Em decorrência da propagação do COVID-19 (o corona vírus) em território nacional no mês de março, governos dos estados brasileiros foram, simultaneamente, anunciando medidas com intuito de reduzir o avanço do contágio. Evitar a formação de aglomerações foi a primeira medida tomada por secretarias de cada estado, sendo museus e instituições culturais os primeiros espaços fechados para o público, seguidos por galerias e centros culturais.
Em um primeiro momento estas instituições focaram seus esforços em oferecer ao público uma programação digital através de suas redes sociais. Setores como o educativo, orientação de público e comunicação se uniram para apresentar diariamente conteúdos sobre artistas e obras que compõem os acervos. A maioria das galerias nacionais convidou artistas para compartilharem suas rotinas de produção durante a quarentena, além de disponibilizar entrevistas com profissionais de diversas áreas da arte, assim como livros e publicações para download gratuito.
A Sé Galeria está compartilhando a produção de afrescos de Edu de Barros em seu espaço físico em São Paulo. O artista carioca começou a pintar os afrescos no mês de março, e foi impedido de retornar ao Rio de Janeiro por causa da quarentena. “Cropped”, sua primeira individual em São Paulo, com curadoria de Clarissa Diniz, seria aberta ao público no final de março, mas teve seu processo de desenvolvimento estendido, e agora pode ser acompanhado ao vivo em seu site oficial.
O mundo da arte teve seu calendário paralisado, de exposições e cursos em espaços independentes, à 34ª Bienal de São Paulo, que teria sua programação principal inaugurada em agosto, sendo adiada para outubro. Todavia, alguns agentes culturais não se limitaram a criar uma programação digital para seu público, e estão agindo de forma efetiva no combate a esta crise de saúde pública que afeta o mundo.
Em São Paulo, galerias e artistas independentes estão somando esforços com a União SP, iniciativa privada criada em março, que tem por objetivo dar assistência à população mais afetada na crise gerada pelo corona vírus e a quarentena. A primeira ação desta frente é a arrecadação de recursos para compra e distribuição de cestas básicas, agindo em parceria com ONGs, prefeituras e o Governo do Estado.
A galeria Nara Roesler, que representa grandes nomes da arte contemporânea, doou 27 obras de seu acervo para um leilão, no qual todo lucro será revertido para arrecadação da União SP. Para a ação, foram selecionados trabalhos de Marcos Chaves, Lucia Koch, Vik Muniz, Julio Le Parc, Artur Lescher, Paulo Bruscky, Berna Reale, entre outros.
Dedicada à fotografia, a galeria Mario Cohen também reuniu obras para arrecadação do fundo emergencial da União SP. Os artistas que cederam seus trabalhos, segundo a galeria em seu instagram, foram Sebastião Salgado, Bob Wolfenson, Cristiano Mascaro, Elaine Pessoa, Ellen Von Unwerth, Michael O’Neill, Paulo Vainer e Robério Braga.
A galeria Casa Jacarepaguá, em parceria com a galeria Crua, criou a campanha Spray do Bem. Nesta ação, mais de 20 artistas foram convidados para personalizarem latas de tinta spray, as quais serão vendidas pelo valor de 750 reais. Em seu instagram, a galeria afirmou que para cada lata vendida, parte do valor será revertido na compra de uma cesta básica e um kit de higiene, que serão doados para pessoas em situação de rua.
Diante da alta demanda de itens básicos nos hospitais, o Museu do Ipiranga, o Museu de Zoologia e o IEB – Instituto de Estudos Brasileiros – todos ligados à Universidade de São Paulo – anunciaram uma doação de materiais essenciais como luvas, máscaras, álcool, e outros itens dos setores de restauro e conservação. A doação foi entregue ao Hospital Universitário e ao Hospital Tatuapé. Seguindo o exemplo destes órgãos paulistanos, o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) promoveu em suas redes sociais uma campanha estimulando museus de todo país a fazerem o mesmo com seus materiais disponíveis.
Já no Rio de Janeiro, o Museu de Arte do Rio utilizou suas redes sociais para divulgar as iniciativas Casa Amarela Providência e ECOnceição. Operando a segunda fase de campanha, os projetos desejam atender 400 famílias no Morro da Providência, Morro do Pinto e Morro da Conceição (zona portuária do Rio de Janeiro) através da doação de cestas básicas, dando ênfase aos casos mais críticos, e também pretendem entregar 30 cestas e kits de higienização para recicladores do Jardim Gramacho.
Uma situação como esta que enfrentamos demonstra que, apesar de sua fragilidade e instabilidade, o mundo da arte segue achando formas de sobreviver e fortalecer o olhar para o outro. Não se limitando a experiência estética, agora este meio mostra sua potência em ações diretas. Alguns acreditam que a arte salva a alma. Sabemos neste momento que alguns serão mais afetados do que os outros, e o senso de comunidade é o caminho para que o cenário pós crise seja o mais potente, e para que sigamos salvando não só almas, mas efetivamente, vidas.
Você pode contribuir com diversas ações mencionadas no texto acessando os seguintes links:
Galeria Nara Roesler : https://nararoesler.art/exhibitions/177/
Casa Amarela Providência: http://www.canartchangetheworld.net/casaamarela/doacoes
Processo criativo compartilhado de Edu de Barros: https://www.edudebarros.com/
Nas redes sociais da ArtSoul você pode acompanhar todo conteúdo compartilhado por galerias e instituições nessa quarentena.
Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.
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