Arte povera. Já conhece? Antes de oferecer qualquer definição, vamos conhecer algumas obras de artistas deste movimento e observar importantes aspectos para entender sua proposta.
Michelangelo Pistoletto, Jannis Kounellis e Pino Pascali são alguns dos fundadores do movimento da arte povera. É evidente nas imagens que não se trata de trabalhos tradicionais de pintura e escultura. Os materiais usados nos trabalhos são diferentes, mais próximos de elementos que nos deparamos no dia a dia; as obras são construídas a partir deles.
Em Walking Sculpture, Michelangelo Pistoletto traz uma esfera coberta com pedaços de jornal com notícias sobre os eventos da Itália na década de 60. A escultura é móvel e interativa, na qual o participante se envolve e as notícias circulam o ambiente através da mobilidade da obra.
Em Untitled, de Jannis Kounellis, há uma composição de sacos de linho dispostos no chão com grãos como feijão, lentilha, milho, ervilha e café alinhados à parede. Ao entrar numa galeria de arte e se deparar com esse tipo de material, a estranheza é imediata. E o objetivo está muito próximo disso. Trazer objetos cotidianos para um espaço expositivo nos obriga a repensar nossa própria vida e como é o seu envolvimento com relação à arte.
Em Trap, o artista Pino Pascali constrói uma espécie de armadilha feita de palha de aço. A estrutura se assemelha a emboscadas feitas para caça de animais. Aqui, um único material muito simples como palha de aço, dá espaço à perspectiva poética de construção da obra.
Agora, vamos entender as motivações para a realizações dessas criações.
A arte povera teve início na Itália de 1960. Era um período no qual a pop art, o minimalismo, abstracionismo e outros movimentos ganharam força e espaço na Europa e Estados Unidos.
Dentro disso, os artistas italianos percebem uma mecanização do sistema de arte, no qual os artistas não têm liberdade de criar e se tornam reféns de materiais e suportes tradicionais e motivos autorreferenciais da arte visual para criar suas obras.
O caráter que a arte povera adquire, então, é o de trazer a autonomia de criação para o artista contemporâneo. É uma tomada de posição contrária a todo sistema cultural e social que direciona a perspectiva do artista a criar o que se encaixa dentro do esperado. Não há uma frente agressiva a esse sistema, mas há uma intenção de saída desse sistema, a fim de criar um caminho à parte.
É daí que se desenvolve o termo “povera”, que significa “pobre”. Não se deve entender o termo a partir da conotação econômica, mas como uma ausência de abundância desnecessária e que distancia o homem de sua essência como ser existente no mundo. É sobre recusar tudo que norteia o nosso mundo e não é necessário à essência humana. A riqueza a qual se contrapõe é a de um sistema artístico complexo composto por muitos instrumentos e regências, para realizar um retorno à uma pesquisa artística simples na qual se conectam o artista e sua ideia enquanto ser autônomo e integrante palpável da sociedade.
O termo foi definido por Germano Celant, crítico e curador italiano, que reuniu 12 artistas que compartilhavam destes princípios para montar a exposição Arte Povera – Im Spazio. Sobre este trabalho, lançou o manifesto Arte Povera – Notas sobre uma guerrilha, veiculada pela revista Flash Art em dezembro de 1967. Ali, defende todos os princípios dessa nova proposta e menciona os artistas e a importância de suas proposições.
Victoria Louise é crítica e produtora cultural, formada em Crítica e Curadoria e Gestão Cultural pela PUC-SP. É fotógrafa independente e colunista da Artsoul.
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