A arte sem dúvidas desempenha um papel essencial na vida humana. Através dela, é possível se expressar, criar diferentes narrativas e até mesmo realizar críticas sociais. Mas por que as pessoas escolhem colecionar arte? Quais fatores influenciam suas escolhas? Essas são questões centrais abordadas pelo Art Collector Insights 2023, um relatório anual da Artsy, um marketplace de arte contemporânea sediado em Nova York. A pesquisa, divulgada em setembro, visa entender o comportamento dos colecionadores da arte e analisar tendências no mercado das artes plásticas. Para atingir esse objetivo, mais de 1.200 participantes com diversos perfis e interesses, participaram do estudo. Para uma compreensão mais objetiva, a pesquisa foi dividida em seis tópicos principais.
De acordo com o Art Collector Insights 2023, a aquisição de arte é motivada por diversos fatores. A maioria dos entrevistados expressou o desejo de “construir uma coleção” (64%) como o principal, seguido pelo o objetivo de “decorar suas residências ou espaços”, com 62%. Esses dados demonstram, entre outros pontos, a conexão entre arte e design de interiores. “Apoiar artistas” (52%) também se destaca, e, em seguida, com 50%, temos a intenção de “encontrar inspiração”, refletindo tanto o compromisso com a comunidade artística como o papel da arte na vida das pessoas. A pesquisa também revela que 38% dos entrevistados veem a “arte como investimento”, um aumento significativo em relação ao ano anterior, possivelmente impulsionado por estudos que demonstram a estabilidade da arte em tempos de incertezas econômicas.
Além disso, o estudo revela uma paixão crescente pela arte. Surpreendentemente, 61% dos entrevistados consideram a coleção de arte “uma de suas maiores paixões”, um aumento considerável em relação às pesquisas passadas. Quando se trata dos fatores que mais influenciam as escolhas de aquisição, “gosto pessoal” é indiscutivelmente o mote, seguido por fatores como o currículo do artista, críticos de arte, publicações, galeristas de arte e mercados de arte online, igualmente importantes entre si.
Para os apaixonados por arte, todos os meios têm sua importância e seu charme especial. Mas, entre os colecionadores da pesquisa, as pinturas continuam reinando como as favoritas. A pesquisa revela que 94% dos entrevistados têm preferência especial por essa linguagem. A cerâmica ganha um respeitável segundo lugar, com 57%, seguida de perto pelas impressões e múltiplas linguagens, com 56%, e pela fotografia, com 43%. Esses números também refletem a prática real de lidar com obras de arte, já que, por motivos de conservação e exibição, obras bidimensionais costumam ser as mais procuradas.
Quando o assunto é estilo, a pintura também se destaca, com a maioria dos entrevistados inclinados para movimentos artísticos relacionados a ela. Quando questionados sobre os três gêneros de arte contemporânea mais importantes para eles, “arte abstrata” lidera com 50%, seguida por “obras figurativas expressionistas” com 34%, e “figurativismo realista” com 22%. Outros estilos, como “paisagismo” (16%), “minimalismo” (14%) e “arte urbana” (14%) também conquistam seu espaço.
O ano de 2023 ainda carrega consigo incertezas econômicas. No entanto, boas notícias surgem no mundo da arte. Os colecionadores estão se mostrando resistentes diante das turbulências, destacando a arte como um investimento sólido. Em 2022, muitos colecionadores estavam preocupados com o impacto da inflação em suas coleções, com 37% expressando essa inquietação. No entanto, em 2023, a realidade surpreendeu. A grande maioria, 75%, relatou que adquiriu a mesma quantidade de arte ou até mais nos últimos 12 meses em comparação com o ano anterior. A pesquisa também analisou os preços médios das obras adquiridas, revelando um ligeiro aumento. As obras com valores de até $5.000 representaram 44% das aquisições, uma diminuição em relação a 2022 (48%). Por outro lado, as obras na faixa de $5.000 a $9.999 viram um aumento de 18% em 2022 para 21% em 2023. Isso indica que, apesar das incertezas econômicas, os amantes da arte continuam a investir e valorizar suas coleções.
A pesquisa de 2023 confirma que as plataformas online se tornaram uma parte essencial da vida dos colecionadores de arte, mesmo com o fim da pandemia. De acordo com a pesquisa, 80% dos entrevistados afirmaram ter adquirido arte através de plataformas online nos últimos 12 meses, um aumento de quatro pontos em relação ao ano anterior. Mas o dado realmente surpreendente diz respeito a uma mudança no comportamento dos entusiastas da arte: adquirir antes de ver a obra pessoalmente. Segundo a pesquisa, 95% dos colecionadores de arte online afirmaram ter feito isso, mostrando como a confiança nas plataformas digitais cresceu. Além disso, a pesquisa revelou que os colecionadores estão usando a internet como uma ferramenta para descobrir novas obras, navegando por sites de arte diariamente.
Dada a crescente relevância do mercado de arte online, a Art Collector Insights 2023 buscou entender os interesses e as preocupações dos colecionadores. A maioria dos entrevistados (58%) apontou a falta de preços transparentes como o principal obstáculo para adquirir arte na internet. Em uma escala de 0 a 100, a importância de ter os preços claramente visíveis alcançou uma média de 84 pontos. Logo em seguida, com 51% de menções, está a falta de informações relevantes sobre as obras. Em terceiro lugar, vêm as questões logísticas de envio (44%). Quando o assunto é pagamento, o velho e confiável cartão de crédito é o preferido, com 51% de preferência. Isso se deve à conveniência (mencionada por 91% dos adeptos) e à proteção contra fraudes (65%). Para os adeptos das aquisições online, a possibilidade de pagar com cartão de crédito é crucial, com uma média de 76 em 100 na escala de importância.
A pesquisa revela algumas distinções interessantes entre as gerações mais jovens e mais maduras no mundo da arte. Uma das diferenças notáveis está na forma de adquirir obras. Os mais jovens optam menos por galerias físicas (70%) e leilões presenciais (10%), em contraste com os mais experientes (82% e 29%, respectivamente). Os colecionadores mais jovens estão abraçando o mundo digital, com 83% deles adquirindo arte online, um cenário menos comum entre os mais velhos. Outro aspecto interessante é a preferência pelos artistas. Os colecionadores mais jovens valorizam artistas emergentes (64%), talvez apostando na valorização das obras ao longo do tempo. Em contrapartida, os artistas já renomados são a escolha de 23% dos colecionadores mais velhos, enquanto apenas 11% dos mais jovens compartilham essa preferência. Essas nuances refletem as diferentes perspectivas das gerações e como elas encaram o mundo da arte.
O Art Collector Insights é uma ferramenta potente para os entusiastas da arte. Através dos dados que essa pesquisa proporciona, podemos ver como a arte está se valorizando como investimento, como as transações online estão crescendo e, o mais importante, como o perfil dos colecionadores está mudando. Essas informações nos dão uma visão ampla do mundo da arte e nos ajudam a prever as direções que a arte pode tomar nos próximos anos. De certa forma, a pesquisa atua como um mapa, que nos auxilia a nos orientarmos no impressionante mas, às vezes, misterioso mundo da arte.
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A arte é um alimento espiritual insubstituível e primeiro meio de expressão humano.