A CASACOR São Paulo 2025, em sua 38ª edição, apresenta uma proposta esclarecida ao retornar ao seu caráter itinerante e ocupar o Parque da Água Branca, um espaço histórico e cultural na zona oeste da cidade. Com o tema “Semear Sonhos”, a mostra busca refletir sobre a construção coletiva de presentes sustentáveis, integrando cidade, natureza e saber.
Após três anos no Conjunto Nacional, a CASACOR retorna ao seu formato itinerante e escolhe o Parque da Água Branca como palco para sua edição de 2025. Inaugurado em 1929, o parque ocupa 137 mil metros quadrados de área verde remanescente da Mata Atlântica e é tombado pelo patrimônio histórico desde 1996. Localizado na Rua Dona Ana Pimentel, o parque se insere em um novo eixo cultural que inclui instituições como o Sesc Pompéia, o Memorial da América Latina e o Museu das Culturas Indígenas, além de centros de eventos e universidades. A escolha da locação visa assim promover a regeneração cultural, integrando o evento ao contexto urbano e ambiental da região.
A ocupação do Parque pela CASACOR também se entrelaça ao tema e responde a questões emergentes sobre a necessidade de integrar melhor as áreas verdes à cidade, melhorando as condições ambientais e a qualidade de vida das pessoas. Segundo Lívia Pedreira, presidente do time curador da CASACOR, existe um grande anseio humano em não apenas apreciar, mas sentir-se parte da natureza, especialmente frente aos desafios impostos pelas mudanças climáticas.
A edição deste ano, “Semear Sonhos”, propõe uma reflexão sobre como podemos criar coletivamente futuros desejáveis colaborando entre diferentes saberes. Apresentado durante o evento Eixos CASACOR, o tema foi inspirado por uma apresentação do arquiteto e designer Marko Brajovic, especialista em biomimética, que propôs cenários urbanos transformados em áreas coletivas e sustentáveis.
O projeto “Ninho”, é assinado pelo Atelier Marko Brajovic e espelha o tema. A instalação propõe uma experiência que pretende resgatar a essência de co-existirmos juntos, em harmonia com o contexto ecológico. Inspirado pelas arquiteturas dos pássaros, o ambiente busca proporcionar acolhimento, convidando os visitantes a desacelerarem e se reconectarem com a natureza, com o entorno.
O tema então passeia por três eixos principais:
“Jardim Espelho dos Sonhos”, é a intervenção da paisagista Paula Varga que busca resgatar e valorizar a vegetação nativa do Parque da Água Branca. Com 47 m², o ambiente integra espelhos de vitrais de demolição, ladrilhos hidráulicos e mobiliário artesanal, criando um espaço que convida à reflexão e ao acolhimento. A escolha de plantas com baixa necessidade hídrica e a presença de um pau-brasil centenário reforçam o compromisso com a sustentabilidade e a memória afetiva do local.
A mostra ocupa uma área construída de 10.161 metros quadrados, apresentando mais de 70 ambientes que incluem casas, apartamentos, lofts, jardins, além de espaços dedicados a instalações artísticas, gastronomia e compras. Os visitantes podem explorar ambientes que dialogam com o tema da edição, oferecendo experiências sensoriais sobre um ideal de morar contemporâneo.
Além dos ambientes projetados, os visitantes poderão desfrutar de espaços dedicados à gastronomia, com opções de restaurantes e cafés, e áreas de compras. A programação também inclui instalações artísticas que dialogam com o tema da edição, resultando em uma imersão no universo da arquitetura, da arte e da sustentabilidade.
A mostra reúne um elenco vasto de profissionais renomados do mercado, convidados a interpretar o tema com criatividade e inovação. Entre os participantes estão Ana Maria Vieira Santos, Dado Castello Branco, Paola Ribeiro, João Armentano, Marina Linhares, Bruno Carvalho, Mauricio Arruda, Gisele Taranto e Léo Shehtman. O paisagismo será um dos grandes destaques desta edição, com projetos assinados por Gilberto Elkis, Roberto Riscala, Mônica Costa, Catê Poli e João Jadão, Luciano Zanardo.
Gabriel Rosa é um dos nomes que retornam. Em 2024, aos 22 anos, tornou-se o arquiteto negro mais jovem a participar da mostra com o projeto “Lavabo Terra Sagrada”. Na edição deste ano ele apresenta a “Adega Legado”, que tem como intenção resgatar e celebrar a ancestralidade africana na cultura do vinho, criando um espaço que funciona como um altar simbólico ao tempo, à memória e à identidade negra. Por meio de materiais nobres, cores profundas e referências ao movimento Black Dandy, a adega se torna um manifesto de resistência, elegância e pertencimento, unindo espiritualidade, contemplação e design.
A edição também marca a estreia de diversos profissionais e escritórios, incluindo Leda Simões, André Bastos e Pedro Luiz de Marqui, Letícia Figueiredo e Priscila Sunao, Giovanni Vespe, Larissa Perna, Marta Martins, Carlos Navero e Melissa Camargo, Fernanda Zulzke, Marcos Serrano, Marília Aguiar Junqueira, Felipe Carolo, Daniel de Castro Cunha, Mariana Meneghisso e Alexandre Pasquotto, Anike Tomanik e Kalyn Diegues. Além disso, a presença de profissionais do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal e interior de São Paulo consolida a expansão geográfica e representativa da mostra.
O arquiteto Felipe Carolo estreia com o projeto “Estúdio Theodoro”, um espaço que busca materializar uma narrativa sensível e simbólica. Dividido entre — sonhar, construir e realizar —, o ambiente propõe uma jornada que conecta afetividade, história e arte. Inspirado pela Bauhaus e pelo modernismo brasileiro, o desenho do espaço é marcado por formas arredondadas que criam fluidez e continuidade. O nome “Theodoro” faz referência ao cão de Carolo, simbolizando o vínculo emocional que costura toda a composição do projeto.
A CASACOR São Paulo 2025 se apresenta então como um evento que vai além da exposição de ambientes decorados, propondo uma consideração macia mas complexa sobre o futuro do morar e a integração entre cidade, natureza e saberes, onde a arquitetura, o design e a arte desempenham papéis fundamentais ao invés do mero adorno. A mostra reforça seu compromisso com a regeneração urbana e cultural, proporcionando aos visitantes uma investigação sensível e perceptiva das possibilidades de construção de futuros desejáveis e sustentáveis.
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