Quem percorre as estações da Companhia do Metropolitano de São Paulo (ou somente Metrô de São Paulo) – com seus mais de 100 quilômetros de extensão – pode se deparar com uma série de intervenções e estímulos. Dentre eles estão anúncios comerciais, informações sobre agendas culturais e até mesmo obras de arte.
São mais de 90 obras de arte espalhadas por quase 40 estações de metrô. O acervo de obras de arte contemporânea faz parte do projeto “Arte no Metrô” e as primeiras obras instaladas em uma estação foram as que compõem o parque de esculturas expostas na Estação Sé (das linhas 1-Azul e 3-Vermelha), inaugurada em 1978. A inauguração da estação acompanhou o projeto de reurbanização da Praça da Sé e as obras ali expostas serviram de inspiração para a ocupação artística de forma permanente dentro do Metrô.
As obras variam em tamanho, temas, materiais, técnicas e primam pelo caráter de durabilidade, monumentalidade e diálogo com os passageiros. O Arte no Metrô tem mais de 40 anos de existência. A escolha de obras é feita a partir de critérios definidos por uma comissão de arte e algumas foram projetadas especificamente para cada contexto arquitetônico ou urbanístico. Confira um pouco das obras distribuídas pelas estações:
Como comentado anteriormente, a primeira obra a ser exposta no Metrô está na Estação da Sé, no centro da cidade. Instalada a mais de 40 anos na estação, “Garatuja” – cuja tradução significa “rabisco” – foi feita por Marcello Nitsche (1942 – 2017), desenhista, pintor, gravador, escultor e artista intermídia, que participou de 5 edições da Bienal Internacional de São Paulo de 1967 a 1985.
Garatuja é uma enorme peça de metal soldado e pintado com tinta poliuretana à base de resina alifática de alta resistência, amarela, cilíndrica e curva, de três toneladas de peso, que se destaca nos jardins internos da estação.
Outra obra conhecida na estação, por estar mais próxima das áreas de trânsito de usuários no mezanino central, é a obra “Sem Título” de Alfredo Ceschiatti (1918 – 1989).
A escultura, que representa o estilo do artista com formas sintéticas, harmoniosas e elegantes, é feita de bronze fundido sobre um pedestal de mármore – pesando, ao todo, meia tonelada. Próximo do arquiteto Oscar Niemeyer, Ceschiatti foi convocado várias vezes para a criação de esculturas a serem integradas ao espaço arquitetônico de seus projetos. Além da escultura na Estação Sé, Ceschiatti possui diversas outras obras expostas em espaços públicos do país, como o Palácio da Alvorada e no Supremo Tribunal Federal, em Brasília, assim como no Parque do Flamengo, no Rio de Janeiro.
Além das obras de Ceschiatti e Nitsche, a estação ainda conta com um mural em acrílica sobre concreto, de Renina Katz, e um mural em pastilhas de vidro, de Cláudio Tozzi, compondo, assim, as primeiras obras expostas em uma estação do Metrô. Também nesse período foi iniciado o mural “Como sempre esteve, o amanhã está em nossas mãos”, de Mário Gruber, porém este só foi concluído definitivamente em 1987. A estação recebeu ainda, em 1985, o painel “Fiesta”, de autoria de Waldemar Zaidler.
As fotos de Alex Flemming (1954), impressas com tinta vinílica sobre painéis de vidro, chamam a atenção nas plataformas da estação. Expostas em ambos os lados das plataformas, têm como sua paisagem de fundo a vista privilegiada da Avenida Sumaré que se descortina a partir do viaduto de onde se encontra a Estação Santuário N. Sra. de Fátima-Sumaré (nome atual da estação).. A série de 22 retratos – que contam com um do próprio artista – possuem trechos de poemas brasileiros grafados livremente sobre as fotos. As imagens, todas frontais, do tipo fotos para RGs ou passaportes, remetem à questão da identidade e, ao mesmo tempo, da alteridade, ou seja, do respeito pelo outro, pela diferença.
Luiz Carlos Martinho da Silva (1952), mais conhecido como Caíto, escultor, desenhista e arquiteto, começou a expor em fins dos anos 1970. Sua escultura Sem Título, feita de chapas de aço corten calandradas e soldadas foi produzida em 1995 e hoje está instalada na entrada da estação pela Rua Oscar Freire. Em suas esculturas, Caíto explora aspectos como o interno e o externo, frente e verso, em cima e embaixo, fechamento e abertura, ritmo, equilíbrio, oscilação, movimento e estática. De formato cônico, a peça, segundo o artista, sugere um movimento de interiorização, na medida em que se expande dirigindo-se para si mesma.
Na parede em frente à plataforma sentido Vila Prudente da Estação Consolação estão os quatro painéis que compõem a obra “Quatro Estações” de Tomie Ohtake. De 2×15 metros cada, os painéis estão preenchidos por tésseras de vidro coloridas em tons de azul, vermelho, amarelo e verde.
Tomie Ohtake (1913 – 2015), pintora, gravadora e escultora, nasceu em Kyoto, no Japão, e emigrou para o Brasil em 1936, fixando residência em São Paulo. Na década de 1980, começou a produzir esculturas e painéis para lugares públicos. “Gosto da obra em espaço público, porque fica ao alcance de todos”, afirmava a artista.
Diversas cidades do Brasil contam com obras de Ohtake expostas em áreas públicas. São Paulo é a que acumula o maior número delas. É possível encontrá-las na Avenida 23 de Maio; na Ladeira da Memória; no campus da Cidade Universitária da USP; no SESC Vila Mariana; no Memorial da América Latina, entre outros lugares.
Na Estação Consolação, a obra faz referência ao verão, inverno, outono e primavera e ocupa a parede da plataforma desde a inauguração da estação – que com o passar dos anos recebe mais e mais transeuntes.
Inicialmente sob administração do Estado de São Paulo pela CPTM sob a denominação de “Linha G”, hoje, a Linha 5-Lilás faz parte da operação do Metrô. Na Estação Largo Treze da Linha 5 está instalado o painel de 150m² de Gilberto Salvador, intitulado “Vôo da aproximação”.
Composto por peças de cerâmica esmaltada, o painel preenche a parede em frente ao mezanino de acesso ao terminal de ônibus da estação. Gilberto Salvador (1946) é pintor, escultor, desenhista, gravador e professor e participou de quatro edições da Bienal de São Paulo. Sua obra baseia-se no contraponto entre o estático e o dinâmico, entre o racional e o emocional, com prevalência de traços gestuais. Sua obra na Estação Largo Treze representa um pórtico que paira sobre ambas as plataformas. Nela também está representado o skyline da cidade de São Paulo e um pássaro em voo. O artista quis que os usuários tivessem a impressão de estar entrando e saindo da própria cidade. Salvador ainda tem outra obra sua, “Voo de Xangô”, exposta na Estação Jardim São Paulo, localizada no norte da Linha 1-Azul do Metrô.
Democratizar o acesso à arte brasileira através de um acervo público e representativo desta, comenta Renan Andrade, coordenador de ações culturais no Metrô de São Paulo, é o principal objetivo do Arte no Metrô. Tendo como público principal os passageiros cotidianos do metrô, a ação também busca incentivar o uso do transporte público através da arte.
Andrade reflete, vale ressaltar, sobre a significância da ocupação de espaços públicos com obras de arte e, ainda mais, da presença destas obras no cotidiano dos usuários do serviço metroviário. Ressignificar o trajeto cotidiano, humanizar o deslocamento de quem depende e também usufrui dos serviços de mobilidade urbana. Dia-a-dia, os usuários do metrô dividem seus caminhos com obras de artistas como Alex Flemming e Tomie Ohtake. Muitos dos artistas que têm suas obras expostas pelas estações do metrô compartilham do sentimento ou atribuíram em sua carreira a importância de ocupar e preencher espaços públicos com arte.
Além do acervo fixo, o Metrô de São Paulo organiza e recebe, com certa frequência, exposições temporárias espalhadas por suas estações. Com mais de 5 milhões de usuários diários, de certa forma, é possível dizer que o acervo do Metrô de São Paulo é um dos mais visitados da cidade.
Matheus Paiva é produtor cultural e internacionalista, formado pela Universidade de São Paulo.
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2 Comments
Boa matéria
Indo a São Paulo vou buscar vê-las
Amei a matéria. Algumas obras nunca vi, apesar de ir regularmente a São Paulo.
Vou procurar ir com tempo para visitar as estações em que não costumo passar para ver essas obras. E que venham mais obras. Arte é essencial no nosso cotidiano!