A Artsoul convidou a pintora Adriana Bergamo para nos contar sobre seu processo criativo. A artista nasceu com Síndrome de Down e estudou na Escola especial ADID- Associação para Desenvolvimento Integral do Down. É apaixonada por pintura e foi no uso da espátula que encontrou sua identidade. As cores e camadas de tinta são os elementos mais importantes para a composição das suas telas. Leia entrevista na íntegra!
Artsoul – Como e quando você descobriu seu talento na arte?
Adriana Bergamo – Nasci em Campinas e moro em Sorocaba agora há 13 anos. Eu comecei a desenvolver arte com 14 anos e iniciei na pintura já na Escola Especial ADID que eu frequentava, inclusive participando de concursos na escola. Comecei pintando cenas do meu cotidiano, como animais, flores, cidades, monumentos. Em 2016 participei do concurso da APAE e fiquei em primeiro lugar.
Artsoul: Vimos que você aprecia muito a linguagem musical. Como ela participa do seu trabalho e do seu processo criativo?
Adriana Bergamo – Eu sou apaixonada por música! É mais um hobby no meu dia a dia, que me inspira e me deixa feliz, mas quando pinto, gosto de silêncio e de tranquilidade.
Artsoul: Quais artistas são as suas referências, inspirações?
Adriana Bergamo – A minha avó é prima do Candido Portinari, então tenho parentesco com esse grande artista. Já fiz visitas à casa dele em Brodowski. O trabalho dele me inspira muito! Foi daí que comecei a me aproximar da pintura ao observar as cores e a espessura do desenho. Outro artista que aprecio é o Claude Monet. Já fiz algumas releituras dos trabalhos dele, são paisagens bem livres e em espaços abertos, eu gosto muito!
Artsoul: Quais foram os principais desafios que você vivenciou ao longo de sua carreira?
Adriana Bergamo – Eu trabalho junto ao um professor, que esboça a base dos desenhos e eu aplico as tintas. Esse pode ser considerado um desafio, a precisão do desenho é algo que ainda está em desenvolvimento, acho uma tarefa bastante delicada e eu tenho mais interesse no trato com as tintas.
Artsoul: Pensando na sua primeira pintura, quais foram as mudanças de linguagem que experimentou até chegar ao mais recente trabalho?
Adriana Bergamo – Comecei usando pincéis e depois passei a experimentar com espátulas. Vi que elas são muito mais adequadas para o estilo que eu gosto, quando as camadas de tinta ficam bem aparentes. O pincel precisa de bastante delicadeza no traço, a espátula me permite maior velocidade. Essa é uma característica minha, eu pinto com bastante rapidez as minhas telas.
Artsoul: Já experimentou outras linguagens visuais além da pintura, como a escultura?
Adriana Bergamo – Na arte plástica eu desenvolvi mais a pintura, meu objeto sempre foi a tinta, então não me dediquei a outras linguagens. Mas recentemente eu estou desenvolvendo meu conhecimento na confeitaria, há dois anos e meio, são ramos bem diferentes, mas requer um olhar aguçado com os ingredientes como o trato com as tintas.
Artsoul: Quais indicações você daria para um artista que está começando? Poderia nos indicar uma obra de arte que todo mundo deveria conhecer e que você gosta muito?
Adriana Bergamo – A pintura é uma prática que requer alma. Eu pinto com alma, me solto muito, me jogo com o coração. É como se estivesse voando, flutuando… Esqueço tudo o que acontece ao meu redor. Então eu indico, para quem está começando, que se jogue! Aproveite e se deixe levar pelas cores e pela beleza da pintura!
Entrevista concedida em abril/2022 por telefone
Victoria Louise é jornalista cultural, formada em Crítica e Curadoria e Gestão Cultural pela PUC-SP.
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