Nesta semana, o mundo viu mais uma grande colaboração entre uma importante artista mulher e uma tradicional Maison de luxo. Desta vez, a artista portuguesa com quase 30 anos de carreira, Joana Vasconcelos, colaborou com a marca Dior na criação de uma instalação imersiva. A obra foi idealizada especialmente para o cenário do desfile de lançamento da coleção outono-inverno 2023-2024, durante a semana de moda de Paris, no Jardin des Tuileries.
Sob o título de Valkyrie Miss Dior, a escultura têxtil site-specific foi feita inteiramente à mão. A obra mede cerca de 24 metros de largura e 7 metros de altura, pesando mais de uma tonelada. A artista incorporou na criação da obra 20 tecidos da coleção, dialogando com a coleção, as modelos e o público.
Seguindo a tradição de convidar um artista para colaborar no cenário, foi a própria diretora criativa da Dior, Maria Grazia Chiuri, quem entrou em contato com a artista portuguesa. Chiuri viu nas práticas de Joana Vasconcelos um paralelo com seu próprio trabalho, na medida em que ambas se valem da costura, tricô e bordado em suas criações. As duas iniciaram as tratativas há um ano, a partir de conceitos que Chiuri propôs para a coleção.
O ponto de partida da designer foi o passado da marca, mais especificamente os anos 1950, pós Segunda Guerra Mundial, quando a Europa vivia um momento de maior pobreza e sobriedade e as mulheres passaram a desempenhar papéis muito menos tradicionais e muito mais independentes. Tal movimento deu origem ao famoso New Look, concebido então por Christian Dior.
Tanto o fundador da marca, na época, quando Chiuri, nesta coleção, se inspiraram em Catherine Dior, irmã do estilista. Maria Grazia Chiuri vê Catherine Dior como um exemplo de força e resistência feminina, ao mesmo tempo uma florista delicada e uma mulher radical. A designer afirmou em entrevista para a British Vogue que entende Catherine como uma Valquíria, mulher guerreira da mitologia nórdica, noção que disparou a concepção da coleção. Chiuri então enviou para Vasconcelos todas as representações de flores que encontrou nos arquivos da marca, além dos tecidos. A instalação foi uma mistura das estampas florais interpretadas a partir da expressão artística de Vasconcelos. A artista se valeu de rendas, bordados, crochês para criar uma escultura abstrata que formou uma espécie de teto acima da passarela e transformou o espaço em uma caverna multicolorida.
Nascida em 1971, a portuguesa Joana Vasconcelos é uma artista contemporânea reconhecida mundialmente principalmente por suas esculturas monumentais. Sua carreira iniciou nos anos 1990, com obras que tencionam os limites entre os campos das artes visuais e da moda. Sua obra atualiza o movimento de artes e ofícios para o século XXI, incorporando objetos do dia a dia, questionando o estatuto da mulher em meio a uma sociedade de consumo.
Luísa Prestes, formada em artes visuais pela UFRGS, é artista, pesquisadora e arte-educadora. Participou de residências, ações, performances e exposições no Brasil e no exterior.
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