O minimalismo é uma corrente que liga diversas produções em artes visuais nas décadas de 1960 e 1970, nos Estados Unidos, com desdobramentos posteriores.
Essa é uma das correntes que surgem em contraposição aos ideais do expressionismo abstrato, como o romantismo e idealização em torno da figura do artista, a memória, o inconsciente, o orgânico, valores que predominavam na arte estadunidense. Estudos geométricos tornam-se a base para a investigação de elementos constituintes da arte, como forma, espaço, luz, cor, matéria.
Artistas precursores de produções minimalistas, como Donald Judd, Sol LeWitt e Robert Morris, experimentaram composições através da repetição, propondo padrões nos quais partes idênticas formavam um todo coeso.
Uma das características mais marcantes da primeira fase do minimalismo é a relação dos artistas com o cenário industrial.
Para projetar obras em média ou grande escala, artistas se utilizavam de materiais brutos e técnicas industriais. Essa dinâmica formulava uma nova visão sobre o trabalho de um artista, que naquele contexto, não necessariamente deveria materializar as ideias com a próprias mãos.
Em 1962, Tony Smith, um dos principais pensadores do minimalismo, encomendou a uma fábrica uma simples caixa feita de ferro, enviando todas as instruções para sua confecção.
Esses trabalhos apresentam formas geométricas e dinâmicas espaciais diretas, não são ferramentas de ilusão. Assim como Black Box, muitas das esculturas não eram pintadas, mas revelavam as cores originais da fabricação de materiais industriais. Ou seja, a cor não era aplicada superficialmente, mas era componente básico do material.
Com raras exceções entre as produções minimalistas, o objeto não representa ou faz alusão a coisas do mundo. O objeto tem um fim nele mesmo, e a experiência entre obra e espectador é conduzida pelo seu confronto físico-espacial. Desse modo, um cubo, um conjunto de triângulos, ou qualquer construção geométrica, não são nada além do que se apresenta: formas geométricas dispostas em um espaço.
O espaço é de suma importância para a experiência minimalista, determinante para a relação entre obra e público. Esculturas e instalações projetadas a partir de formas geométricas adquirem aspectos extremamente diversos de acordo com as condições do ambiente. Essas obras pedem que o espectador se desloque em diversos ângulos, descobrindo novas faces do objeto, e percebendo de que forma seu corpo se relaciona com ele.
Não só a luz do ambiente molda uma obra minimalista, como um trabalho também pode moldar o espaço através da luz.
Assim funciona o trabalho de Dan Flavin, que possui uma extensa pesquisa com esculturas e instalações elétricas, transformando o ambiente através da manipulação das luzes.
Na pintura, artistas promoveram uma série de investigações, seja no suporte, na relação entre as cores em sistemas geométricos, ou mesmo em sua relação espacial. Artistas como Jo Baer, Robert Ryman e Agnes Martin experimentaram a potência da aplicação da cor branca em suas pinturas, percebendo de que forma ela se dispunha com as outras cores, criando outras dinâmicas para a percepção.
O pós-minimalismo é um desdobramento que se expande a outras mídias, métodos e proposições. O processo e a anti-forma são centrais nessa fase que não exatamente sucede o minimalismo, mas já emerge na segunda metade da década de 1960, com destaque de Eva Hesse, Richard Serra, Robert Morris, Keith Sonnier, Robert Smithson, Richard Tuttle, Gordon Matta-Clark, Jene Highstein, David Lamelas, Bruce Nauman e Lynda Benglis.
Neste momento as pesquisas adquirem resultados muito distintos, principalmente em decorrência da utilização dos materiais. Alguns recorreram aos materiais mais ordinários e maleáveis, como feltro e plástico, ou mesmo elementos da natureza. Cada ação modifica um material que, em algumas obras, passa a ser suscetível a forças do espaço e tempo, tornando-se efêmero. Configura-se uma fase mais orgânica. Na medida em que alguns desses artistas exploraram novas possibilidades, seus trabalhos se inclinaram a outros moldes, como a arte conceitual.
No Brasil, artistas se aproximam do minimalismo e pós-minimalismo com adaptações locais, como ocorre com toda influência de correntes internacionais. A obra de Claudia Kayat, por exemplo, nos mostra como a experimentação da forma no minimalismo não se satura, mas reverbera em novos contextos. Produções de Valdirlei Dias Nunes e Hilal Sami Hilal dialogam com experimentações iniciadas no minimalismo, como a relação do branco no espaço e a materialidade como poética.
Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.
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