Entre os dias 31 de maio e 4 de junho, o público interessado em acompanhar o mercado de arte pode conferir a segunda edição da ArPa, feira de arte contemporânea montada no Pavilhão Pacaembu, localizado dentro do Complexo Pacaembu, na cidade de São Paulo.
Organizada pela gestora cultural Camilla Barella e Cristina Candeloro, a feira propõe um formato mais intimista – se comparada a outras grandes feiras de arte -, com curadorias mais afuniladas, e galerias destacando artistas selecionados ou um conjunto de um único artista. Com estandes entre 30 e 50 m², a organização da feira afirma que a proposta é proporcionar ao público, artistas e galerias, um espaço mais íntimo para contemplação e trocas.
O curador Diego Matos foi convidado a pensar uma curadoria do Setor Satélite, dedicado à exibição de videoarte na fachada do Pavilhão Pacaembu. Sob o título “Pontos de Luz”, o programa exibe obras de artistas como Anna Bella Geiger, Rosa Luz, Mario García Torres, Ana Vaz, Frederico Morais e Janaína Wagner.
“A importância do humano é inerente à sobrevivência estética e política da arte. A arte, por princípio ético, não extrai o humano, convoca permanentemente sua presença e ousa cantar: ‘me arrisco a falar, me sinto feliz, me sinto muito feliz, me sinto completamente feliz'”, destaca Matos a respeito da curadoria.
Dentro da feira também há o Setor UNI, curado por José Esparza Chong Cuy, no qual são destacados alguns estandes que pensaram em apresentações solo para essa edição da feira. Galerias como Fortes D’Aloia & Gabriel, Galatea, HOA, Marli Matsumoto Arte Contemporânea e Sé Galeria são algumas presentes na curadoria.
A arte têxtil de Janaina Mello Landini é um dos destaques da Zipper Galeria na feira deste ano. Em “Ciclotrama 319 (superstrato)”, obra de 2023, seu bordado em grande escala é enraizado na superfície da tela, partindo do centro em duas direções e tomando os arredores – formando uma esfera. A organicidade do bordado e suas referências à natureza são marcas do trabalho da artista.
Já a Galeria Ybakatu apresenta a série “Imagina o som!” do artista Washington Silvera, com esculturas expostas nas paredes do estande. Os objetos são inspirados em instrumentos musicais, que adquirem novas formas e tomam espacialidades inusitadas. Para divulgar a individual do artista, a galeria compartilhou um trecho do texto do curador Luis Sandes, responsável pela seleção das obras presente no estande:
“A série Objetos acústicos tem todas suas obras feitas de madeira com marchetaria e ferragens, brincam com a escala, o desenho e a função de instrumentos sonoros acústicos — violões, cavaquinhos, bandolins, etc. Eles assumem formas improváveis — derretidas, deslocadas, magras e, até mesmo, de paisagem. O recortado Violão paisagem 2 (2022) faz soar MPB instrumental nos nossos ouvidos”.
A escultura também é destaque no estande da Galeria Marilia Razuk, que apresentou uma curadoria solo do artista carioca José Bechara. A geometria é o mote do conjunto de trabalhos que tomam diferentes formas em pinturas, além da escultura posta no centro do espaço. Sob o título de “Ativações Atômicas, Ações de Troca”, o projeto reúne obras que acentuam motivos geométricos através de cores vibrantes e um alto contraste.
A linguagem gráfica e verbal é apresentada em algumas obras pela Galeria Raquel Arnaud no projeto Morfologia, que reúne os artistas Geórgia Kyriakakis, Carlos Nunes e Frida Baranek. Segundo a galeria “Os três artistas, cada qual à sua maneira, exploram a (des)configuração da forma, da palavra ou da matéria, propondo novas possibilidades e leituras”.
O conjunto de desenhos de Carlos Nunes intitulado “OCO” é um ótimo exemplo de como a linguagem escrita se torna um ponto de investigação nas artes, sendo reelaborada e adquirindo novos sentidos e qualidades visuais. A série explora a potência e variedade de sentidos para a palavra “oco”, com tantas maneiras que ela pode ser representada em um projeto gráfico. “Os desenhos são quase matrizes, negativos de si mesmos, já que as letras surgem do preenchimento do restante do espaço da folha”, sugere a divulgação do projeto.
A pintura de Juliana Gontijo está presente na curadoria da Galeria Murilo Castro, em diálogo com obras de Anna Bella Geiger. Entre o abstracionismo orgânico e leves sugestões figurativas, a artista explora questões territoriais em pinturas cheias de movimento.
“As pinceladas da mineira Juliana Gontijo discutem as fronteiras de corpo e mente a partir de formas naturais, usando o traço/risco como fio condutor que delimita e conduz o espectador nessa narrativa”, destaca a curadora Ana Carolina Ralston em texto sobre o estande da galeria.
A ampla área do design está representada na feira MADE, que compartilha o espaço do Pavilhão Pacaembu com a ArPa. Nos mais variados segmentos, é possível notar um olhar especial para materiais como a madeira e a cerâmica, que são destaques em diversos expositores.
O designer André Grippi trouxe à feira a coleção Entreatos, que inclui os bancos Canto e Bis, e a cadeira Amélia.
“Entreatos é uma coleção que se estabelece nos possíveis diálogos entre três diferentes tipologias de assentos, decorrentes de uma constante busca pela expressividade através da concisão formal. O contraponto entre reta e curva dão partido à composição das peças, criando uma unidade estética e três diferentes percepções. Se na cadeira a sutileza das curvas quase as revela somente no contato com corpo, nos bancos as curvas são um elemento imagético primordial, que ora direcionam à função, ora à contemplação”, revela texto da coleção.
Na mesma linha de pesquisa da curva, André Grippi apresenta na Artsoul Design peças em mármore e madeira. Na série Verso, “as curvas esculpidas no mármore causam um movimento que se contrapõe à dureza e estaticidade da pedra, permitindo a pega e o apoio sobre a peça”. Já na série Pista, vemos um “objeto interativo, analógico e sensorial. A base em balanço permite que a bolinha corra em volta pelo caminho oblongo, conforme os toques recebidos nas extremidades da peça”.
Já o Estúdio Campana apresentou peças da coleção “Sopro na Argila”, constituídas especialmente em terracota. O barro, material base para a coleção, é elemento fundamental para o fazer artístico e artesanal brasileiro, além de ter força na memória afetiva dos designers que resgataram um laço através dessas peças.
A ArPa conta com uma programação especial de conversas ao longo dos seus cinco dias de atividade. Na Sala MOS, localizada no centro do pavilhão, o público tem a oportunidade de participar de conversas com artistas, curadores, pesquisadores e uma série de outros agentes do mundo da arte. Com curadoria de Carla Zaccagnini, a programação recebeu o título de “Re-instaurar”.
Serviço
Feira de arte ArPa
Quando: De 31 de maio a 4 de junho
Horário: Quarta-feira a sábado, das 13h às 20h30 | Domingo, das 11h às 18h
Local: Pavilhão Pacaembu, no Complexo Pacaembu
Endereço: Praça Charles Miller, s/n
Ingressos (com acesso às duas feiras): R$60 (inteira) e R$30 (meia). Ingressos à venda pelo site https://arpa.art/
Classificação: Livre
Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.
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