Se configura como um catálogo com duas principais vertentes: artes visuais e fotografia apontando em cada um deles, trabalhos selecionados a partir dos editais anteriores deste ano lançados entre abril e julho pela própria instituição.
A publicação encerra uma grande ação do Itaú Cultural iniciada no primeiro semestre para fomentar trabalhos de artistas que manifestaram o sentimento da época. O isolamento, as novas regras de socialização e principalmente a ausência de relações pessoais transformou a maneira como se enxerga a sociedade e muitos dos trabalhos recentes não fogem a tornar como prioridade esta perspectiva.
São 154 artistas selecionados – 60 artistas apresentam suas séries fotográficas e 94 produções se constroem a partir de linguagens como pintura, escultura, desenhos, gravuras etc. É importante notar que foi um edital abrangente ao país inteiro, uma vez que selecionou trabalhos de 24 das 27 unidades federativas do Brasil – Acre, Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Roraima, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.
As propostas são claramente diferentes embora tenham relação com a situação presente. Um contraste se apresenta nas duas obras ao lado de Ana Flores (RS) e Ana Francisca (SP).
Feminicídio é um trabalho forte e visceral feito por bordados. Ana Flores intima fortemente a atenção para a violência doméstica como fator crescente nos últimos meses uma vez que as vítimas passam mais tempo com seus agressores quando fechadas em casa.
Em contrapartida, Ana Francisca pinta Estou Aqui com uma clássica subjetividade no uso das cores. As lembranças da infância e conexões para com as afetividades do entorno e suas camadas de tempo despertaram nos pensamentos da artista nos últimos meses.
Magali Moraes (BA) se destaca com Quarentena Emoldurada – uma reflexão sobre a estética do isolamento. A partir de nossas residências, são vistas quaisquer paisagens somente através das bordas das janelas e o contrário é verdadeiro. Somos vistos como silhuetas de narrativas mudas cheia de possibilidades.
Com um cenário otimista, vem Rogério Souza Silva com Sem Aglomeração. Abordando o tema da sociabilidade na infância e nos esportes, demonstra como a quarentena pode ser um incentivo para, apesar de tudo, manter as atividades que nos dá prazer, mesmo que agora com uma nova prática.
Os Editais lançados pelo Itaú Cultural seguem como uma das iniciativas extremamente necessárias para manter a cultura e a economia criativa em constante movimento em tempos de crise ao lado de outros projetos voltado para arte na quarentena.
Envolvendo intensamente todos nós, a imposição dos novos tempos também trouxe muitas reflexões que, mesmo doloridas, incentivaram um amadurecimento há muito deixado de lado. Os trabalhos selecionados têm um delicado olhar sobre a sensibilidade do tempo presente.
Ao público, resta a apreciação, a conexão e a forte sensação de que não estamos sozinhos. Afinal, não seria essa a proposta da Arte?
Victoria Louise é redatora e produtora cultural, formada em Crítica e Curadoria e Gestão Cultural pela PUC-SP.
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