Neste ano, as questões socioambientais das cidades contemporâneas serão destaque na Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza. O pavilhão do Brasil apresentará, entre 10 de maio e 23 de novembro, a exposição “(Re)invenção”, curada por Luciana Saboia, Eder Alencar e Matheus Seco, integrantes do grupo Plano Coletivo. O projeto busca pensar, a partir de recentes descobertas arqueológicas do território amazônico, sobre os possíveis equilíbrios entre natureza e cultura – isto é, o patrimônio construído pelo homem.
A mostra é dividida em dois atos: no primeiro, exibe infraestruturas sofisticadas criadas por povos indígenas há mais de 10 mil anos, que unem conhecimento técnico e estratégias de adaptação ao meio ambiente; já no segundo, explora as diversas relações entre arquitetura e infraestrutura, tendo como foco a realidade brasileira contemporânea e os novos olhares para as cidades. A ideia é jogar luz tanto para o modo como os povos originários se relacionaram (e se relacionam) com a terra, quanto para as construções civis do século 20, refletindo sobre as maneiras de se habitar com mais sustentabilidade.
Reproduzindo estes ideais de preservação, a expografia utiliza a própria estrutura do pavilhão como suporte para reconfigurar espaços internos. Formado por painéis de CLT, pedras usadas como contrapesos e cabos de aço, o projeto expositivo forma um sistema de instalação que se mantém suspenso e estável, permitindo a remontagem ou reciclagem dos materiais usados. Em duas salas, a mostra reúne painéis com desenhos e um antigo mapa hidrográfico de uma região da Amazônia, que exemplificam métodos de equilíbrio ambiental.
Um dos trabalhos apresentados pelo trio de curadores é o “Jardim de Sequeiro”, desenhado por Oscar Niemeyer e João Filgueiras Lima e instalado no prédio do Instituto Central de Ciências, da Universidade de Brasília (UnB). Trata-se de um modelo paisagístico que substituiu plantas dependentes de constante irrigação por espécies nativas que se adaptam à temporalidade local. Assim, flores, capins e plantas savânicas agora nascem, crescem, florescem e secam mais rapidamente, acompanhando a sazonalidade do bioma do Planalto Central em uma estrutura pré-moldada em concreto protendido.
(Re)invenção demonstra, assim, a importância da discussão arquitetônica em consonância à valorização de fenômenos naturais e de apropriações sociais. A exposição olha para ações inventivas que partem de situações já existentes para reinventar o espaço construído. Segundo Luciana Saboia, é um esforço de “cartografar ações que constroem nosso legado cultural. Assim como essas populações originárias desenvolveram técnicas refinadas de ocupação e manejo do território, a expografia busca estabelecer um elo entre tradição e invenção, utilizando elementos que dialogam com o meio ambiente e propõem um ciclo sustentável de construção e reúso”.
É um diálogo direto com o tema geral da 19ª Bienal de Arquitetura de Veneza, intitulada “Intelligens. Natural. Artificial. Collective”. Proposta pelo curador italiano Carlo Ratti, esta edição indaga os países participantes sobre as inteligências artificial e natural, compreendendo os dois eixos como parte de uma mesma esfera expandida. Nesse entendimento, áreas como arte, engenharia, biologia, ciência de dados e ciências sociais e políticas, além de outras disciplinas, estão ligadas à materialidade do espaço urbano.
Para Andrea Pinheiro, presidente da Fundação Bienal de São Paulo, a proposta brasileira, além de responder à provocação de Ratti, ainda reverbera a necessidade de discutir a crise climática. “(Re)invenção” nos convida a aprender com as práticas ancestrais, explorando a simbiose entre humanos, terra e natureza como um caminho para um futuro mais sustentável. A participação do Brasil na Bienal de Veneza, fruto de uma parceria frutífera com o Governo Federal, destaca a importância de estratégias que conciliam um compromisso real com o planeta”, afirmou.
Serviço
Pavilhão do Brasil na 19ª Mostra Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia
Exposição: (RE)INVENÇÃO
Data: 10 de maio a 23 de novembro de 2025
Local: Pavilhão do Brasil
Endereço: Giardini Napoleonici di Castello, Padiglione Brasile, 30122, Veneza, Itália
Comissária: Andrea Pinheiro, Presidente da Fundação Bienal de São Paulo
Curadoria: Luciana Saboia, Eder Alencar e Matheus Seco [Plano Coletivo]
Colaboradores: André Velloso, Carolina Pescatori, Cauê Capillé, Daniel Mangabeira, Guilherme Lassance, Henrique Coutinho, Sérgio Marques [Plano Coletivo]
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