Marina Bortoluzzi (Florianópolis, 1983 – Reside em São Paulo) é curadora e pesquisadora de arte contemporânea, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Estética e História da Arte pela USP. Formada pela Universidade do Sul de Santa Catarina em Publicidade e Propaganda; com Pós-Graduação em Marketing de Moda, pela ESPM, Porto Alegre; e especialização em Cool Hunting, pela Polimoda, Florença – Itália. É co-fundadora do Instagrafite, uma empresa focada em projetos de arte, e do WOW (Women on Walls), plataforma colaborativa e mundial de aprendizado, reconhecimento, financiamento e crescimento profissional para mulheres nas artes visuais.
Em seus primeiros passos no universo das artes, quais foram as ações que mais te trouxeram orgulho e foram decisivas para você?
Entrei no universo das artes em 2011, mas sinto que sempre tenho mais orgulho dos projetos mais recentes, sendo mais madura e com mais consciência da minha atuação. Entretanto, posso citar alguns em destaque: a criação e curadoria de um dos primeiros festivais de muralismo no Brasil, o O.bra, em São Paulo, em 2015; a participação no time curatorial do Artmossphere 2016, bienal de artes de Moscou, Rússia; a participação no board curatorial e da primeira exposição do Urban Nation Museum, primeiro museu de arte urbana contemporânea de Berlim, Alemanha, em 2017; a curadoria da exposição da artista colombiana Gleo, em São Paulo, em 2020; e a transformação do programa WOW – Women on Walls para uma plataforma, em 2022.
Em 2011 você criou o Instagrafite em parceria com o Marcelo Seewald Pimentel, sendo esse um dos primeiros e mais conhecidos perfis de arte no Instagram. De quais maneiras esse projeto impactou sua carreira?
Impactou a vida de ambos os sócios. O surgimento do Instagrafite despertou minha paixão pelas artes e me guiou para onde me encontro hoje. Mas sempre digo que não foi o Instagrafite que fez quem somos hoje, fomos nós que fizemos o que se tornou e pode ainda se tornar o Instagrafite. Então foi um cruzamento de energias e sincronicidade. Mais que tudo, nossa marca nos permitiu expansão de horizontes e conexão com o mundo, nosso nome é reconhecido internacionalmente, faz com que tudo que eu crie reverbere para além do Brasil.
Hoje, nosso foco é o Women on Walls (WOW), uma plataforma desenvolvida por você e lançada em 2020. Como você define a missão da plataforma? E de que maneira o WOW se relaciona com a sua trajetória nas artes?
A missão da plataforma é ser um espaço de reconhecimento, fortalecimento e crescimento profissional das mulheres nas artes visuais. Se relaciona diretamente com a minha trajetória, pois como uma curadora mulher me sinto no compromisso, e na empolgação, de potencializar e valorizar a carreira artística de outras mulheres. Digo que a plataforma é uma própria reparação histórica com a minha trajetória, que tem um sócio homem que já foi mais associado à nossa empresa do que eu, pela visão do mercado e dos artistas.
Em quais frentes a plataforma atua para o fortalecimento da presença de mulheres no mercado de arte?
A plataforma impulsiona a jornada artística das mulheres e promove conexões, diálogos e oportunidades de mercado, através das atividades e seções: Directory – mapeamento das mulheres profissionais do mercado, facilitando sua contratação; Study Hall – educação e formação em arte, por meio de videoaulas gratuitas; Mentor Match – conexão e promoção de mentorias; Workflow – documentos, materiais, ferramentas e metodologias para a organização profissional das mulheres; Fórum – rede de apoio profissional e emocional com trocas; Jobs – vagas de trabalho do mercado das artes; Open Calls – editais remunerados de marcas, instituições e parceiros com possibilidades de financiamento. De forma indireta, fora da plataforma, o WOW também atua em palestras, consultorias, curadorias, gestão de coleções e pesquisa.
Sabemos que as mulheres foram excluídas das artes visuais ao longo de séculos, proibidas inclusive de frequentar os espaços de formação das artes. Hoje, o acesso feminino na arte é maior, mas de que maneira você acredita que essa história de exclusão ainda perpetua?
Mulheres ainda são 2% do nosso mercado. Os acervos dos museus ainda tem mais obras de artistas homens, do que de mulheres. As obras de arte de mulheres ainda são desvalorizadas e recebem avaliações menores. Os cargos de liderança e diretoria das instituições de arte ainda são dominados por homens. Os festivais e eventos de arte pública, em sua maioria, ainda convidam mais artistas homens. O discurso parece repetitivo e ultrapassado, mas é porque as ações ainda são espaçadas e lentas. Temos um longo caminho de reparação pela frente. É preciso ver mudança na prática.
Os debates feministas têm obtido destaque em instituições culturais, e se mostram cada vez mais plurais, com recortes e demandas diversas como as das mulheres negras, indígenas, trans e travestis. A plataforma considera e trabalha nas diversas feminilidades e feminismos?
A plataforma tem o intuito de mapear as potencialidades femininas nas artes, através de um diretório com os perfis das mulheres que trabalham nas artes visuais em todo o mundo, com suas diferentes realidades, subjetividades e experiências. Mulheres, cis e trans, e pessoas não-binárias são todas bem-vindas! É muito importante que tenhamos um mapeamento plural, com múltiplas perspectivas e, inclusive, de várias localidades do Brasil.
Para você, qual o maior desafio da WOW hoje? E como enfrentá-lo?
O maior desafio, sem dúvida, é o financiamento da plataforma para sua existência, pois é um projeto que tem a intenção em manter-se gratuito e necessita de recurso de marketing ou apoio de leis de incentivo. Estamos em movimento, em conexão com marcas e articuladores culturais, mas sempre abertas a novas propostas e parceiros. São poucas as marcas e patronos que investem, diretamente, nas mulheres nas artes.
Como nossas leitoras e leitores podem se engajar na causa da plataforma WOW e apoiá-la?
As mulheres que são profissionais das artes visuais, convidamos que se cadastrem na plataforma: womenonwalls.co – e criem seu perfil para fazer parte do nosso diretório! A todos, sugerimos que sigam nosso perfil do Instagram: instagram.com/womenonwalls.co que sempre trazemos informações, conhecimento e dados do mercado com este corte de pesquisa. Curtam e compartilhem nossas iniciativas para que mais pessoas possam participar desta causa!
Esta entrevista foi concedida por Marina Bortoluzzi em Dezembro de 2022 via e-mail.
Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.
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