Viver cercado por arte é instigante. “Te tira do lugar comum, te faz pensar em assuntos que você não pensaria se aquela obra não tivesse entrado na sua vida”, acredita Julia Suslick Porchat, art advisor da Art Ahead. É por isso que muitas pessoas desejam, além de visitar museus e exposições, ter obras de arte dentro de casa, no contato cotidiano. Surge então a questão de como a arte se relaciona com a decoração.
Andrea Rehder recebe muitos arquitetos e decoradores em sua galeria, em São Paulo. É um processo de compra diferente do colecionador, que busca artistas e obras que dialoguem com sua coleção. Neste caso, o que guia a visita é a procura por obras com papéis específicos na casa. “Eles nos pedem sugestões que se encaixem nas dimensões do projeto. Uma tela grande para uma parede grande, pequenas esculturas para decorar a estante”, conta.
Porém, a seleção não se limita à mera decoração – nem quando os moradores não são tão íntimos do universo da arte. Principalmente com relação à arte contemporânea, o conceito por trás da obra é muito importante. Não apenas a peça escolhida deve se inserir bem na decoração e agradar o morador, como também provocar emoções e reflexões. “A obra de arte é mais um habitante da casa. Não deve ser comprada por estar na moda, tem que fazer sentido no momento que o morador está vivendo”, opina a galerista carioca Cassia Bomeny. Ela conta que já viu muitas pessoas começarem um acervo para usar na decoração, se apaixonarem por arte, se tornarem colecionadores e, eventualmente, até acabarem mudando para uma casa maior para viver com mais obras.
Foi o que aconteceu com o arquiteto Caio Andreazza Morbin e o advogado Mauro Finatti. Mais do que buscar um apartamento maior, Caio elaborou para seu novo lar um projeto de interiores que priorizou a organização de todo o acervo do casal. Além de colecionadores de arte e design, eles são assumidos acumuladores – possuem desde programas de óperas, até caixas de costura que pertenciam à avó de Mauro. “Gostamos de viver e conviver com estes objetos, não guardar tudo no fundo do armário ou debaixo da cama”, diz Caio.
A grande sacada do projeto foi a criação de um teleiro, uma estrutura metálica que abriga boa parte da coleção de quadros. Com o sistema de correr, essas obras podem ser expostas ou não, dependendo da situação. Assim, sobrou espaço para organizar melhor o resto da coleção. “Ficou mais harmônico, com respiros, e pudemos dar destaque a alguns trabalhos”, explica o arquiteto. A disposição das obras na casa tem lógica decorativa, porém o que dá coesão à coleção é a seleção de artistas jovens e brasileiros. A coleção de arte cresce paulatinamente, “gostamos de curtir o que já temos, reorganizar. É uma coleção pequena, mas com personalidade forte”, diz Caio.
Maria Silvia Ferraz é jornalista e apaixonada por arte contemporânea.
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