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36ª Bienal de São Paulo valoriza a beleza da humanidade em tempos críticos

Publicado por Victoria Louise em 22/09/2025
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Às grandes exposições mundiais é esperada a tarefa de refletir panoramas críticos caros à sociedade, que perpassam questões sociais, culturais e estéticas. A Bienal de São Paulo, um dos maiores e mais tradicionais eventos da arte contemporânea, demonstrou em suas últimas edições a capacidade de abordar questões críticas da atualidade através do prisma da arte e pesquisas arquivísticas. 

Diante de um cenário tão instável, permeado de conflitos de diversas naturezas, em que acompanhamos guerras em curso, uma escalada da crise ambiental mundial, fluxos migratórios e direitos humanos violados, entre outros fatores, questiona-se: como fazer uma bienal que dê conta de representar as respostas culturais a tal contexto? 

Vista da instalação da 36a Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Premissa curatorial

A 36ª edição da Bienal de São Paulo, “Nem todo viandante anda estradas – da humanidade como prática” escolhe a beleza como ponto de partida para traçar diálogos sobre a resistência humana diante de problemas estruturais. A humanidade presente no título, nessa proposta, não é acionada de forma singular, mas evocada através do encontro de manifestações culturais ao redor do planeta. 

Na introdução de seu texto curatorial no catálogo da exposição, o curador chefe Prof. Dr. Bonaventure Soh Bejeng Ndikung já adverte o público de que sua proposta não ilustra temas como identidade, migração, diversidade ou as falhas da democracia, mas, por outro lado, reivindica a humanidade como verbo e prática. 

Na pluralidade de pesquisas e poéticas, a curadoria propõe que comunidades de lugares distintos do mundo enfrentam problemas similares, mas apresentam formas particulares de resistência e convívio. Nesse sentido, o público tem a chance de reconhecer paralelos culturais a partir de produções de artistas de outros países, que valorizam o intercâmbio de saberes em suas práticas. Compõem também o time de curadoria Alya Sebti, Anna Roberta Goetz e Thiago de Paula Souza, a cocuradora at large Keyna Eleison a consultora de comunicação e estratégia Henriette Gallus. 

Vista da instalação da 36a Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

O encontro das águas

Para agrupar as produções artísticas nesta edição, a curadoria escolheu os estuários como base conceitual e expográfica, isto é, o modo de conceber a montagem da exposição e a experiência espacial do visitante. Estuários são zonas de encontro entre as águas dos rios com a água salgada do mar, ambientes que oferecem especificidades para o convívio de seres vivos – um ponto chave para a exposição. 

A expografia desenvolvida por Gisele de Paula e Tiago Guimarães toma dos estuários a fluidez das águas para propor um espaço aberto que proporciona o diálogo constante entre os trabalhos. Ao longo do pavilhão, cortinas coloridas translúcidas criam delimitações e aproximações: é sempre possível vislumbrar o que há depois de um tecido ondulante, que não separa, mas convida o visitante a ultrapassá-lo. 

Na coletiva de imprensa, o curador Thiago de Paula Souza afirmou que as entradas das salas de vídeo estão sempre voltadas para as extremidades de vidro do pavilhão, fazendo com que a entrada e saída de cada sala implique no encontro do visitante com a natureza que circunscreve a área externa da exposição. Essa proposta reflete a vontade da curadoria em reforçar o diálogo entre uma natureza própria do Parque Ibirapuera, com novos biomas que habitam o pavilhão ao longo dos próximos meses. 

Vista da instalação da 36a Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

A vida vibrante na terra é um dos eixos centrais da exposição, que convidou artistas a reconstruírem ou reformularem ecossistemas ou fragmentos de biomas em instalações. A experiência do público na exposição começa exatamente com o trabalho de Precious Okoyomon artista londrina que pesquisa o cerrado brasileiro e materializou sua pesquisa com uma instalação viva composta de vegetação e até peixes em um lago. Instalações orgânicas e efêmeras estão presentes em outros espaços, como o trabalho de Sallisa Rosa, que tem como método a coleta para a construção de sua poética. Na Bienal, a artista estruturou um labirinto com galhos emaranhados com objetos de cerâmica, a base do seu trabalho. 

Vista da instalação da 36a Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Verticalidade 

Uma das características mais particulares da proposta curatorial é o olhar para a potencial verticalidade do pavilhão da bienal. Trabalhos como “A casa de Bené (2025)” de Ana Raylander Mártis dos Anjos, “atravessam” andares e podem ser experienciados por diversas perspectivas ao longo da visita. Além de uma ocupação espacial experimental, esses trabalhos verticalizados também conectam os diversos “capítulos” – eixos curatoriais que agrupam artistas em temáticas específicas. 

Vista da instalação da 36a Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

A icônica coluna que conecta a rampa em três níveis no pavilhão também demarca a abordagem vertical da curadoria com a pintura instalativa de Tanka Fonta. Intitulada “Filosofias do ser, da percepção e da expressividade do ser”, ela traz uma narrativa em torno do sol e sua presença na vida humana, pensando em uma frequência entre o astro e a vida terrena. O trabalho parte da visão do artista filósofo que considera as cores e os sons uma coisa só, vista a partir de suas ondas eletromagnéticas. Essa intersecção de linguagens tem forte presença na exposição, e a pintura monumental de Fonta é um exemplo dessa abordagem na curadoria. 

O percurso dos sons

O som é também um elemento acionado pela exposição, que ecoa pelos espaços e conecta trabalhos em percursos sensoriais. A começar pela instalação “A colheita de Dan” de Gê Viana, no início do pavilhão, que remonta às tradicionais radiolas do Maranhão intercaladas com arquivos históricos. A artista evoca o reggae maranhense para tratar das feridas coloniais e ressaltar as heranças culturais distintas que dão origem a novos movimentos na construção da sociedade brasileira. Neste sentido, para além do apelo sensorial, a obra aciona a linguagem sonora como elemento disparador da memória coletiva. 

Vista da instalação da 36a Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Na rampa externa do edifício está ambientado o trabalho sonoro Rampa rítmica/ Rhythmic Ramp (2025) de Cevdet Erek, desenvolvido especificamente para a arquitetura do pavilhão desenhado por Oscar Niemeyer. A obra combina as características da rampa de acesso entre andares com os sons propostos pelo artista, levando em consideração o ritmo dos visitantes nessa passagem. 

Do cuidado e da cura

Através de produções que resgatam saberes ancestrais de cuidado, a curadoria ressalta as tecnologias de origem indígena, africana e asiática – e seus desdobramentos interseccionais no Brasil. Matéria orgânica como as ervas e objetos simbólicos revelam a diluição das barreiras entre espaço de arte e espaço ritualístico, abrindo outros tipos de experiência. 

Vista da instalação da 36a Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Ao acionar a beleza da humanidade como condição essencial de superação de traumas históricos e pavimentar futuros coletivos, essa edição da Bienal propõe o encontro fluído de lutas e saberes ancestrais. Para a curadoria, a beleza também é política, ela demonstra formas de resistir sem perder o gosto pela vida e a fé no que se pode construir junto. 

Acompanhe a 36ª Bienal de São Paulo!
Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP

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