Processos artísticos que envolvem grandes formatos possuem suas particularidades em relação à própria produção das obras e a disposição destas nos espaços. Particulares também são as possibilidades de experiências que esses trabalhos promovem ao serem colocados no mundo.
Convidamos dois artistas com produções muito distintas para conhecermos mais sobre esses processos e os desafios envolvidos no desenvolvimento de obras em grandes formatos.
O primeiro questionamento colocado foi em relação ao que se mostra mais atraente e vantajoso aos artistas no momento de elaborar projetos em grandes formatos. Os dois artistas comentam sobre a imersão que esse tipo de obra proporciona, tanto para o artista, como para o público. Sobre o processo, Rafael diz:
“Quando trabalho em escalas maiores do que eu, a materialização do gesto e a largura da linha me proporcionam um tipo de imersão, que evidenciam o movimento, a energia, o ritmo e o tempo. A fisicalidade é o meu principal instrumento. Quanto maior o formato, maior as possibilidades de interação entre os limites do meu corpo e os limites do suporte”.
A respeito da relação entre obra com o público e os espaços por ela ocupados, Adriana comenta:
“O atraente em grandes formatos é a relação mais direta com a obra, ela de fato se integra à escala da vida, permite que o espectador sem grande esforço, ou às vezes, de maneira inconsciente e natural, irrompa e se sinta participante. A obra protagoniza mais a vida familiar ou de uma instituição, se integra à narrativa, mas como é cheia de possíveis leituras, camadas, se torna capaz de oferecer interpretações diversas a cada olhar”.
A concepção de uma obra em grande escala implica também em desafios próprios que essas dimensões trazem aos artistas. A relação do tempo de execução das ideias é diferente quando comparamos com obras pequenas, por exemplo. Além disso, a distribuição de elementos em uma composição pode variar muito de acordo com as escalas da obra.
Ao comentar sobre os desafios de se pensar uma obra em grande escala, em especial para ambientes domiciliares, Adriana enfatiza:
“[…] o desafio é fazer a integração, seja harmoniosa ou contrastante com a escala real, é um trabalho onde a precisão perde para o ímpeto, e há uma liberdade maior, é mais natural”.
Percebemos nas obras e nas falas de cada artista como esses desafios exigem outras soluções. Rafael trabalha com a gestualidade e, em seu depoimento, destaca as principais diferenças entre processos com pequena e grande escala, começando pelo próprio material:
“A largura do pincel, o quanto é exigido do meu corpo, e o tempo de ação, são questões que demonstram as principais diferenças de trabalhos em pequena e grande escala. Carrego comigo a vontade de ampliar com menos. Uma única pincelada pode me revelar novas ideias e indicar algo a ser buscado. As possibilidades são infinitas entre ato e intenção, forma e letra”.
Por fim, Adriana reflete do momento em que uma obra é concebida até sair do ateliê para ocupar outros espaços:
“[…]O principal ponto é na escolha da escala da cena, quando se define o tamanho final de cada perspectiva. Daí na execução é ir se policiando o quanto se permite variações ou alguns estranhamentos que permito que aconteçam, como que uma prova de que busquei algo mais próximo a vida real e não a um modelo. Penso que a minha obra se encaixa num ambiente de maneira ativa, não entra lá e fica aguardando ser descoberta, é atrevida, como se chamasse quem passa por perto, isso me faz refletir sobre os detalhes capazes disso”.
Diogo Barros é curador e arte educador, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.
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