Concreto e Neoconcreto, também conhecidos por Concretismo e neoconcretismo são dois movimentos determinantes para a construção da arte contemporânea no nosso país.
Foram manifestações artísticas bem definidas e encabeçadas por artistas engajados em desenvolver suas propostas, para as quais foram escritos manifestos que apresentam as novas maneiras de fazer arte.
Como os nomes já sugerem, o concretismo e o neoconcretismo estão vinculados e devem ser analisados dentro da sua interrelação.
O concretismo foi iniciado com a exposição Ruptura no Museu de Arte Moderna de São Paulo em 1952 e com o lançamento do Manifesto Concretista elaborado pelo poeta Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos.
Na poesia, abandonam a dinâmica discursiva e sua sequência monótona de versos e a defendem enquanto forma. Entendem a palavra não como simples meio para atingir uma significação poética, mas para além disso, a palavra é elemento visual, é objeto em si, é materialidade no espaço, o que faz com que sua presença seja palpável. Se torna um organismo independente. Os poetas concretos trabalham com o espaço enquanto agente estrutural e comunicam através da própria estrutura do poema.
Na arte plástica, artistas trazem uma racionalidade científica pra pintura. Sustentam a ideia de que não há nada mais concreto que uma linha, um ponto, uma cor e formas geométricas. Trabalham nessa linha de construir suas pinturas a partir de formas sólidas e palpáveis como em Estrutura Plástica de Waldemar Cordeiro.
O movimento neoconcreto surge logo após as manifestações concretas para tomar outra direção, embora seja diretamente relacionado à proposta concretista. Usam o prefixo “neo” por trazerem uma certa evolução ao pensamento concreto.
Artistas como Lygia Clark, Lygia Pape, Ferreira Gullar e Amilcar de Castro elaboraram juntos o Manifesto Neoconcreto e o fizeram por entender no movimento anterior uma “exacerbação racionalista”, expressão que usam no documento para demonstrar que o racionalismo geométrico foi levado ao limite pelos artistas concretistas, retirando da arte qualquer expressão sentimental ou afetiva.
A intenção dos neoconcretistas, porém, não é negar a geometria ou a racionalidade, mas usá-la no limite do seu potencial artístico. Os artistas trabalham aqui, diferente do movimento anterior, com a intenção de não retirar da arte todo o seu sentido lírico e poético. Não há interesse pela geometria por sua frieza, mas por ser possível desenvolver a sensibilidade a partir dela. É o que se vê nos Bichos da artista Lygia Clark. São estruturas metálicas com algumas dobradiças cuja função é possibilitar que a estrutura adquira diferentes formas. A artista, que propunha desmistificar a figura do artista sugerindo ao público participar da coautoria dos trabalhos, faz aqui a concretização das suas ideias. O público manipula a obra e, o bicho, como um organismo vivo, responde aos estímulos de seus toques ao não ser completamente moldável e nem sempre aceitar as intervenções do participante.
Na poesia, os artistas buscam trabalhar o espaço de forma a interagir com o leitor. Diferente do concretismo que trazia uma estrutura de significação pronta, a poesia neoconcreta transforma o espaço físico em tempo poético. Assim surgiram os livros-poema do Ferreira Gullar, nos quais o ato de virar a página era elementar para a estrutura poética. O poema não se completa sem a ação do leitor.
A arte concreta, conhecida por se desenvolver em São Paulo, vem como um movimento pós modernista, não mais antropofágico e nacionalista como o modernismo de 1922, o concretismo é uma maneira de repensar a própria arte e exaltar os elementos crus. O neoconcretismo, conhecido por se desenvolver no Rio de Janeiro, surge dentro dessa proposta, dando um passo adiante, superando o objetivismo racionalista do movimento paulista, conseguindo cumprir seu objetivo na interação com o público.
Essa tomada de posição frente ao participante, defesa também de artistas da arte cinética, vem para influenciar toda a arte contemporânea que se desenvolve a seguir.
Victoria Louise é crítica e produtora cultural, formada em Crítica e Curadoria e Gestão Cultural pela PUC-SP. É fotógrafa independente e colunista da Artsoul.
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