A partir de 23 de novembro de 2024, o Museu A CASA do Objeto Brasileiro abre suas portas para uma exposição que celebra a criatividade e a originalidade do design nacional, apresentando os selecionados para a 9ª edição do Prêmio Objeto Brasileiro. Reconhecida como uma iniciativa de destaque na valorização do design e do artesanato no país, a premiação bienal contempla três categorias: Produção Autoral, Produção Coletiva e Ação Socioambiental. Entre as 324 inscrições recebidas, 20 foram selecionadas para a mostra. Mais do que uma oportunidade de explorar o design brasileiro contemporâneo, a exposição reflete a essência do prêmio: conectar tradição e inovação, destacando narrativas regionais e o impacto social e econômico do artesanato. Para saber mais sobre o prêmio e a exposição, conversamos com Renata Mellão, diretora do Museu A CASA do Objeto Brasileiro, que falou sobre o histórico do evento, a edição atual e preparou dicas para quem planeja visitar a mostra.
O Prêmio Objeto Brasileiro foi criado em 2008 como parte das comemorações do décimo aniversário do Museu A CASA do Objeto Brasileiro. Em suas nove edições, a premiação tem sido um palco para o reconhecimento de designers consagrados e a descoberta de novos talentos. Nomes como Marcelo Rosenbaum já foram agraciados pelo prêmio, tendo se destacado em 2012 na categoria Ação Socioambiental com o instituto “A Gente Transforma”. O projeto liderado pelo designer trabalha com populações indígenas, ribeirinhas e quilombolas, promovendo a permanência em seus territórios, o reaproveitamento de materiais e iniciativas voltadas ao combate às mudanças climáticas.
Outros destaques incluem as designers Nao Yuasa e Roberta Sá Faustini, cujas criações integram a coleção de design da Artsoul. Nascida no Japão e criada em Minas Gerais, Nao conquistou o prêmio na categoria Produção Autoral em 2010, com um trabalho que combina arquitetura e joalheria, criando peças exclusivas para a casa a partir de materiais preciosos. Já Roberta recebeu Menção Honrosa na mesma categoria na sétima edição, utilizando materiais descartados, como papelão e embalagens plásticas, para transformar o ordinário em peças sofisticadas e únicas.
Esses exemplos refletem como o Prêmio Objeto Brasileiro materializa a missão do Museu A CASA: valorizar a diversidade da produção autoral. “Entendemos que é também nossa responsabilidade criar um espaço de reconhecimento, revalorização e revitalização do trabalho artesanal. O prêmio se soma a uma série de iniciativas que já realizamos para contribuir com o artesanato brasileiro”, destaca Renata Mellão, fundadora do museu.
Trazer luz à diversidade do design e do artesanato brasileiro é um desafio que exige sensibilidade e atenção às singularidades culturais, estéticas e materiais de um país tão vasto. Nesse sentido, a seleção dos premiados busca ser ampla e representativa. “O prêmio é bastante democrático”, explica Renata. “É aberto para artesãos, designers, estudantes, artistas, cooperativas, associações e qualquer pessoa voltada à produção de objetos que integrem técnicas artesanais ou semi-artesanais.”
O processo não apenas valoriza características regionais, mas também considera como essas produções dialogam em um contexto global. Segundo Renata, o maior desafio é fazer com que o prêmio represente, de fato, a produção contemporânea brasileira. “Como o país é muito grande e tem comunidades e artesãos em todas as suas regiões, sempre temos a preocupação de garantir que todas as regiões estejam concorrendo, inclusive comunidades quilombolas e indígenas, que possuem uma produção riquíssima, mas muitas vezes não recebem o devido reconhecimento”, afirma a diretora.
A 9ª edição do Prêmio Objeto Brasileiro exemplifica essa pluralidade ao reunir obras que, embora distintas em abordagem, compartilham um profundo enraizamento nas tradições locais. A coleção A Casa do Ceo, do Estúdio Veste, apresenta um olhar intimista e nostálgico, inspirando-se nas memórias familiares e nos cenários da casa de seus antepassados. Suas estampas coloridas e detalhadas equilibram criatividade e saudosismo, criando um vínculo emocional com o observador.
Em contrapartida, a Cuia-de-Cordas, de Andrea Bandoni, volta seu olhar para o exterior, como quem observa a natureza pela janela. Seu trabalho reinterpreta a técnica tradicional indígena de transformar o ciclo biológico do meio ambiente em objetos funcionais. Simples e elegante, a peça carrega em suas marcas a sabedoria ancestral brasileira, conectando biodiversidade e terra às narrativas contemporâneas do design.
Para garantir uma avaliação que faça jus à diversidade apresentada pelo Prêmio Objeto Brasileiro, a escolha de um júri qualificado é essencial. A organização busca profissionais com sólida conexão com o design e o artesanato brasileiros, aliando experiência prática e conhecimento acadêmico. Esse equilíbrio permite uma análise que considera diversos aspectos no momento da seleção. “Na escolha do júri, sempre consideramos a participação de profissionais experientes e reconhecidos nos campos do design e do artesanato, além de representantes da academia que possam analisar fatores importantes, como questões históricas e antropológicas”, explica Renata.
Neste ano, o júri reúne três profissionais. Alexandre Salles, designer do Estúdio Tarimba e coordenador dos cursos de Design do Instituto Europeo di Design – IED São Paulo, traz uma perspectiva técnica e contemporânea. Maria Izabel Ribeiro, pesquisadora e curadora com passagens pela Bienal de Arte de São Paulo, MAC USP e Museu de Arte Brasileira da FAAP, oferece um olhar profundamente enraizado na história e na curadoria artística. Já Renata Mendes, consultora de design voltada para o impacto social, contribui com sua experiência de trabalho junto a diversas comunidades artesanais pelo Brasil, enriquecendo a avaliação com uma sensibilidade às questões sociais e regionais.
A partir dessa composição de visões, os mais de 300 objetos inscritos foram cuidadosamente analisados, resultando nos 20 que agora compõem a exposição.
A diretora Renata Mellão destaca como o prêmio oferece uma oportunidade única de acompanhar os movimentos do design brasileiro ao longo do tempo. “Nestes 16 anos, percebemos que o design tem olhado cada vez mais para influências genuinamente brasileiras. Embora seja importante acompanhar o que acontece no mundo, o Brasil, com sua diversidade de materiais, técnicas e histórias, é capaz de produzir peças carregadas de brasilidade. Esse movimento fortalece nossas tradições e identidade”, afirma.
Essa possibilidade de analisar o momento atual do design nacional consolida a exposição do Prêmio Objeto Brasileiro como um destino imperdível para os apaixonados por design e artesanato.
Nesse sentido, a diretora compartilha orientações para quem planeja visitar a mostra. Além dos objetos clássicos, como cadeiras e luminárias, ela recomenda explorar itens decorativos e acessórios de moda. Um exemplo é a coleção Marisquerias, criada pelo Grupo Mulheres Quilombolas de São Lourenço, em Pernambuco. Inspiradas pelas conchas e sementes da região, as peças mesclam crochê e outras técnicas manuais, valorizando os materiais encontrados no ambiente. Outra dica é prestar atenção às informações sobre cada produtor. “Além dos objetos, as legendas trazem um breve resumo sobre cada criador ou grupo, permitindo conhecer seu contexto, processo de criação e os materiais utilizados”, explica Renata.
Essa imersão ajuda a compreender o processo curatorial e como cada peça reflete os valores do prêmio e do museu. Por fim, Renata convida os visitantes a se abrirem para uma experiência única: “Embora seja apenas um pequeno recorte da nossa produção, recomendamos que o visitante venha disposto a fazer um passeio pelo Brasil por meio destes objetos.” Assim, a exposição do 9º Prêmio Objeto Brasileiro vai além de ser uma vitrine da produção atual; é uma oportunidade de aproximação com a cultura do país, resgatando raízes na ancestralidade e apontando para os futuros caminhos do design e do artesanato brasileiros.
Gostou desta matéria? Leia também:
Flávia Junqueira ambienta a nostalgia da infância no Centro Cultural Fiesp