A icônica obra “Maman”, a aranha gigante da artista franco-americana Louise Bourgeois chegou aos Estados Unidos para ser leiloada no próximo mês pela Sotheby’s Nova York. A obra, pertencente ao acervo da Fundação Itaú, tem expectativa de arremate entre US$ 30 milhões e US$ 40 milhões – cerca de R$ 152 milhões a R$ 202 milhões.
O motivo divulgado para a venda é o custeio das operações do Itaú Cultural – braço cultural do Itaú Unibanco – e o fortalecimento da estrutura e perenidade da instituição.
Adquirida em 1996 pelo colecionador e co-fundador do banco Itaú, Olavo Setúbal, após exposição na 23ª Bienal de São Paulo, a peça foi cedida em regime de comodato para o Museu de Arte Moderna de São Paulo e exposta na marquise da instituição entre 1997 e 2017, fazendo parte da paisagem no imaginário dos frequentadores do Parque Ibirapuera.
Nos últimos anos a obra de 3 metros de altura passou por itinerância em cidades brasileiras, passando por instituições como Instituto Inhotim em Minas Gerais, Fundação Iberê Camargo no Rio Grande do Sul, Museu Oscar Niemeyer em Curitiba e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Esta aranha é a primeira da série de seis aranhas feitas em bronze na década de 1990 e a única presente na América Latina, as outras estão expostas em museus pela Europa e Estados Unidos.
A venda desta obra relembra a negociação de uma tela “No. 16” (1950) do artista Jackson Pollock pelo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – a única obra do artista presente em coleção latino americana – vendida por cerca de US$ 13 milhões, cerca de R$ 47,6 milhões, em 2019.
Estas negociações geram conflitos de opiniões no circuito das artes, que levantam a discussão sobre “alienação”, ou seja, prática de vendas de obras de arte do acervo de museus, que só pode ser feita mediante compra de outras obras para o acervo. Controlada pela Associação Americana de Diretores de Museus de Arte (AAMD), a prática objetiva o aprimoramento dos museus, ao adquirir peças que promovam um maior alinhamento com o recorte curatorial do acervo. Durante a pandemia, a AAMD autorizou por dois anos que as instituições vendessem obras para equilibrar o orçamento interno.
Jorge Coli, professor de história da arte da Unicamp, é um dos críticos desse tipo de venda. Em 2018, se referiu à venda de Pollock como um “descalabro”, sugerindo ser inaceitável uma venda de obra para pagar dívidas, uma vez que essa necessidade é resultado de má gestão.
Uma outra perspectiva da crítica parte do entendimento de que os acervos de museus são vivos e podem se transformar e se adequar ao tempo e aos diferentes recortes priorizados. O acervo da Fundação Itaú é voltado para arte e artistas brasileiros.
Victoria Louise é jornalista, formada em Crítica e Curadoria da Arte pela PUC-SP.
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