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Made in Brazil: Entre desejo, bandeiras e censura, arte pop brasileira ocupa a Pinacoteca de São Paulo

Publicado por Victoria Louise em 16/07/2025
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Às vésperas do carnaval de 1968, centenas de pessoas se reuniram em Ipanema, no Rio de Janeiro, para um evento que ficaria conhecido como o “Happening das bandeiras na Praça General Osório”. Estandartes se espalharam em uma intervenção coletiva de artistas que queriam extrapolar o ambiente dos museus e galerias e criar espaços alternativos de cultura, reivindicando a esfera pública que havia sido silenciada e esvaziada pela ditadura militar. Transformando a rua em festa – com a presença, inclusive, de músicos da Estação Primeira de Mangueira -, estes sujeitos articularam a participação do espectador nas obras, questionando o sentido da arte em um mundo difícil e violento. 

Hoje, as bandeiras serigrafadas que fugiam do espaço institucionalizado agora ganham destaque na exposição “Pop Brasil: vanguarda e nova figuração, 60-70”, em cartaz na  Pina Contemporânea até outubro. Reunindo cerca de 250 obras emblemáticas da segunda metade do século 20, a mostra faz uma espécie de ‘retrato de geração’ de artistas que exploraram a linguagem da pop arte em um contexto de crise política e ascensão da cultura de massa, tendo reagido ao golpe militar de 1964, ao endurecimento do regime em 68, ao silêncio depois de 70 e, finalmente, ao processo de redemocratização a partir de 80.

Vista da exposição Pop Brasil: Vanguarda e Nova Figuração 1960-70. Foto: Levi Fanan/ Pinacoteca de São Paulo

Nessa conjuntura, as revoluções comportamentais foram importantes. Novos modelos de corpo e sociedade marcaram muitos dos trabalhos expostos, questionando os padrões de gênero, família e sexualidade estabelecidos pela norma vigente. No núcleo “Desejo e trivialidade”, por exemplo, o campo da arte política é pensado a partir de relações interpessoais e de desejo, para além das disputas partidárias e estatais. Obras como “A ditadura das coisas” (1965), de Rubens Gerchman, e “Eat me – A gula ou a luxúria? Objeto de sedução”, de Lygia Pape, mostram imagens de bocas com batom vermelho, representando tanto a sensualidade cinematográfica quanto o símbolo da liberdade feminina. 

A ditadura das coisas, 1965, Rubens Gerchman. Foto: Carla Gil

A formação de uma indústria cultural e o fortalecimento da televisão no Brasil são processos enfatizados no eixo “Astros e astronautas”, que apresenta figuras como Roberto Carlos, Caetano Veloso e Gilberto Gil, celebridades do mercado fonográfico, mas também Che Guevara, símbolo ideológico e de rebeldia. Essa transformação de artistas e políticos em ícones pop seguiu a mesma lógica utilizada pelos internacionais como Andy Warhol, que se apropriava de imagens dos meios de comunicação em massa para produzir serigrafias.  Mas com uma diferença importante: nos trópicos, a apropriação não refletiu o interesse da sociedade por vitrines, carros e produtos bem acabados, mas sim uma industrialização tardia. Aqui, a arte (muito mais propositiva e crítica) respondeu à crise política com uma estética precarizada. 

Vista da exposição Pop Brasil: Vanguarda e Nova Figuração 1960-70. Foto: Carla Gil

Em outra parte da exposição, são destacadas obras que denunciam práticas como a repressão e a tortura, por meio de slogans, caricaturas e imagens que satirizam militares.Nesses casos, mais uma vez, a estética pop é utilizada não para valorizar a cultura de consumo, mas para criticar o imperialismo e a propaganda norte-americana. 

Um exemplo é “O Presente” (1967-2018), de Cybele Varela, que consiste na reprodução de um general imbricado no mapa do Brasil, com os seguintes versos do Hino à Bandeira: “Recebe o afeto que se encerra em nosso peito juvenil”. Com clara ironia crítica, o trabalho foi retirado da 9ª Bienal Internacional de São Paulo por ordem da Polícia Federal. A família de Varela, assustada com a censura e temendo novas perseguições policiais, decidiu destruir completamente a obra, que só foi remontada no ano de 2018 para a mostra “AI-5 50 anos: Ainda não Terminou de Acabar”, realizada no Instituto Tomie Ohtake. 

O presente, 1967, Cybele Varela. Foto: Carla Gil

O tema da criminalidade também permeia uma série de obras, sendo a bandeira “Seja Marginal Seja Herói” (1968), de Hélio Oiticica, uma das mais conhecidas. Além dela, um trecho do filme “O Bandido da Luz Vermelha” (1968), de Rogério Sganzerla, é exibido em diálogo com artistas como Claudio Zilio e Claudio Tozzi. Na contracultura, os bandidos e malandros eram tidos como símbolos de resistência, não de perigo ou ameaça. Eles se opunham à violência de Estado que assassinava em nome de uma “segurança nacional”. 

Vista da exposição Pop Brasil: Vanguarda e Nova Figuração 1960-70. Foto: Carla Gil

A exposição conta ainda com desenhos de presos políticos da coleção Alípio Freire, pertencentes ao Memorial da Resistência, fotografias de Evandro Teixeira na passeata dos 100 mil e projetos que procuraram intervir diretamente naquele contexto político, como o as garrafas de Coca-Cola da série “Inserções em Circuitos Ideológicos”, de Cildo Meireles, e as “Trouxas Ensanguentadas” de Artur Barrio, ambos do início da década de 1970.  

Esta última se tratou de um happening realizado na cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais, no qual trouxas de roupas foram lançadas em um córrego envolvidas em pedaços de carne, sangue e ossos adquiridos em um açougue local. O intuito de Barrio, além de experimentar os limites da chamada anti-arte, era emular o destino dos muitos sujeitos desaparecidos no auge da repressão militar. A presença dos pacotes sangrentos atraiu multidões e levou a intervenção de bombeiros, convocando no imaginário coletivo sinais de violência policial e suspeitas sobre as atividades do Esquadrão da Morte. Ali, mais uma vez, o espaço público foi compreendido como um local de disputas políticas e simbólicas

Trouxas Ensanguentadas, 1970, Artur Barrio. Foto: Carla Gil

Em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, outros aspectos do espaço urbano também chamaram atenção dos artistas da década de 60. Contraditória e em constante transformação, a rua foi compreendida como um ambiente de controle e vigilância e, ao mesmo tempo, como território de expressões populares e de resistência. 

Na exposição, diversas obras exploram a visualidade do cotidiano (com a apropriação de signos urbanos como letreiros, anúncios e fachadas); ruídos da cidade o futebol como paixão nacional e identidade coletiva; as manifestações e passeatas estudantis; e os corpos em movimento. Inspirados nessa efervescência, os visitantes poderão ainda experimentar e “ativar” os famosos Parangolés de Hélio Oiticica. 

Com curadoria de Pollyana Quintella e Yuri Quevedo, “Pop Brasil: vanguarda e nova figuração, 1960-70” segue em cartaz até 5 de outubro e é imperdível para quem passa por São Paulo. Depois, a mostra viaja para a Argentina e passa a ser exibida no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (MALBA), a partir de 5 de novembro. 

SERVIÇO
Pop Brasil: vanguarda e nova figuração, 1960-70
Pinacoteca de São Paulo
Edifício Pina Contemporânea | Grande Galeria
De quarta a segunda, das 10h às 18h (entrada até 17h)

Carla Gil é pesquisadora independente e graduada em Arte: História, Crítica e Curadoria pela PUC-SP

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