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O orgânico como inspiração

Publicado por Victoria Louise em 23/07/2025
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Cinco criações disponíveis na Artsoul que dialogam com a natureza

Em um momento em que a vida contemporânea é atravessada por linhas retas, interfaces digitais e rigores geométricos, as formas orgânicas ganham fôlego no campo do design. Em uma curadoria sensível, realizada a partir do acervo disponível na Artsoul, cinco peças foram reunidas sob um mesmo gesto: todas dialogam com a natureza — seja por referências figurativas, por suas formas sinuosas ou pelos materiais que evocam texturas do mundo natural. O ponto em comum entre elas é também simbólico: todas são assinadas por mulheres artistas, reforçando uma estética que não dissocia gesto, corpo e intuição.

A seleção apresenta obras que habitam esse espaço híbrido entre arte e design, funcionalidade e poética. São luminárias, esculturas e objetos decorativos que, ao serem observados, parecem devolver algo ao olhar: memória, silêncio, presença. E, como acontece com aquilo que é verdadeiramente orgânico, cada peça carrega a marca do irrepetível — seja na curvatura levemente irregular, na nuance de cor ou na singularidade de peças feitas à mão.

nautilus: refletir, de Kalina Juzwiak (Kaju)

Peça nautilus: refletir
Kalina Juzwiak (Kaju)

Inspirada pela forma espiralada do náutilo, a peça nautilus: refletir propõe uma metáfora visual potente: uma figura humana mergulhadora repousa no interior da concha, como se habitasse seus ciclos internos. Criada por Kalina Juzwiak — artista multimídia que atua sob o nome Kaju — a obra integra a série fractais: o universo em nós e explora, a partir de formas matematicamente harmônicas, a ideia de que o todo está contido na parte. Em cada um está contido o universo. Em sua superfície texturizada, moldada em plástico polilático (PLA), a escultura remete a um tempo meditativo, que se dilata.

A figura da mergulhadora é recorrente no trabalho da artista, como símbolo de um movimento contínuo de introspecção. Mais do que objeto decorativo, a peça se aproxima de uma pequena instalação poética. O náutilo é tratado aqui como espaço simbólico. O interior da concha em espiral se repete em um movimento de interiorização, de aprofundamento no universo da personagem e daqueles que contemplam a peça.

Luminária Mini Cogumelo Dourado, de Luiza De Biasi

Luminária Mini Cogumelo Dourado
Luiza De Biasi

Delicada e encantadora, a Luminária Mini Cogumelo Dourado se destaca pela sutileza de suas formas. A luminária por si só propõe um jogo de sentidos, inspirada nos cogumelos que brotam espontaneamente em ambientes úmidos e sombreados. A peça evoca mundos oníricos, quase de contos fantásticos. A artista por trás dessa criação é Luiza De Biasi, designer formada em desenho industrial e mestre pela Central Saint Martins, em Londres. Sua produção tem como eixo central o lúdico, o artesanal e o natural.

Ao transformar o cogumelo em luminária, Luiza estabelece um diálogo entre forma e função que ultrapassa o design. O cogumelo é comumente associado à transição, regeneração e sabedoria ancestral. Incorporá-lo como fonte de luz não é apenas uma escolha estética, mas também sensorial: a luz difusa que emana da peça provoca uma atmosfera de acolhimento e quietude. Produzida manualmente, cada luminária possui pequenas variações — assumidas não como imperfeições, mas como sinais daquilo que é feito à mão, com tempo e intenção.

Luminária Arpem, de Juliana Nagle

Luminária Arpem
Juliana Nagle/Arquivo Pessoal

Esculpida em cerâmica de alta temperatura, com base porosa e forma assimétrica, a Luminária Arpem é uma obra que testa os limites entre escultura e funcionalidade. Criada por Juliana Nagle, artista com formação em design de produto e prática ceramista desenvolvida a partir de 2015, a peça é resultado de uma pesquisa que une a liberdade do gesto à precisão do ofício.

Com influência de escultores modernistas como Barbara Hepworth e Brancusi, Juliana modela suas luminárias manualmente, sua relação com o barro se concentra em formas esculturais biomórficas. Na Arpem, a base remete a fósseis, minerais ou estruturas naturais erodidas pelo tempo. A cúpula em tecido, por sua vez, suaviza a materialidade da cerâmica. A iluminação projetada emitida pela peça é, por sua vez, parte de um jogo em si. Entre o visível de toda a luminária e sua lâmpada oculta, entre a materialidade da peça e o gesto da artista ao mesmo tempo visível e invisível da artista.

Arandela Nº01 e Flora, de Isadora Mourão

Arandela – N•01
Flora

A cerâmica como extensão do corpo e do gesto encontra lugar na obra de Isadora Mourão, artista mineira com formação em arquitetura e uma relação sensível com a modelagem manual. Em sua Arandela Nº01, a artista explora o potencial escultórico da luminária de parede, criando uma peça que transforma a superfície onde está instalada em ponto de atração visual e sensorial.

Com curvas suaves e acabamento acetinado, a arandela remete a formas marinhas, especialmente conchas. O uso da cerâmica de alta temperatura é acompanhado de um cuidado com a luz, aproveitando a delicadeza da iluminação difusa. A peça se propõe a ser não apenas um objeto de design, mas um dispositivo de ambiência. A concha, por vezes ligada à simbologias de proteção, fertilidade e conexão com o feminino, tem na obra de Isadora uma expressão tanto ornamental quanto estrutural. Mesmo quando desligada, a arandela mantém sua força escultórica, reafirmando o valor estético do design como linguagem autônoma.

Se na Arandela Nº01 há um direcionamento mais contido da forma, Flora permite à artista uma experimentação mais livre. Moldada com a técnica de barbotina — processo que permite maior fluidez na modelagem — a peça apresenta formas ondulantes, quase líquidas, que remetem à vegetação. Aqui, o nome não aponta para uma planta específica, mas para a ideia de flora como ideia completa em si.

Finalizada com esmalte brilhante ou acetinado (a depender da versão), Flora é uma peça decorativa, mas também sensorial: suas curvas capturam a luz e criam sombras sutis, convidando o olhar a percorrê-las com lentidão. A abstração da forma permite múltiplas leituras, e essa abertura simbólica é uma das forças do trabalho de Isadora. Assim como nas demais peças da artista, o processo manual e intuitivo é celebrado. A obra não busca simetria, mas organicidade. Sua relação com o barro resulta em formas orgânicas, fruto de sua abstrata compreensão do espaço, influenciada por sua formação em arquitetura e sua afinidade com a natureza cotidiana.

Entre o gesto e a matéria: uma estética do cuidado

As cinco obras reunidas nesta curadoria apontam para uma estética que não se reduz ao visual. Há, em todas elas, uma sensorialidade expandida. O orgânico aqui não é apenas tema — é método, linguagem e ética de produção. A escolha por materiais naturais ou processos artesanais, a valorização do gesto manual, a busca por formas não-lineares e intuitivas revelam uma visão de mundo que desafia o excesso de racionalidade e controle que marcam grande parte do design industrial contemporâneo.

Também é relevante observar que todas as peças são assinadas por mulheres. Essa convergência não é apenas uma coincidência, mas também um sinal dos movimentos de transformação no campo da arte e do design. Mulheres que moldam barro, esculpem luz, projetam atmosferas e o fazem com firmeza.

Mais do que decorar, essas peças instauram presença. São objetos que habitam os espaços como quem sussurra ao ambiente: “há beleza no irregular”. Como o náutilo, como a vegetação, como o gesto livre que molda a argila, essas criações celebram o que escapa às réguas e aos padrões exageradamente calculados. E convidam a pensar que, talvez, viver entre o funcional e o poético seja também uma forma de habitar o mundo com mais cuidado.

Matheus Paiva é internacionalista, formado pela Universidade de São Paulo, e produtor cultural

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