O ano de 2024 foi um período intenso para as artes visuais no Brasil. Nesses doze meses, temas como identidade, memória, meio ambiente e tecnologia foram amplamente trabalhados por artistas e curadores de todo o país, contribuindo para a consolidação de uma cena crítica e alinhada às questões mais urgentes da sociedade.
Este movimento de acompanhar pautas coletivas é quase natural na história da arte. De modo geral, o que os museus e galerias fazem é expandir debates contemporâneos e formar públicos sensíveis e engajados. Ainda assim, é sempre difícil e desafiador elencar quais serão os assuntos mais abordados no ano seguinte. Para ajudar a desvendar esse mistério, algumas instituições culturais já divulgaram suas programações de 2025. Confira, a seguir, os principais eventos e exposições previstos até o momento!
Na Av. Paulista, um novo prédio chega para complementar o famoso corredor cultural da cidade. O edifício Pietro Maria Bardi, extensão da sede original do Masp – agora nomeada Lina Bo Bardi – será aberto ao público no mês de março. Ao longo do ano, os dois prédios terão atividades dedicadas às Histórias da Ecologia, dando continuidade ao programa que desde 2016 se debruça sobre as diferentes Histórias (brasileiras, indígenas, da diversidade e assim por diante).
Reunindo artistas, coletivos e ativistas de diversas partes do mundo, a proposta curatorial investigará as relações entre os seres vivos, suas criações e o meio em que vivem. Serão mostras, cursos, palestras, seminários e publicações acerca da crise climática e a relação do ser humano com o meio ambiente.
Para celebrar a inauguração das novas galerias do anexo, serão apresentadas também exposições com recortes do acervo do museu, incluindo trabalhos de Renoir e Artes da África, além de uma exposição dedicada às Histórias do MASP, que discutirá a formação do museu e suas transformações. No vão livre, a instalação interativa “O Outro, Eu e os Outros”, do colombiano Iván Argote, convidará os visitantes a refletirem sobre o papel do indivíduo nos espaços públicos.
No ano em que a Pinacoteca do Estado de São Paulo comemora 120 anos de atividade, 18 exposições inéditas comandam as comemorações. Com um olhar voltado às manifestações e tradições populares, a instituição tratará da popularização das artes plásticas no Brasil, com destaque às décadas de 1960 e 1970, além, claro, de seus desdobramentos até hoje.
Em março, o edifício Pina Luz inaugura essa programação com a mostra “Tecendo a Manhã: Experiência Noturna na Arte do Brasil”, que explora as particularidades da noite a partir de obras do século XX. Já no segundo semestre, o destaque é da colombiana Beatriz González, uma das maiores artistas da América Latina, que apresenta suas pinturas e objetos apropriados da mídia e da história da arte.
Na Pina Contemporânea, uma das exposições mais esperadas é “Pop Brasil celebra os 60 anos das mostras históricas Opinião 65 e Propostas 65”, cujo título já elucida o que será apresentado – a reafirmação da relevância da arte nacional nos anos 60 e 70. Em novembro, o edifício terá, ainda “Trabalho de Carnaval”, que tem como foco o impacto cultural e econômico da festividade brasileira.
No Jardim de Esculturas do Parque da Luz, que completa 200 anos, trabalhos de Denilson Baniwa, Anna Maria Maiolino e Jorge dos Anjos propõem novas reflexões sobre o gênero da escultura. Na Pina Estação, destacam-se uma retrospectiva de Flávio Império e a produção de Marga Ledora em mostras inéditas.
O ano de 2025 também será um ano de grandes eventos. Inspirada no poema de Conceição Evaristo, a 36ª edição da Bienal de São Paulo terá como tema o mote “Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática”. Prevista para acontecer em setembro no Pavilhão Ciccilo Matarazzo, a mostra será dirigida pelo curador-geral Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, junto a uma equipe de cocuradores composta por Alya Sebti, Anna Roberta Goetz e Thiago de Paula Souza, além da cocuradora at large Keyna Eleison e da consultora de comunicação e estratégia Henriette Gallus.
A proposta é repensar a humanidade como verbo, uma prática viva. A metáfora do estuário (lugar onde correntes de água se encontram e criam um espaço de coexistência) é usada no projeto para refletir a multiplicidade de encontros da cultura brasileira. Trata-se, portanto, de um debate para que a humanidade se una e se transforme por meio de uma escuta atenta e da negociação entre suas diferenças.
Este ano, a exposição terá uma mudança histórica em sua organização: ela não acontecerá apenas de setembro a dezembro, como é tradicionalmente realizado, mas se estenderá por mais quatro semanas, sendo apresentada de 6 de setembro até 11 de janeiro de 2026. O intuito da prorrogação é ampliar ainda mais o alcance da mostra, que poderá ser visitada durante o período de férias escolares. A decisão foi tomada pela presidente da Fundação, Andrea Pinheiro, e sua equipe de diretoria.
Já no Rio Grande do Sul, a Bienal do Mercosul está confirmada para o dia 27 de março, com visitação até o dia 01° de junho. A mostra, que deveria ter ocorrido em 2024, precisou ser adiada devido às tragédias climáticas que atingiram o estado no início deste ano.
Sua 14ª edição terá como tema o “Estalo”. A ideia é debater a rapidez com que as diferentes mudanças podem acontecer, seja na natureza, nos corpos ou nos tecidos sociais. Com curadoria liderada por Raphael Fonseca, ao lado de Tiago Sant’Ana, Yina Jimenez Suriel e Fernanda Medeiros, a mostra reunirá 76 artistas, sendo 65% internacionais e grande parte pouco conhecida pelo público geral. Mais da metade da lista apresentarão obras comissionadas especialmente para a Bienal.
Na sede de São Paulo, o IMS exibirá obras fundamentais para a fotografia mundial, como as de Zanele Muholi, que documenta a beleza e o ativismo negro e queer da África do Sul; Gordon Parks, que registrou o regime de segregação social e o movimento organizado de luta contra o racismo nos Estados Unidos; e Agnès Varda, a grande cineasta belgo-francesa que iniciou sua carreira como fotógrafa. Terá destaque, também, o paraense Luiz Braga, autor de materiais que revelam a diversidade do território amazônico e seus habitantes. Além dessas, o instituto terá ainda uma mostra de fotografias do povo indígena Paiter Suruí, de Rondônia, com imagens históricas e contemporâneas organizadas pelo coletivo Lakapoy.
Em Poços de Caldas, Minas Gerais, o IMS apresentará uma exposição inédita sobre Laudelina de Campos Mello, sindicalista que lutou pelo reconhecimento e a valorização do trabalho doméstico no Brasil. No segundo semestre, a Ocupação Eduardo Coutinho, realizada pelo Itaú Cultural em São Paulo e exibida no IMS Rio, exibirá a obra do documentarista, sua trajetória e processo de criação.
Já no Rio de Janeiro, a sede do instituto fica fechada para obras de restauro e reforma. O atendimento a pesquisadores acontece em uma sede provisória na Rua do Russel, na Glória.
Em parceria com a Pinacoteca do Ceará, a exposição “Que país é este? A câmera de Jorge Bodanzky durante a ditadura brasileira, 1964-1985”, exibida anteriormente em São Paulo, fica em cartaz em Fortaleza até 13 de abril.
Duas exposições se destacam no Museu de Arte do Rio. A primeira é “ZIMAR”, uma mostra itinerante do Centro Cultural Vale Maranhão, que chega à cidade carioca para apresentar os personagens do Bumba Meu Boi com suas caretas horripilantes e brincalhonas. A segunda é “O dono do MAR”, a primeira individual institucional do artista Primo da Cruz. Seus trabalhos revelam o cotidiano de um jovem criado em uma favela, que vive com todas as complexidades desse território. A curadoria da mostra é assinada por Alexis Zelensky, Armando Antenore, Clarissa Diniz, Felipe Carnaúba e Maxwell Alexandre, além do acompanhamento curatorial da Equipe MAR, composta por Amanda Bonan, Marcelo Campos, Amanda Rezende, Thayná Trindade e Jean Carlos Azuos.
No Paraná, Luana Vitra exibe seus trabalhos na mostra “Aos espíritos minerais”. Inaugurada ainda no mês de outubro, ela é composta por desenhos e esculturas (algumas inéditas) que refletem sobre a espiritualidade e o afeto de elementos do reino mineral, como o ferro, o cobre e o chumbo. Sua pesquisa ganhou mais visibilidade após a artista ter participado da 35ª Bienal de São Paulo, em 2023. Ligada à sua origem de Minas Gerais, ela propõe uma série de reflexões sobre o passado do estado, marcado pela escravisão e o extrativismo.
No Museu Oscar Niemeyer, “O olho da Noite”, do francês Jean-Michel Othoniel, apresenta 25 obras em grandes dimensões e materiais diversos. No chão, um mar de tijolos de vidros azuis refletem, ao mesmo tempo, uma constelação de esculturas abstratas formadas em arco pelo artista e arquiteto. A oportunidade é imperdível para quem passa por Curitiba.
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