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Obra de Lasar Segall que resistiu à opressão nazista é exposta em São Paulo

Publicado por Victoria Louise em 05/06/2024
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Quadro “Viúva”, considerado destruído, foi recuperado por marchand na França após 80 anos de desaparecimento

Depois de passar oito décadas perdida, a pintura “Viúva” (Witwe), do modernista Lasar Segall (1889 – 1957), foi recuperada e exposta em São Paulo, no museu que leva o nome do artista. Nos anos 1930, a tela integrou a mostra “Arte Degenerada”, organizada por Joseph Goebbels em Munique, na Alemanha, durante o regime nazista de Adolf Hitler. Recentemente, foi encontrada na França pelo marchand Paulo Kuczynski e trazida ao Brasil, onde permanece exposta até agosto. 

“Viúva”, Lasar Segall,1920. Imagem: Divulgação Museu Lasar Segall / Paulo Kuczynski Escritório de Arte.

A história do quadro

“Viùva”, ou “Witwe”, é datada de 1920. Retrata uma mulher com seus dois filhos, deixada a sós pelo marido – provavelmente um soldado -, que foi prestar serviços na Primeira Grande Guerra (1914 – 1918). As viúvas foram um dos principais símbolos do sofrimento gerado pelos confrontos do Século XX, sendo um tema recorrente nas pinturas de Lasar Segall. O vanguardista era conhecido por pintar o ambiente socioeconômico de pessoas vulnerabilizadas. Realizou, inclusive, uma série de gravuras de outras viúvas, algumas das quais foram incorporadas à mostra na capital paulista. 

Viúva e Filho, Lasar Segall, 1922. Exposta em “Witwe, uma pintura reencontrada”, no Museu Lasar Segall. Imagem: Museu Lasar Segall.

Quando o quadro ficou pronto, foi exposto em uma panorâmica de Segall no Museu Folkwang, em Essen, um centro dedicado à arte moderna na Alemanha. Acompanhou 30 desenhos, 35 gravuras e 15 pinturas. Nesta época, o artista de origem judaica e lituana morava em Dresden. Ele havia se mudado em 1906 para estudar pintura em Berlim e iniciar uma carreira nas artes plásticas. Quando se mudou para o Brasil, 3 anos depois de expor em Essen, sua produção já tinha conquistado o devido reconhecimento no meio artístico. 

“Viúva” permaneceu sob posse da instituição até 1937, quando o governo nazista lançou uma campanha de aniquilação cultural. Pretendia-se destruir toda arte considerada “degenerada”, ou seja, qualquer trabalho que não seguisse os padrões clássicos de beleza ou não valorizasse a harmonia e o equilíbrio entre as formas. Nesse momento, as escolas de vanguarda europeia como o cubismo, o fauvismo e o expressionismo (da qual Lasar Segall fazia parte) passaram a ser fortemente perseguidas. 

“Nenhum quadro será poupado”, afirmou o ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, em 13 de janeiro de 1938. Durante a campanha, cerca de 16 mil obras foram confiscadas pelo esquadrão e, dentre elas, 50 eram de Segall. Participaram de “Arte Degenerada” [“Entartete Kunst”, em alemão] 650 trabalhos considerados “aberrações”, retirados de 32 museus alemães. A repercussão foi grande, somando mais de 2 milhões de visitantes. Tiveram suas peças apreendidas nomes como Pablo Picasso, Marc Chagall, Wassily Kandinsky, Paul Klee, Max Ernst, Henri Matisse, entre outros. Alguns, já consagrados, tiveram suas obras vendidas pelos nazistas em leilões privados na Suíça, enquanto outros viram suas produções serem incineradas. 

“Viúva” deveria ter tido o mesmo destino, mas, por algum motivo que não se sabe ao certo, o óleo sobre tela escapou da destruição. Em 2022, mais de 80 anos depois da perseguição, o quadro foi recuperado em Paris pelo  importante marchand e “caçador de tesouros” da arte, Paulo Kuczynski. Ele conta ter encontrado a tela em ótimo estado, no espólio do pintor franco-croata Slavko Kopac. 

Sobre a conservação do quadro, afirmou, em entrevista à Folha de São Paulo: “Fica essa incógnita muito incrível do por que ele foi salvo. Provavelmente pela beleza. Agora, você salvar uma obra durante o nazismo que estava destinada a ser destruída era um ato criminoso. Não se sabe quem salvou. Talvez alguém do Exército [de Hitler] ou alguém do partido [nazista]. Alguém se sensibilizou”.

Depois de trazer sua nova aquisição para o Brasil, o colecionador mostrou a tela para  Marcelo Monzani, atual diretor do Museu Lasar Segall – centro de referência para o estudo da obra do artista -, e outros três ex-dirigentes da instituição, Marcelo Araújo, Jorge Schwartz e Giancarlo Hannud. Até então, a equipe só conhecia a imagem por livros. Depois de algumas análises, o corpo técnico do museu autenticou e catalogou a obra, que agora é exposta ao público. 

“Witwe, uma pintura reencontrada” é apresentada ao público de 19 de maio a 18 de agosto, no bairro da Vila Mariana, centro-sul de São Paulo. Com “Viúva” exposta bem ao centro da sala, a mostra exibe, também, 9 trabalhos de Lasar Segall produzidos no mesmo período. É uma oportunidade imperdível para conferir de perto o trabalho que sobreviveu tantas décadas para testemunhar os horrores de um passado que ainda nos assombra. 

Fachada do Museu Lasar Segall na Vila Mariana, São Paulo. Foto: Folha de São Paulo. 

Depois dos três meses de visitação previstos, o destino da pintura ainda é incerto. Pierina Camargo, museóloga e pesquisadora do Museu Lasar Segall há mais de 40 anos, avalia que a tela deveria voltar ao Museu Folkwang, em Essen: “Viúva é uma testemunha da história, uma obra sobrevivente, profunda e intrigante que, reencontrada tantos anos após seu desaparecimento, mereceria voltar para casa, para o museu de onde foi confiscada”. 

O que se sabe é que a obra deve continuar exposta, com alguns museus já demonstrando interesse. “Acho importante mostrar o quadro porque ele sobreviveu à uma época de intolerância extrema, em que o mal venceu. Sobreviveu à queima de todos os livros e ao holocausto das obras de arte”, comenta Kuczynski.

O percurso de “Viúva” chama atenção para a trajetória complexa que as obras de arte atravessaram durante períodos de grandes conflitos internacionais, bem como a importância de preservá-las. A redescoberta da pintura de Segall lembra, ainda, o papel vital da arte na construção de uma memória coletiva, especialmente em face de tentativas históricas de apagamento cultural. 

Carla Gil é pesquisadora independente e graduada em Arte: História, Crítica e Curadoria pela PUC-SP

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