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Centro Cultural FIESP é reinaugurado após reforma com exposição de peças afro-brasileiras

Publicado por Victoria Louise em 23/07/2024
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“Outros navios: uma coleção afro-atlântica” apresenta coleção do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP com mais de 300 peças entre joias, tecidos, máscaras e esculturas de madeira e bronze

Nesta quarta-feira, o circuito artístico de São Paulo voltará a contar com um importante espaço de exposições: o Centro Cultural FIESP. O edifício é conhecido por integrar – junto a instituições como o Masp, o Itaú Cultural e a Japan House – o “corredor de cultura” da Av Paulista, grande polo de museus e galerias da cidade. Situado no complexo que abriga também as sedes do SENAI e do SESI, o local abrirá suas portas com uma mostra inédita, após passar mais de um ano fechado para reformas estruturais.

Máscara Gueledê, povo Nagô (Yoruba), República Popular do Benin, data de aquisição: 1977 / Foto de Edson Kumasaka
Máscara, povo Baule, Costa do Marfim, data de aquisição: 1978/ Foto de Edson Kumasaka

Para este momento de celebração, o público poderá observar, pela primeira vez, parte do acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP). Na mostra “Outros navios: uma coleção afro-atlântica”, itens africanos do museu são colocados em intersecção com produções posteriores, decorrentes dos trânsitos entre África e Brasil. São mais de 300 peças, muitas das quais nunca antes expostas ao público.

Joias, tecidos, máscaras e esculturas de madeira e bronze de povos africanos são alguns dos materiais presentes na curadoria, realizada por Carla Gibertoni Carneiro, Renato Araújo da Silva e Rosa Vieira. Dialogando com obras mais contemporâneas da coleção, como fotografias do francês Pierre Verger e pintura de Larissa de Souza, esses objetos são dispostos sobre paredes, mesas e vitrines do grande espaço expositivo. A galeria recém-reformada possui 850m2 e integra o conjunto de artes cênicas e visuais, audiovisual, música, literatura e tecnologia do SESI-SP. 

Ao entrar na exposição, peças históricas ricas em detalhes chamam a atenção do espectador. Protegidas por vidros, elas foram adquiridas a partir do final da década de 1960, por meio de doações ou compras, em um contexto histórico marcado pela consolidação dos movimentos de independência política das ex-colônias em África. 

Não menos chamativos são os dois mapas postos na parede ao fundo da sala. Um deles ilustra as origens e destinos dos fluxos de africanos colocados em situação de escravizados durante o período do tráfico transatlântico para a América. Enquanto o outro mostra a origem étnica cultural e geográfica das peças que fazem parte da coleção do MAE-USP. 

Pulseira, etnia Wolof, área geográfica Senegal, data de aquisição 1977 / Edson Kumasaka, Acervo MAE USP

Esse panorama cartográfico contribui para o entendimento de que não se trata de uma coleção estritamente africana, mas sim afro-atlântica. São igualmente expostas obras produzidas no Brasil, de forma que a mostra serve como um convite para pensar os diferentes fluxos da arte e da história. Para isso, o professor Marianno Carneiro da Cunha (1926-1980), do departamento de história da USP, foi uma figura central: dedicou-se incansavelmente à formação do projeto institucional e científico do setor africano do MAE. 

Em uma das paredes do espaço expositivo, uma linha do tempo mostra o trajeto desenvolvido pelo Museu de 1969 até 2024. São lembrados episódios como as compras de peças de galerias dos Estados Unidos, a primeira exposição do MAE no Edifício de Geografia e História da USP (FFLCH), ou o início da estadia do professor Marianno na Universidade de Ifé, na Nigéria, que durou de 1974 a 1976. Até o ano de 1998, a atuação do museu estava marcada pelo desenvolvimento de atividades de pesquisa, ensino e extensão. De lá até aqui, peças africanas e afro-brasileiras também foram cedidas a exposições de outras instituições, como o Sesc 24 de Maio e o MASP. 

Em “Outros navios: uma coleção afro-atlântica”, fica claro que o trabalho de documentação museológica é fundamental para a compreensão das condições de cada objeto. É a partir daí que se pode estudar o contexto em que eles foram desenvolvidos, bem como a formação de um conjunto de peças que garante novos aprofundamentos. Nesse sentido, a falta de dados como nomes de autores, datas ou origens étnicas e culturais é entendido pela curadoria como um dispositivo para pensar a história de cada peça – e também como disparador de novas pesquisas, para que tais lacunas sejam preenchidas. 

A mostra é dividida entre alguns eixos temáticos, que se aprofundam nas questões culturais, étnicas e religiosas da coleção. No início da visita, o núcleo “Dentro das águas” mostra objetos relacionados ao culto de Iemanjá e Oxum, os orixás dos mares e das águas doces, como coroa, pulseira, leque (abebê) e espelho. 

Em seguida, “Bagagens afro-atlânticas” também apresenta peças ligadas à espiritualidade e à religiões de matrizes africanas, como o arco e flecha de Oxóssi, estatuetas de Exu, bastão de Oxalá, machado de Xangô, além de elementos de altar e instrumentos musicais. 

Já no núcleo “De São Paulo a Ifé”, são exibidas diversas obras de origem iorubá, vindas especialmente da Nigéria e de Benim. Nessa parte, é possível ver itens presentes no cotidiano das pessoas, como um pilão, um baú, colheres e enxadas. Há também um conjunto de máscaras esculpidas em madeira e pintadas, além de pares de estatuetas de ibeji, que estão ligadas à gemealidade para os povos iorubás. 

“Bantu, das terras centrais” representa uma gama de culturas da África Central, de países como Angola e República Democrática do Congo. A seleção traz peças como esteiras de ráfia (palha) em diferentes formatos, taças cerimoniais e um recipiente para leite decorado com conchas (cauris) em sua tampa. 

Mais adiante, no eixo “Ventos no oeste africano”, estão reunidos objetos de países como Gana, Mali e Costa do Marfim. Há vestimentas, pentes do tipo garfo, figuras em bronze e uma balança para pesar pó de ouro. 

“Técnicas” mostra os utensílios usados em diferentes etapas da técnica milenar de cera perdida, em que se esculpem peças de liga metálica por moldagem. Também são apresentados conjuntos de enxós (usados para desbastar tábuas ou pequenos pedaços de madeira), que permitem ao visitante o conhecimento de como é feita a máscara Gueledé. 

Por último, “Joias e tudo que reluz” traz a coleção de joias africanas do MAE/USP, uma das mais expressivas do mundo. São colares, anéis, brincos, tornozeleiras e pulseiras produzidas em vidro, bronze e marfim. Esta é com certeza uma das partes mais notáveis da exposição. 

Há ainda uma seção especial reunindo 11 obras de diferentes suportes, de autoria de artistas contemporâneos negros brasileiros. São eles Denis Moreira, Denise Camargo, Guto Oca, Larissa de Souza e Renan Teles. Além de estabelecer uma série de relações entre passado e presente, esta é uma forma de mostrar que o acervo da instituição não é fixo, podendo ser recomposto para apontar “outros navios à vista”. 

Em cartaz até 16 de fevereiro do próximo ano, “Outros navios: uma coleção afro-atlântica” é uma oportunidade imperdível para voltar a frequentar o espaço expositivo do Centro Cultural Fiesp e conhecer o encorpado acervo do MAE-USP, que nos remete aos navios de violência que chegaram ao nosso litoral, mas também aos navios de história e cultura que criam novos significados aos objetos em exposição. 



EXPOSIÇÃO “OUTROS NAVIOS: UMA COLEÇÃO AFRO-ATLÂNTICA”
Galeria de Arte do Centro Cultural Fiesp – Av. Paulista, 1.313
Visitação: de 24 de julho de 2024 a 16 de fevereiro de 2025
Terça a domingo, das 10h às 20h
Entrada gratuita – Livre para todos os públicos

Carla Gil é pesquisadora independente e graduada em Arte: História, Crítica e Curadoria pela PUC-SP

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