Com uma curadoria de mulheres, a Bienal das Amazônias promete ser uma experiência única e enriquecedora, oferecendo ao público uma visão diversificada e fascinante das riquezas artísticas e culturais da região amazônica. A exposição será um espaço de diálogo e reflexão sobre questões fundamentais que permeiam esse território tão singular e diverso. A expectativa é que a Bienal deixe um impacto duradouro na valorização e preservação da identidade cultural da Amazônia, conectando-a com outras regiões do mundo e impulsionando o desenvolvimento artístico e simbólico da área a longo prazo.
Este projeto foi meticulosamente desenvolvido ao longo de quase uma década, e finalmente se materializa em sua primeira edição entre os dias 3 de agosto e 5 de novembro. Belém, capital do Pará, e outras cidades da Amazônia brasileira se tornarão o epicentro dessa mostra que tem à frente a produtora cultural paraense, Lívia Condurú, cujo desejo de concretizar a Bienal foi compartilhado com a curadora Yasmina Reggad, conhecida por seu trabalho no Pavilhão da França na 59ª Bienal de Veneza.
Diferente de muitas bienais que se restringem a espaços institucionais, a Bienal das Amazônias rompe com esse padrão, buscando estender-se para as ruas e espaços urbanos, onde a arte dialogará com a cidade e sua população. A escolha de um antigo espaço de loja de departamentos como sede da Bienal, em vez de um museu ou centro cultural estabelecido, reflete o desejo de ampliar o alcance da arte e aproximá-la do cotidiano das pessoas. A exposição também apresentará 20 obras públicas em diversos endereços pela capital paraense.
“Uma das propostas fundamentais era de que os próprios amazônidas assumissem as narrativas acerca de sua produção simbólica e artística, reivindicando a riqueza cultural que muitas vezes fica obscurecida por estereótipos de artesanato.“
Com a premissa de ultrapassar os limites da Amazônia Legal, irá abranger não apenas os nove estados brasileiros, mas também os oito países e a Guiana Francesa que compõem essa vasta região. Uma das propostas fundamentais era de que os próprios amazônidas assumissem as narrativas acerca de sua produção simbólica e artística, reivindicando a riqueza cultural que muitas vezes fica obscurecida por estereótipos de artesanato.
A curadoria, liderada pelo coletivo Sapukai, é composta pela educadora Sandra Benites, a artista e pesquisadora Flavya Mutran, a escritora Keyna Eleison e pela historiadora da arte Vânia Leal. O termo Sapukai deriva da língua tupi e transmite a ideia de canto, clamor e grito. A curadoria está empenhada em abordar questões como prazer, alegria, desejo, cobiça, violência e invisibilidade histórica nas obras selecionadas. A temática da primeira edição da Bienal das Amazônias gira em torno da palavra bubuia, também de origem tupi, que simboliza a flutuação e a movimentação nas águas.
Nesta semana, a organização da Bienal das Amazônias anunciou os mais de 120 artistas que comporão a primeira edição do evento. Entre os nomes selecionados, destacam-se artistas renomados como Adriana Varejão, cuja obra é marcada por uma abordagem ousada sobre questões culturais e históricas, especialmente a colonização. Além dela, Gê Viana, que traz à tona em suas criações a riqueza das paisagens amazônicas e sua conexão com a ancestralidade.
Outros nomes que merecem destaque são Glicéria Tupinambá, artista indígena que utiliza sua arte para resgatar e preservar a cultura de seu povo, e Gustavo Caboco, cujas obras expressam uma visão única sobre a natureza e o meio ambiente da Amazônia.
A diversidade artística é amplamente representada com a inclusão de Iwiri-ki, cujas criações são uma reflexão sobre a identidade e a relação entre homem e natureza, e Liça Pataxóop, que traz em suas obras a visão de mundo de seu povo indígena e suas lutas pela preservação de suas terras.
Anna Bella Geiger, artista consagrada no circuito, também é parte do corpo de artistas da Bienal das Amazônias, abordando temas como identidade, pertencimento e história, enquanto Aycoobo nos envolve com suas obras que transitam entre a arte e a etnografia, revelando riqueza cultural das comunidades amazônicas.
A fotografia de Claudia Andujar, reconhecida internacionalmente por seu trabalho de documentação das comunidades indígenas, contribuindo para a preservação de suas culturas e tradições, também marca presença. Já Denilson Baniwa traz sua arte como uma plataforma para discutir a resistência dos povos indígenas e suas vozes na construção de um mundo mais justo e igualitário.
“Consciente da diversidade cultural que permeia a região, a Bienal das Amazônias reconhece que a Amazônia é muito mais do que apenas um bioma“
As obras desses artistas e de tantos outros selecionados poderão ser apreciadas a partir do dia 4 de agosto, data da abertura da Bienal das Amazônias, até 5 de novembro. Cada obra é uma representação singular de histórias individuais e coletivas, refletindo a diversidade cultural e os percursos artísticos que compõem a rica tapeçaria da Amazônia. Consciente da diversidade cultural que permeia a região, a Bienal das Amazônias reconhece que a Amazônia é muito mais do que apenas um bioma. Ela é um emaranhado de identidades e culturas diversas, desafiando os estereótipos simplistas atribuídos à região.
Giovanna Gregório é formada em Arte: História, Crítica e Curadoria pela PUC-SP. Pesquisadora e crítica independente.
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