O panorama da arte ocidental da década de 1950, em especial nos Estados Unidos, foi marcado pela ascensão de diversas produções que respondiam às novas configurações sociais decorrentes do desenvolvimento industrial, ampliação dos meios de comunicação, e outros fenômenos da vida moderna.
A pop art surge na Inglaterra e, assim como o minimalismo e a arte conceitual, se opõe ao expressionismo abstrato, estilo vigente nos Estados Unidos pós-guerra entre as décadas de 1940-50, que valorizava a gestualidade, o inconsciente e a figura do artista sensível. Um exemplo direto desta crítica está em Big Painting VI de Roy Lichtenstein, no qual o artista representa a gestualidade da pincelada através de um desenho estruturado, satirizando a action painting, um método mais orgânico dos expressionistas locais.
O termo Pop Art começou a ser utilizado pelo crítico de arte inglês Lawrence Alloway, que dedicou grande parte de seus estudos a analisar a relações entre cultura de massa e diversas esferas da arte e sociedade.
Alloway fez parte do Grupo Independente (IG), ativo entre os anos de 1952 e 1955 no Instituto de Arte Contemporânea (ICA) em Londres. Entre os integrantes estavam Eduardo Paolozzi, Richard Hamilton, Tony del Renzio, William Turnbull, Nigel Henderson, John McHale, o crítico Banham, e os arquitetos Colin St John Wilson, e Alison e Peter Smithson. O grupo foi responsável por introduzir temas da cultura de massa nos debates intelectuais, incentivando as principais produções da conhecida pop art britânica. Além destes, outros britânicos se destacaram na pop art, como Peter Blake, David Hockney, Allen Jones, Peter Phillips, Patrick Caufield e Clive Barker.
A colagem Just what is it that makes today’s homes so different, so appealing? (1956) de Richard Hamilton é considerada um dos trabalhos precursores e mais emblemáticos da pop art, sendo um dos primeiros a questionar os padrões incorporados aos lares frente à expansão da cultura de massa.
Concomitantemente à produção britânica, artistas estadunidenses começavam a apreender e criticar os efeitos da cultura de massa no país onde um estilo de vida (american way of life) era promovido em propagandas, indústria cinematográfica (Hollywood), músicas, televisão, revistas, quadrinhos, e qualquer meio de comunicação. Os artistas mais notáveis desse cenário são Andy Warhol, Jasper Johns, Robert Rauschenberg, Claes Oldenburg, Tom Wesselmann, Roy Lichtenstein, James Rosenquist, George Segal e Ed Kienholz.
Com diferentes abordagens, estes artistas se inspiraram neste panorama para desenvolver suas poéticas, se apropriando de toda a linguagem visual saturada amplamente difundida na época.
Para formularem suas proposições, alguns artistas se apropriaram da lógica industrial, imitando suas práticas de produção. Andy Warhol, por exemplo, refletia o valor de imagens altamente reproduzidas, fossem estas icônicas, como a Mona Lisa e Marilyn Monroe, ou imagens banais, como os rótulos, replicando-as através de técnicas como pintura ou serigrafia.
O espaço de arte também era questionado. Um exemplo é Brillo Boxes (1964), na qual Warhol reforça os paralelos entre obra de arte e produto, ao empilhar uma série de caixas de madeira estampadas com serigrafia dentro de uma galeria, trazendo àquele espaço um aspecto de estoque de mercado.
No Brasil, artistas se aproximaram da pop art desde a década de 1960. Um exemplo de produção nacional que se apropriou desta corrente é a de Claudio Tozzi, artista paulistano. Tozzi produziu trabalhos em diversas linguagens, como, por exemplo, gravura, pintura, esculturas, instalações, murais e obras em espaços públicos. Se aproximando das grandes mídias, como jornais e histórias em quadrinhos, o artista abordava assuntos altamente repercutidos, como as explorações espaciais, assim como questões políticas, como a ditadura militar.
Outros nomes que destacam-se no Brasil são: Rubens Gerchman, Antonio Dias, Hélio Oiticica, Wesley Duke Lee, Nelson Leirner. Paralelos podem ser feitos entre a pop art e o tropicalismo, movimento brasileiro que atingiu seu ápice em 1967, e provocou um grande abalo às estruturas da música, artes visuais e cênicas, e poesia, questionando divisões entre cultura de massa e cultura erudita, articulando novas formas de participação pública. Neste momento os artistas direcionaram suas críticas à censura e outros efeitos da ditadura militar instaurada em 1964.
Dinâmicas de consumo se atualizam constantemente nas mais variadas áreas, incluindo as vertentes do entretenimento. Trabalhos contemporâneos como os de Alê Jordão, Daniel Melim e Jaca, evidenciam a pertinência da pop art e seus questionamentos dentro de uma sociedade de consumo imageticamente saturada.
Fontes
Pop Art
SHANES, Eric. Pop Art. Parkstone Press, New York, 2009.
Enciclopédia Itaú Cultural
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo367/arte-pop
Grupo Independente
https://www.tate.org.uk/art/art-terms/i/independent-group
Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.
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1 Comment
Matéria ótima! Parabéns pelo esforço de produzir um conteúdo tão bem feito! Dedicação total à arte 👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽