Em janeiro deste ano, foram divulgados os resultados da 7ª Pesquisa Setorial do Mercado de Arte no Brasil, realizada pela Act Arte e encomendada pela Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT) em parceria com a ApexBrasil. O estudo se baseou em dados coletados de 76 galerias e entrevistas com mais de 40 especialistas da área, incluindo profissionais de feiras, casas de leilão, curadores, artistas e consultores.
Desde o último levantamento, realizado em 2018, o cenário cultural passou por uma série de mudanças:neste intervalo de tempo, o país teve de se adaptar à pandemia de Covid-19, forçando uma adaptação às novas tecnologias e modelos de negócio, além de uma acelerada digitalização do trabalho. Levando em conta estes fatores, a pesquisa teve como objetivos quantificar o tamanho do mercado nacional; analisar as atividades de venda e o perfil das galerias; identificar desafios e oportunidades; oferecer recomendações estratégicas; e subsidiar políticas públicas e programas de incentivo.
Em 2024, então, o relatório utilizou uma apuração quantitativa, feita por meio de questionários online, e uma qualitativa, feita a partir de entrevistas densas com diversos profissionais do meio – uma metodologia abrangente e variada.
Dentre as recomendações da pesquisa, destaca-se a importância do uso de tecnologias digitais. Ferramentas como marketing digital, e-commerce e tecnologias emergentes devem ser empregadas na área para ampliar a acessibilidade e a competitividade do cenário global. São estimuladas, ainda, iniciativas como o uso de redes sociais, newsletters e plataformas de e-commerce, capazes de impulsionar a digitalização e fortalecer a presença nacional no mercado.
Confira, a seguir, os principais pontos divulgados no estudo:
Em 2023, o mercado nacional de arte alcançou um crescimento de 21% em relação ao ano anterior, totalizando aproximadamente R$2,9 bilhões (USD 580 milhões). O valor foi obtido ao somar os resultados do consumo interno, das exportações e dos leilões nacionais, e equivale a 0,89% do mercado global, conforme a pesquisa internacional The Art Basel and UBS Art Market Report 2024,desenvolvida pela Art Economics, de autoria de Clare McAndrew.
O mercado de arte brasileiro ainda se sustenta por meio dos compradores locais, com uma média de 77% das vendas para este público. Mesmo assim, é possível identificar uma expansão relevante no mercado externo: dados indicam um aumento de 24% no valor das exportações em 2024.
Dentre os países que compram arte Brasileira, cinco correspondem a 90% dos destinos de todas as exportações. São eles Estados Unidos, Reino Unido, França, Suíça e Bélgica.
Dados refletem a importância estratégica das feiras para o crescimento do mercado de arte contemporânea: a análise das despesas operacionais de galerias revela uma parcela significativa de gastos vinculada somente à participação em feiras – o que inclui aluguel de espaço, logística, transporte, equipe e seguro. Considerando tudo isso, os custos com participação em feiras e folhas de pagamento representam conjuntamente 48% das despesas médias das galerias, com 25% e 23%, respectivamente.
As galerias pesquisadas dependem fundamentalmente da participação em feiras. No ano de 2024, somente 3% delas não participaram de nenhuma feira nacional, e 29% não participaram de nenhuma feira internacional.
Quando comparado à pesquisa anterior, de 2018, é possível observar uma expansão significativa no universo das galerias consultadas (um crescimento de 70%). Levando em consideração que 60 galerias responderam integralmente ao questionário e 16 galerias forneceram respostas parciais, é dado que, atualmente, cada galeria representa, em média, 27 artistas.
Destacando os três artistas mais vendidos de cada galeria, nota-se que eles correspondem a aproximadamente 51% dos valores gerais e vendas no Brasil – número próximo aos 53% verificados em uma pesquisa global.
A análise comparativa dos anos de 2022 e 2023 apresenta uma pequena tendência de crescimento no valor das vendas realizadas: houve um aumento de 34% na quantidade de galerias que vendem entre R$5 milhões e R$15 milhões por ano. Apesar disso, as vendas de até R$5 milhões ainda são maioria, tendo representado 58% das vendas anuais em 2023. As vendas superiores a R$15 milhões permaneceram estáveis, sendo atingidas por poucas galerias.
Obras de arte de até R$50 mil representam 59% das receitas das galerias. Apenas 9% do valor geral de vendas delas foram de obras acima de R$300 mil.
Galerias com vendas anuais de até R$5 milhões têm, em média, 73 clientes únicos por ano. Os clientes únicos são definidos como aqueles que realizaram pelo menos uma compra na galeria no referido ano, sendo contados uma única vez, independentemente do número de transações realizadas. Por outro lado, nas vendas acima de R$50 milhões, foram registrados 248 clientes únicos.
As vendas presenciais na própria galeria representam 42% das receitas, seguidas das vendas realizadas em feiras de arte nacionais, com 25%. Desde o levantamento de 2018, o canal de vendas que mais cresceu foi o online, passando de 8% para 20%, em 2023. Com a aceleração dos processos digitais, é possível que esses marketplaces ganhem ainda mais relevância no mercado brasileiro no futuro.