Na ativa desde a década de 50, Carlos Vergara é dono de contribuição inestimável à arte contemporânea brasileira. Após navegar pela fotografia, pintura e gravura, inquieto por natureza, o artista inova mais uma vez ao lançar suas primeiras obras digitais em NFT, sigla para token não fungível. Carlos Vergara apresenta, a partir de 31 de outubro, uma série de quatro lançamentos com obras neste novo formato, que vem ganhando adeptos e atraindo colecionadores, especialmente no campo das artes. Os lançamentos, realizados pela Miintme , plataforma brasileira especializada em artes, música e esporte, responsável por curadoria, desenvolvimento e venda de NFTs.
Além da disponibilidade para compra, as novas obras de Vergara podem ser apreciadas pelo público geral. Em adição a ser uma plataforma e marketplace de artes, a Miintme inaugura com o artista gaúcho o Miintme Museum , um museu digital com tours virtuais gratuitos, disponíveis 24 horas.
“Arte e tecnologia sempre estiveram próximos pois o objetivo do trabalho, se assim podemos dizer, é falar ao coração e ao cérebro do ser humano. A forma para alcançar isso é múltipla e produzir algo digital no universo NFT me instiga e motiva a continuar perseguindo o desafio de encontrar um outro tipo de beleza, que possa me surpreender e tocar o observador”.
Carlos Vergara, 2021
NFTs são arquivos digitais registrados em blockchain (uma base contábil de dados online que guarda registros permanentes de transações em criptomoeda, à prova de violação). Assim, o ativo digital recebe um código único e imutável – como um número de série – que não apenas o identifica como também indica quem é o seu proprietário. Como explica Sérgio Campos, criador e CEO da plataforma Miintme. “NFTs são ativos únicos, como fotos, vídeos ou outros tipos de produtos digitais, que são registrados na blockchain, tornando-os exclusivos. Assim, são criadas propriedades digitais, que geram um universo infinito de possibilidades na arte e na cultura. NFT é uma revolução”, afirma.
A estreia de Vergara no universo dos NFTs será com o lançamento da peça “Respiração”, cuja unidade física integra a exposição Prospectiva, com tiragem limitada de 20 unidades digitais, disponíveis para compra através de cartão de crédito ou das criptomoedas Celo ou Ethereum.
“Respiração” une a pintura do artista à uma animação em vídeo. A obra tem origem nas recordações dos trilhos que o gaúcho Vergara, de 79 anos, conheceu em suas andanças nos anos 50 pela Bienal de São Paulo, no Cais do Valongo e nos trilhos do bonde de Santa Teresa, onde mantém seu ateliê, no Rio de Janeiro.
No processo criativo, o artista recortou as fotos e as encaixou manualmente, criando uma maquete física, depois transformada em um objeto tridimensional, que deu origem ao conteúdo virtual em NFT. Além disso, “Respiração” traz o som gravado da respiração de Vergara, remetendo ao sopro da vida, numa alusão ao fato de que qualquer que seja a mídia escolhida por um artista para se expressar, ela será sempre um canal para aproximar as sensibilidades de pessoas.
Em seguida, nos dias 2 (terça) e 4 (quinta-feira) de novembro, a Miintme apresentará dois novos drops (lançamentos simultâneos em diversas mídias) de Carlos Vergara em NFTs. Desta vez, em parceria com o artista multimídia Alexandre Rangel, ambos inspirados em “Feijão”, uma das mais icônicas obras de Vergara. As artes também estarão disponíveis no Miintme Museum.
O primeiro NFT da série é “Feijão DNA – Mutação” 01, que utiliza a técnica Arte Generativa, oscilando entre a bidimensionalidade da op-art na tela digital e a quarta dimensão da animação. A partir da obra “Feijão”, de Vergara, Rangel criou 𝟰𝟭 versões únicas, inclusive entre si, apesar de terem o mesmo DNA. O número representa o ano de nascimento de Vergara e simboliza o renascimento de sua arte no campo digital.
Em seguida, virá a Coleção 2: Feijão Germinado – Mutação 01, em que brota, das possibilidades do código de computador, um diálogo entre a programação criativa de Rangel com a escultura do banco em forma de grão.
O feijão é um tema caro a Vergara desde os anos 70, quando realizou o filme “Fome”, em super-8, que se configurava tanto como manifesto político, quanto uma experimentação no movimento “Quase Cinema”. É nesse contexto que a parceria com Rangel fica ainda mais orgânica, uma vez que o brasiliense retoma aquele movimento ao se utilizar de novas tecnologias, como as que incluem algoritmos para a criação de imagens. Desta vez, serão ofertadas 10 obras únicas.
“O mais interessante dessa retomada do tema do feijão é que novamente estamos enfrentando as mesmas questões do passado, como a fome e as dificuldades econômicas das famílias. Passadas mais de quatro décadas, o feijão se mostra um símbolo político ainda atual.”
Carlos Vergara, 2021
Encerrando os lançamentos, no dia 6 de novembro (sábado), será apresentado o último drop de Carlos Vergara e Alexandre Rangel na Miitme: 𝐼𝐺𝑁𝐼𝑆 𝐹𝐴𝑇𝑈𝑈𝑆, uma releitura, em forma de remix computacional da pintura, de Carlos Vergara. “Os pixels da tela replicam pinceladas com a dinâmica e ferocidade do fogo na natureza”, segundo o brasiliense Rangel.
Ignis Fatuus, nasceu do fogo, da energia gerada na mente de artistas de dois mundos que se encontram, Vergara e Rangel. O NFT foi criado a partir de uma pintura da série “Natureza Inventada”. Haverá 41 versões únicas e diferentes da obra.
As vendas de todas as obras serão realizadas através do processo de melhor oferta, ou seja: a plataforma decidirá qual aceitar, seja a maior ou não.
De acordo com Sérgio Campos, convencer Vergara a embarcar na aventura do NFT foi um processo natural. “Desde a década de 60, quando começou seus trabalhos, ele esteve na vanguarda do movimento cultural brasileiro. Vergara sempre trouxe materiais novos, sempre teve essa inquietude com a sua arte, buscou se inovar, trazendo novas reflexões, novas ideias. E com arte digital e as NFTs não poderia ser diferente: ele está mais uma vez à frente do seu tempo, seguindo esse movimento pioneiro. Ter artistas como Carlos Vergara e Alexandre Rangel atuando com a Miintme é motivo de grande felicidade e orgulho para nós. Os dois artistas não estão juntos por acaso, e a história de cada um se conecta em diversos momentos. Cada NFT foi idealizada e construída com a colaboração dos dois artistas, e tenho certeza que é um dos projetos mais incríveis que já vi”, conclui.
Confira mais detalhes e informações completas no site da Miintme.
Nascido na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em 1941, Carlos Vergara iniciou sua trajetória nos anos 60, quando a resistência à ditadura militar foi incorporada ao trabalho de jovens artistas. Em 1965, participou da mostra Opinião 65, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, um marco na história da arte brasileira, ao evidenciar essa postura crítica dos novos artistas diante da realidade social e política da época. A partir dessa exposição se formou a Nova Figuração Brasileira, movimento que Vergara integrou junto com outros artistas, como Antônio Dias, Rubens Gerchmann e Roberto Magalhães, que produziram obras de forte conteúdo político. Nos anos 70, seu trabalho passou por grandes transformações e começou a conquistar espaço próprio na história da arte brasileira, principalmente com fotografias e instalações. Desde os anos 80, pinturas e monotipias tem sido o cerne de um percurso de experimentação. Novas técnicas, materiais e pensamentos resultam em obras contemporâneas, caracterizadas pela inovação, mas sem perder a identidade e a certeza de que o campo da pintura pode ser expandido. Em sua trajetória, Vergara realizou mais de 180 exposições individuais e coletivas de seu trabalho.
Conhecido como VJ Xorume, Alexandre Rangel é artista multimídia, desenvolvedor de software e doutor em Artes Visuais e Tecnologia pela UnB. Segundo o músico Gilberto Gil, Rangel é “um criador elevado ao quadrado”, que desenvolveu a principal ferramenta de sua atividade artística. Trata-se de um software engenhoso de manipulação de vídeo em tempo real que está sendo utilizado por VJs do mundo inteiro: o programa “Quase-Cinema”. O nome é homenagem ao artista plástico Hélio Oiticica, que usava a expressão para designar “um campo de experiências transgressivas dentro do universo das mídias ou das imagens e sons produzidos tecnicamente”. Como PhD em Arte e Tecnologia, Rangel realiza pesquisas acadêmicas sobre expressão artística com código de software. Atualmente, o artista é representado pela Metaverse Agency.
A Miintme é uma plataforma para a exposição e comercialização de criações digitais registradas em Blockchain. Através de um processo exclusivo de curadoria, especializada em artes, música e esportes, a Miintme reúne artistas, criadores e entusiastas do mundo crypto em uma única plataforma para criar e negociar NFTs.
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