A experimentação é uma virtude do circuito artístico contemporâneo. É através dela que se encontram as ideias que fogem à regra e criam um novo cenário, sendo possível transformar as articulações do mercado de arte. Os espaços independentes são a constatação física de que as experimentações aprofundam o debate sobre arte e cultura por estarem atentos às discussões atuais e por promoverem eventos extremamente pontuais. Já abordamos iniciativas que exploram a arte em novas plataformas como o AAREA.CO e o Olhão e espaços independentes como o Pivo e o Auroras. Desta vez, a Artsoul buscou detalhes sobre a mais nova proposta do circuito de São Paulo: Espaço C.A.M.A no bairro Jardim Paulista.
Conversamos com Felipe Pena, um dos idealizadores do Espaço Colaborativo Entre Agentes do Mercado de Arte – Espaço C.A.M.A. para entender o que motivou a idealização e o que podemos esperar de atividades para os próximos anos.
O Espaço tem seis idealizadores que atualmente organizam a programação do espaço juntos e as respostas a esta entrevista foram pensadas por todos.
Nos conte sobre a concepção do Espaço C.A.M.A
Alguns dos maiores desafios de quem se propõe a abrir uma galeria de arte são a constante competição e a dificuldade de interlocução. Somos um grupo de diretores de espaços que já se admiravam e tinham vontade de criar algo em comum. No final de 2019 começamos nossa conversa através de encontros virtuais semanais, participando Ana Elisa Cohen (Cavalo), João Azinheiro (Kubikgallery), Rodrigo Mitre (Periscópio), Adriano Casanova (CASANOVA), Felipe R Pena (Cavalo) e Julia Morelli (55SP).
A princípio, nossa ideia era realizar um evento físico no primeiro semestre de 2020, mas com o anúncio da pandemia tivemos que deixar de lado esses planos. Continuamos a nos reunir semanalmente e assim aprofundar nossa amizade e afinidades. Essas conversas foram fundamentais para manter a sanidade e motivação profissional durante nossas quarentenas.
Como foi a escolha da Vila Modernista como lugar físico para o Espaço C.A.M.A?
Começamos a conversar sobre dividirmos um espaço físico baseado em São Paulo no segundo semestre de 2020. Embora os seis participantes estivessem separados em 5 cidades diferentes, nos pareceu natural ter nossa sede na maior cidade da América Latina.
A Vila Modernista é muito prazerosa e já faz parte de um circuito de arte, assim que soubemos da disponibilidade da casa, decidimos que seria nosso local.
É interessante notar como o projeto tem olhares de diversos profissionais, como foi essa união e como ela reflete no trabalho desenvolvido no espaço?
É um exercício instigante administrar um espaço compartilhado por projetos com identidades diferentes. Tivemos que estabelecer um modelo de negócios que fosse justo e funcionasse para todos, priorizando as conquistas coletivas. Acreditamos que essa multiplicidade de ideias contribui para um programa mais complexo e que atenda diversos públicos.
Percebo, em todas as descrições, que se pretendeu criar um espaço múltiplo. Gostaria de entender como surgiu a ideia para esse projeto e como vocês definiriam esse Espaço? Qual a missão?
Embora haja muitas colaborações temporárias no mercado de arte contemporânea, pouco vemos parcerias duradouras que compartilham o mesmo espaço e incentivam a troca de informações e experiências. A nossa plataforma digital, aberta a conteúdos externos, foi a primeira ação concreta para aprofundar nossos consensos e buscar diálogo com outros agentes. Ainda estamos tentando entender todas as possibilidades do espaço, mas certamente gostaríamos de estender as nossas relações além das atividades de uma galeria tradicional. Queremos convidar espaços externos para fazer mais exposições em conjunto, debates com diferentes categorias e mais. Esse espaço será o nosso playground.
Como funciona o financiamento do espaço? Pretendem trabalhar com a comercialização de obras de arte?
Queremos que o Espaço C.A.M.A seja um local de encontro não só de obras e visitantes, mas também de diferentes modelos e organizações de trabalho. Criamos um fundo coletivo para manutenção das nossas atividades. A comercialização de obras é a principal fonte de financiamento do nosso e de muitos outros espaços, mas entendemos que deve existir para apoiar práticas de arte inovadoras.
Até agora a atuação tem sido majoritariamente online. O que vocês esperam de 2021 com relação à programação? O que ganhará destaque?
É especialmente difícil prever o que será possível em 2021, mas além de uma exposição coletiva inaugural com artistas nacionais e internacionais de todos os espaços, estamos planejando uma série de individuais inéditas em São Paulo, seja das galerias fundadoras ou de espaços convidados, além de lançamento de livros, debates públicos, encontros entre artistas e curadores, performances e projeções de vídeos.
Qual a origem dos eventos? Serão propostos pelos idealizadores ou o espaço aceita projetos de proponentes externos?
Estamos organizando uma agenda de eventos físicos e virtuais, levando em conta as limitações da pandemia. Estamos abertos a propostas que estabeleçam diálogos entre agentes externos e as galerias participantes. Convidaremos e teremos editais para projetos, mas ainda estamos discutindo qual a melhor maneira para incorporar essas atividades.
A partir desse novo projeto, se consolida a colaboração entre os profissionais do setor. Não só uma colaboração para fins temporários, mas uma colaboração que se entende sem fronteiras evidentes e que exalta a multidisciplinaridade e incentiva as flutuações entre os formatos de arte, de produção e de diferentes linguagens.
Victoria Louise é redatora da ArtSoul formada pela PUC-SP em Arte: História, Crítica e Curadoria e Gestão Cultural
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