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Bienal de Veneza 2024: arte indígena se destaca no pavilhão brasileiro

Publicado por Victoria Louise em 16/11/2023
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Entre os dias 20 de abril e 24 de novembro de 2024, a Itália recebe a 60ª edição de um dos eventos mais importantes do mundo da arte: a Bienal de Veneza, com o tema Foreigners Everywhere/Estrangeiros em todos os lugares, sob curadoria do brasileiro Adriano Pedrosa. Recentemente, a Fundação Bienal de São Paulo anunciou que o pavilhão brasileiro, renomeado como Pavilhão Hãhãwpuá – nome em língua patxohã e usado pelos Pataxós para se referir ao território hoje compreendido como Brasil – será ocupado pela exposição Ka’a Pûera: nós somos pássaros que andam, de Glicéria Tupinambá e convidados, com curadoria de Arissana Pataxó, Denilson Baniwa e Gustavo Caboco Wapichana.

KA’A PÛERA

Assim como os tupinambá viam na floresta o poder de renascimento, quando desbravavam suas entranhas para fins agrícolas, e, após o ciclo, ela se regenerava, assim também eles próprios renasceram de forma simbólica perante o olhar do Estado. O Estado brasileiro, que declarava o povo tupinambá como extinto, em 2001 passou a reconhecê-los como um povo em luta pela manutenção de seu território, como se emergissem, ressurgissem, da própria selva. Ka’a pûera é uma palavra potente em tupi antigo que denota essa área resiliente de cultivo de roça, evoca também a imagem de um pequeno pássaro que se camufla habilmente na floresta simbolizando a dualidade, a similaridade entre os pássaros e os nativos que, como eles, sabem caminhar em sintonia com a terra e seus segredos.

A ARTISTA

Glicéria Tupinambá. Imagem: Robson Dias.

Glicéria Tupinambá (1982) é artista, professora e pesquisadora, originária da aldeia Serra do Padeiro, situada nas terras tupinambás no sul da Bahia. O reconhecimento público de Glicéria começou a ganhar destaque com a produção do documentário Voz das Mulheres Indígenas (2015), obra que reúne depoimentos de mulheres indígenas não apenas na Bahia, mas também em Pernambuco, Rio Grande do Norte e Alagoas. O documentário deu voz às experiências e perspectivas das mulheres indígenas, lançando luz sobre suas histórias e desafios.

Em 2010, a coragem de Glicéria foi evidenciada quando ela denunciou ações violentas da Polícia Federal contra seu povo em uma audiência em Brasília. Este ato de resistência custou-lhe a liberdade, tendo sido presa juntamente com seu bebê de colo. Esse incidente despertou críticas e revolta de entidades não apenas no Brasil, mas também em âmbito internacional, solidificando sua posição como uma defensora incansável dos direitos indígenas.

Destaca-se ainda que Glicéria Tupinambá contribuiu para a ressignificação dos mantos indígenas sagrados, recriando peças que incluem até 4000 penas de aves. Sua atuação evidencia a ascensão de artistas indígenas contemporâneos e seu papel crucial de revisita à história, reivindicando a restituição de artefatos históricos, como o manto tupinambá do século 17 que estava sob a guarda do Nationalmuseet, na Dinamarca.

Assojaba Tupinambá, 2021, de Glicéria Tupinambá, obra da artista convidada para Pavilhão Brasileiro na Bienal de Veneza. Imagem: Premio Pipa

Glicéria Tupinambá é, sem dúvida, uma figura central no cenário da arte contemporânea e no movimento de valorização da cultura indígena no Brasil e no mundo, contribuindo para a construção de pontes culturais e a reivindicação de direitos há muito negligenciados. Ela foi agraciada com a 10ª edição de Fotografia ZUM/IMS com o projeto Nós somos pássaros que andam em 2022 e é uma das vencedoras do Prêmio PIPA 2023, o que reforça sua crescente influência e reconhecimento na cena artística.

OS CURADORES

Além dos trabalhos de Glicéria Tupinambá, haverá artistas convidados ainda não divulgados, e a seleção das obras ficará a cargo dos também artistas indígenas:

Arissana Pataxó (1983) artista visual, pesquisadora e professora de origem Pataxó da região de Porto Seguro na Bahia. Graduada em artes plásticas pela UFBA, sua formação se mescla com sua vivência como Pataxó, resultando em obras complexas e experientes, da pintura à fotografia, passando por diferentes técnicas, que destacam encontros culturais, sociais e políticos. 

Arissana Pataxó, uma das curadoras do Pavilhão Brasileiro na 60ª Bienal de Veneza. Imagem: Stefan Schmeling
Meninos Kayapó (2008), Arissana Pataxó. Imagem: Prêmio Pipa

Denilson Baniwa (1984) originário da aldeia Darí, Amazonas, é um artista visual e curador que mescla influências ocidentais e tradições de seu povo Baniwa em sua obra, abordando questões indígenas contemporâneas. Sua trajetória inclui a fundação da Rádio Yandê, a primeira rádio indígena do Brasil, e performances impactantes em eventos como a Bienal de São Paulo. Além de seu trabalho artístico, ele atua como curador e promotor da cultura indígena, usando a arte como meio de resistência e sensibilização para questões indígenas no Brasil e além.

Denilson Baniwa. Imagem: Adrian Ikematsu

Gustavo Caboco Wapichana (1989) nascido em Curitiba é um renomado artista visual do povo indígena Wapichana. Suas obras abrangem diversas técnicas, como bordados, desenhos, murais, poesia, vídeos, performances e objetos, e refletem seu reencontro com sua família da Terra Indígena Canauamin, em Roraima. Sua jornada artística é marcada pela exploração das raízes indígenas, a valorização da cultura Wapichana e uma crítica às tentativas de apagamento dessas raízes no Brasil. Ao longo de sua carreira, ele tem participado de exposições e projetos que ampliam a compreensão da arte indígena contemporânea e sua importância na construção de narrativas contra-hegemônicas sobre os povos originários do Brasil.

Gustavo Caboco. Imagem: Caboco.tv
Fios da infância Wapichana, da série Encontros di-fuso (2022), Gustavo Caboco. Imagem: Premio Pipa

A 60ª Bienal de Veneza promete marcar a história da arte do Brasil. Além do curador brasileiro, a representação indigena no pavilhão nacional, haverá também a premiação da artista brasileira Anna Maria Maiolino com o Leão de Ouro, um prêmio de reconhecimento pelo conjunto de sua obra, também será premiada a artista turca Nil Yalter. Nascida em 1942, Maiolino se destacou por sua produção artística diversificada, incluindo desenhos, esculturas, performances e vídeos. Sua obra frequentemente aborda questões de identidade, gênero e política, e representa uma influência inestimável no cenário artístico contemporâneo. 

Anna Maria Maiolino. Imagem: Cobogó.
Entrevidas, da série Fotopoemação (1981), Anna Maria Maiolino. Imagem: Henri Virgil Stahl.

Na edição que irá discutir territórios em suas infinitas dimensões, o Brasil discute o tema a partir do território indigena, historicamente colocado simbolicamente como estrangeiro e muitas vezes vivendo clandestinamente em seu próprio lar. Glicéria Tupinambá, com sua arte e ativismo, é escolha brilhante para trazer à tona não apenas as tradições ancestrais, mas também a luta pelo território e a vida que esse território representa.

Giovanna Gregório é formada em Arte: História, Crítica e Curadoria pela PUC-SP. Pesquisadora e crítica independente.

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