maneiras diferentes ao longo da história, a depender, justamente, do que a indústria poderia oferecer para cada artista. Nesse texto, essa relação será pensada em algumas instâncias, através de obras da arte contemporânea.

Santacosta. Informe, futuro. 2021. Imagem: reprodução. 

Padronização dos materiais 

Ao longo do processo artístico, a concepção e materialização de uma obra é mediada, entre outras coisas, pela manipulação da matéria prima. O desenvolvimento artesanal dos materiais, como a produção da tinta a partir de pigmentos isolados e aglutinantes, por exemplo, fez parte do processo artístico ao longo de toda a história. 

Todavia, a industrialização trouxe aos artistas outras maneiras de chegar a certas tonalidades a partir de tintas já fabricadas, prontas para uso,o  que permitiu a padronização de tonalidades e a repetição de escalas cromáticas com maior facilidade. 

A fabricação artesanal de tintas ainda é muito presente em diversas produções, mas a industrialização dos materiais abriu novas discussões acerca da importância dos pigmentos na arte. 

Em 2016, o “Vantablack” – pigmento mais escuro do mundo criado pela empresa Surrey NanoSystems – foi patenteado pelo artista indo-britânico Anish Kapoor para seu uso exclusivo. Ao patentear o pigmento que absorve 99,965% da luz visível, Kapoor que já possuía grande projeção na arte contemporânea, tornou-se alvo de respostas de artistas que não concordavam com essa exclusividade. 

“PINK” pigmento de Stuart Semple. Reprodução: site do artista. 

O artista britânico Stuart Semple desenvolveu, então, o “rosa mais rosa” do mundo, e como uma resposta a Kapoor, realizou a comercialização desse pigmento através de uma performance. Para comprar esse pigmento rosa, o cliente deveria concordar com um termo afirmando que não era Anish Kapoor, não estaria associado ao artista e não deixaria que o produto chegasse até ele. 

A provocação da performance era a finalidade do artista, e o previsível aconteceu: o pigmento rosa chegou às mãos de Kapoor, que divulgou em suas redes sociais ter a posse de um exemplar do pigmento. De toda forma, Semple desenvolve a comercialização de pigmentos especiais de modo acessível, como esse super rosa, ou mesmo uma nova versão de um preto tão especial como o Vantablack – porém mais barato.  

Instalação de Anish Kapoor no Palazzo Manfrin, na Bienal de Veneza. Foto: David Levene.

A transformação da escultura

Nas décadas de 1960 e 1970, diversos artistas estadunidenses passaram a incorporar o universo industrial na concepção de esculturas e instalações. Formou-se então a corrente conhecida como “minimalismo”, na qual os materiais convencionais das esculturas, como o mármore, o bronze e a cerâmica, deram lugar ao ferro e a uma série de materiais industriais. 

A utilização de ferro, plástico e outros que marcam a indústria, por si só, já transformou a escultura e suas propriedades formais. Essa matéria bruta ou altamente manipulada trouxe aos artistas novas elaborações sobre a relação das formas com o mundo – em constante transformação. Não à toa muitas esculturas minimalistas foram pensadas para o espaço público, em contraste com a cidade. 

Tony Smith. Cigarette, 1961. Reprodução: Tony Smith Estate.

A escultura não só adquiriu novos aspectos e qualidades através desses materiais, mas o processo artístico também passou por transformações. Um exemplo é a obra “Black Box” de Tony Smith: foi projetada pelo artista, que enviou a uma fábrica as instruções para a confecção de uma caixa de ferro. No caso dessa obra, a manipulação industrial do ferro é um componente essencial do processo artístico – não houve finalização com pintura ou detalhamento, por exemplo. Essa é uma das formas de olhar para a arte contemporânea conceitual, na medida em que a concepção da obra era mais cara ao artista do que sua construção física. 

Por mais que seja antiga a dinâmica do “projeto” – pelo qual o artista concebe uma obra para ser confeccionada por terceiros -, a escala industrial de manipulação de materiais brutos possibilitou aos artistas repensar a tarefa de materializar uma obra. No Renascimento italiano, por exemplo, a prática coletiva de ateliês era baseada na concepção de obras por parte dos mestres, enquanto os aprendizes e assistentes seguiam a execução do projeto. Outros artesãos externos aos ateliês também eram contratados para executar ideias de artistas. 

Tony Smith. Black Box, 1962.

A escala industrial é essa que permite uma produção massiva de todo tipo de coisa em pouco tempo. Com os métodos industriais, a quantidade e dimensões do que é produzido são ampliadas. As obras de Richard Serra podem ajudar a compreender o peso da indústria no campo da arte contemporânea e no espaço público. A icônica “Tilted Arc” (1981) do escultor estadunidense demonstra essa dimensão industrial e sua potência de afetar um espaço. 

Com ​​36,6 metros de comprimento e 3,6 metros de altura, a obra foi instalada para atravessar a Federal Plaza em Nova York. Até o ano de 1989, antes de ser retirada, a imensa placa de aço corten dividia uma parte da praça, com uma angulação em contraste com o desenho do chão. A obra trouxe ao debate público longas discussões acerca do papel da arte no espaço público, assim como o diálogo entre essas obras e seu entorno.

Richard Serra. Tilted Arc, 1981. Foto: Anne Chauvet/reprodução Tate.

A abertura para novos materiais – possibilitada em grande parte pelo minimalismo – permitiu que artistas pudessem investigar cada vez mais as relações entre o que é considerado natural/orgânico ou artificial/manipulado. Ainda que essas categorias possam ser confundidas – afinal tudo que é artificial tem origem natural – artistas como Mary Carmen Matias evidenciam o contraste da matéria em seus diferentes estágios de manipulação. 

Mary Carmen Matias. Envolvendo I, 2022. Imagem: reprodução. 

Em Envolvendo I, por exemplo, a artista desenvolve uma composição através de um metal altamente manipulado e sofisticado que envolve uma rocha em seu estado bruto. Na mesma ideia de obra projetada já abordada anteriormente, a artista compreende quais são as possibilidades de composição do metal a partir de rochas que ela encontra em suas viagens. O metal é trabalhado por um ateliê especializado a partir de um molde construído por Matias. 

Claudia Kayat. Onda#1, 2020. Imagem: reprodução. 

O plástico é também um dos símbolos da indústria, uma vez que só passou a ser produzido no contexto industrial. Além de ser uma matéria que deriva de manipulações complexas, o plástico possui características muito específicas, como sua maleabilidade. Na obra “Onda#1” a artista Claudia Kayat utiliza essa maleabilidade para produzir uma escultura através das torções. A textura que é definida entre transparência e opacidade permite que as partes torcidas e envoltas apareçam através do jogo de luz e sombras sobre a obra. 

Marina Rodrigues. Skyline, 2022. Imagem: reprodução. 

A obra Skyline de Marina Rodrigues reverbera a relação entre arte, cidade e indústria de diversas maneiras. Na primeira vista, percebe-se o uso de materiais próprios da construção civil – o concreto e o ferro. A materialidade da obra já atribui a ela um peso único, mas compreender que essas formas estão sugerindo uma paisagem urbana, amplia a reflexão em torno da escultura e sua capacidade de sintetizar temas tão complexos como a cidade. Em Skyline, a indústria é via de pesquisa da artista ao passo em que é fonte material e elaboração formal para a obra. 

Em pequena ou grande escala, com obras pensadas para um espaço interno ou público de grande circulação, a apropriação da indústria por artistas contemporâneos sinaliza uma relação incontornável. Tal relação demonstra que a arte tudo incorpora – seja para pesquisar, criticar, ressignificar ou destruir. 

Para conferir parte das obras presentes no texto, entre outras, acesse a Seleção Industriais
Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.

Gostou desta matéria? Leia também:
Além dos museus: arte em espaços públicos

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