Entre os dias 3 e 7 de abril ocorre a 20ª edição da feira SP-Arte, celebrando sua importância e impacto no mercado de arte brasileiro e internacional. Reunindo galerias de arte, design autoral, editoras e instituições culturais, o evento é sediado em seu tradicional ponto de encontro, o Pavilhão da Bienal no Parque Ibirapuera.
Dada a sua dimensão e histórico, não se pode deixar de lado o fato da feira ser a maior da América Latina no mercado de arte. Hoje, são mais de 190 expositores participando da feira, o que faz da SP-Arte uma grande plataforma de incentivo ao cenário cultural. Ao destacar expositores desta edição, torna-se oportuno compreender de que forma a feira tornou-se tão bem sucedida, atualizando-se ao longo dos anos.
Em depoimento recente em suas redes sociais, Fernanda Feitosa, fundadora e sócia da SP-Arte, compartilhou algumas das características que tornam a feira uma plataforma que vai além dos dias de evento:
“Ela tem oferecido uma plataforma para artistas jovens, para a consagração de artistas veteranos, para a profissionalização de agentes do mercado através dos programas que criamos aos longos dos 20 anos”.
A feira reflete uma série de anseios do universo das artes visuais, e participa de uma mútua influência com as esferas institucionais e sociais que são envolvidas pelo mundo da arte. Com o tempo, foram abertos caminhos para que diferentes gerações e origens pudessem atuar no mercado artístico. Esse movimento inclui galerias jovens, novos curadores, críticos, galeristas, e demais agentes do mercado.
A SP-Foto, braço da feira que nasceu com foco em fotografia, foi transformada na Rotas Brasileiras, firmando o compromisso em incentivar definitivamente a produção artística de todo o território nacional.
O programa de doações da feira é mais um sinal da influência do evento, onde há o incentivo a colecionadores para doarem obras adquiridas na SP-Arte à instituições de grande relevância no país. Mais de 170 obras já foram doadas para museus como Pinacoteca de São Paulo, Masp e MAM, de São Paulo, e o MAR e Museu Nacional de Belas Artes, do Rio de Janeiro.
O olhar para o campo do design autoral brasileiro é também uma das marcas da SP-Arte, que tensiona as fronteiras do design e da arte contemporânea brasileira, valorizando seu diálogo. Com uma presença sempre crescente a cada edição, o setor de design e editorial chega a essa edição comemorativa com 67 expositores, o que representa um aumento de mais de 50% em comparação à edição passada.
O destaque do setor de design neste ano é a exposição “Tátil: materiais no design contemporâneo”, que reúne produções de diferentes designers para pensar a diversidade da materialidade nesse campo. Apresentando peças com materiais tão diversos como madeira, tecidos, pedras brutas e refinadas, metais, cerâmicas, entre outros, a coletiva sintetiza a versatilidade do design brasileiro contemporâneo.
Entre os expositores está Paulo Goldstein, que apresenta sua “Estante Puxadinho”, trabalho feito este ano. A assemblage é constituída de materiais provenientes de demolições da cidade de São Paulo, e parte da reflexão do artista acerca da rápida verticalização da cidade. Em uma nova configuração, os materiais adquirem outras utilidades e ganham nova vida.
Para Mila Rodrigues, curadora da Schuster Móveis e Design, expor na SP-Arte trouxe aos designers a possibilidade de maior aproximação com a ideia de fruição através desses objetos: “um móvel pode ir além da sua função e ele pode ser percebido como um objeto de desejo, de identificação e de conforto da alma, do espírito”.
Em sua primeira participação na SP-Arte, o designer de mobiliário André Grippi apresenta o desenvolvimento de uma pesquisa com a coleção “Cabana”. Explorando as possibilidades que os materiais apresentam ao longo do processo de criação, o designer trouxe à feira um conjunto inovador com inclinações dentro de padrões geométricos em móveis de madeira e palha. A ideia de Grippi foi justamente ir além da ideia tradicional de mobiliário, sempre com as pontas nos mesmos níveis. Em entrevista para a Artsoul, ele afirma que as peças “desconstroem aquela tipologia ou estereótipo de mesa de de quatro pés, retangular”.
Grippi completa afirmando o caráter experimental dessas peças: “essa série tem um compromisso maior com a investigação do que com a função […] Ela é uma materialização da pesquisa, do conceito e está aberta a novas investigações e formatos”.
Outro destaque do setor é o estande da Teo, galeria criada pelos irmãos Lis e Teo Vilela Gomes e que participa da SP-Arte desde 2016, quando houve a abertura ao design autoral. Com foco em restauro no mobiliário moderno brasileiro, a galeria busca contar novas histórias a cada edição, resgatando os processos criativos e as influências europeias e americanas no design nacional. Nesta edição, apresentam um preview da exposição “Dar forma à Forma”, em referência à Forma, empresa da década de 1950 idealizada por Lina Bo Bardi, Pietro Maria Bardi e Giancarlo Palant. Em conversa com a Artsoul, Teo afirmou que a feira é “esse momento de reunião de saberes, um espaço de debates, e um olhar expandido sobre o que fazemos”.
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