Atividade de Ateliê aberto, no programa Pivô Pesquisa
Compreenda o interesse contemporâneo por experiências de intercâmbio, pesquisa e produção, promovidas durante as residências artísticas no Brasil.
As residências têm ocupado espaço de destaque no atual panorama da produção artística. É comum que provoquem reflexões a respeito do caráter itinerante do artista contemporâneo e sobre a transformação das fronteiras da arte, não apenas no que se refere a meios e suportes, mas também em um novo sentido, propriamente geográfico. Mas afinal, como podemos compreender o interesse crescente dos artistas por estes espaços e o papel que eles têm desempenhado para os processos da arte contemporânea?
A diversidade dos projetos de residência começa pelo tempo duração, que pode ser de apenas algumas semanas, ou se estender por vários meses. Eles podem acontecer em grandes centros urbanos, ou em espaços em que é proposto o contato próximo com a paisagem natural e com comunidades locais. Algumas residências oferecem bolsas de permanência e são procuradas por artistas de diversas partes do mundo, em distintos momentos de sua trajetória, sendo eles iniciantes, ou já reconhecidos.
Em geral, disponibilizam espaços de trabalho e ateliês, onde os artistas têm a chance de desenvolver seus projetos individuais. No entanto, os objetivos desses programas são muito diversificados. O Pivô pesquisa, por exemplo – projeto que ocupa um dos andares do edifício Copan, em São Paulo – prevê momentos abertos, para além do acompanhamento de projetos e práticas de ateliê. Nestas propostas, que incluem conversas, workshops e exposições, os artistas ampliam sua interlocução com o público em geral. São criados, assim, encontros em que o processo de criação é discutido e ganha visibilidade.
Promovidas, na maior parte das vezes, por instituições independentes, elas contribuem para situar a produção dos artistas participantes em novas relações. Com frequência, possibilitam um ambiente de trocas e experimentações coletivas entre artistas, bem como o contato com críticos, pesquisadores, galeristas e curadores.
Estas experiências também podem representar momentos de imersão em novos territórios, decisivos para o desenvolvimento de processos de pesquisa já existentes, ou para a abertura de novos. De modo amplo, têm sido reconhecidas como espaços que favorecem certos aspectos da produção contemporânea. Entre eles, a criação de redes e a construção de relações entre diferentes contextos culturais, facilitadas pela própria condição de deslocamento.
A residência Capacete, sediada no Rio de Janeiro, é uma das mais antigas ainda em atividade no Brasil e um dos programas que encontra grande projeção no cenário internacional. Em São Paulo, além do projeto Pivô pesquisa, as mais conhecidas são: Red Bull Station, FAAP, Casa Tomada e Casa do Povo.
Longe do ambiente urbano, destaca-se a Kaaysá Art Residency, localizada em Boiçucanga, uma região de Mata Atlântica preservada no litoral paulista. A Kaaysá conta com a presença de comunidades indígenas, de pescadores e caiçaras, em seu entorno próximo. Os vínculos com essas comunidades tradicionais são incluídos no programa, através de vivências propostas aos artistas e projetos desenvolvidos pelos participantes. Além da relação com o território, suas residências também são marcadas pelo encontro fértil entre arte e literatura, reunindo artistas visuais, poetas e escritores.
Atividades desenvolvidas durante o programa de residências Kaaysá.
A partir deste ano, a Kaaysá estabelece uma parceria com o projeto itinerante da Galeria TATO. Em entrevista concedida à plataforma Artsoul, Tato DiLascio, que coordena a nova iniciativa, comenta as principais características do programa que será oferecido à um grupo de dez artistas, em outubro de 2019: “Os residentes poderão, além de estar em contato com o trabalho de outros artistas, vivenciar um novo contexto e permitir-se refletir sobre a própria produção, com o acompanhamento, durante uma semana, de um curador e do meu trabalho como consultor de mercado”. A residência resultará também em uma exposição coletiva, que pretende apresentar ao público o processo dos participantes .
A diversidade das experiências promovidas durante estes programas, e a busca por um contato próximo com a natureza, também está ligada à multiplicação dessas iniciativas, para além do eixo Rio – São Paulo, como dão exemplo, o Instituto Sacatar, na Bahia e LabVerde, no Amazonas.
Ao pensar o interesse dos artistas pelas residências artísticas, localizando a ampliação do número destes programas como um fenômeno dos últimos dez anos, o galerista Tato DiLascio, comenta: “Para mim, é visível um movimento, em especial vindo dos artistas, pela ampliação das fronteiras que, querendo ou não, norteiam o trabalho artístico. A produção contemporânea espera esse tipo de abertura, em uma sociedade que, cada vez mais, preza pelo multiculturalismo, pela dialética e pela assimilação de novas realidades.”.
Anna Luísa Veliago Costa é Mestre pelo Programa de Pós-graduação Interunidades em Estética e História da Arte da Universidade de São Paulo, é graduada em História pela mesma universidade, com intercâmbio acadêmico na Universidade Sorbonne-Paris IV.
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1 Comment
belo projecto que acredito que tem muito a dar pra os artistas