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O rebote do bote: afeto e política mobilizam a obra de Jonathas de Andrade

Publicado por Victoria Louise em 23/11/2022
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Nascido em 1982, em Maceió, Jonathas de Andrade vive e trabalha em Recife. Há quinze anos o artista desenvolve trabalhos que fabulam contextos socioculturais, sobretudo a região Nordeste, e relações cotidianas para discutir gênero, classe e raça.

Posicionamento monumentos – Sou um homem do nordeste, este museu é meu (2014), Jonathas de Andrade. Imagem: Giovanna Gregório

Explorando suportes como fotografia, vídeos e instalações, Andrade possui hoje um acervo conhecido e desejado por grandes instituições, suas obras emblemáticas se destacam pelo caráter colaborativo e pelo fluido jogo entre ficção e realidade para abordar assuntos populares e complexos. 

O artista que representou este ano o Brasil na 59ª Bienal de Arte de Veneza, ganha exposição individual na Pinacoteca de São Paulo. Jonathas de Andrade: O rebote do Bote ocupa o quarto andar da Pina Estação com curadoria de Ana Maria Maia, curadora-chefe da instituição. 

Sobre o título, “Em um polo de forças do qual não escapam nem os personagens nem o próprio artista, o bote é o desejo no mundo, enquanto o rebote são as respostas do mundo” afirma a curadora. 

A exposição foi organizada em três núcleos, a começar por Jogos de Corpos, onde estão reunidas obras que investigam as estruturas dos acordos sociais. Neste primeiro núcleo, observamos como Andrade parte de subjetividades para compreender o coletivo de modo a elaborar memórias e narrativas descentralizadas, especialmente a respeito da construção de raça e de classe do país.

Vista da obra Recenseamento moral da cidade do Recife (2008), Jonathas de Andrade. Imagem: Giovanna Gregório.

A primeira obra que pode ser observada é Recenseamento moral da cidade do Recife (2008). Ao se passar por um recenseador – responsável pela coleta de dados por entrevistas com moradores – de Recife, Andrade visita diferentes bairros e convida pessoas de diferentes casas a responder uma enquete encontrada em um livro de boas maneiras dos anos 1980. Como resultado, ele reúne vinte  formulários respondidos, ligando-os à imagem da casa e à sua localização no mapa, expondo noções da população ora conservadoras ora transgressoras a respeito dos papéis de gênero e classe na sociedade.

Este projeto  reúne  uma série de características fundamentais de sua obra geral, como a pesquisa colaborativa. É construída com a participação direta de outras pessoas e o público também é convocado a ser parte por demandar uma ativação física do espectador, ao folhear os formulários para comparar as respostas, ao acompanhar as linhas para encontrar sua localização, a instalação propõe uma experiência que envolve todo o corpo.

Os trabalhos que tematizam o Museu do Homem do Nordeste, ocupam densamente o núcleo. O referido Museu foi criado em 1979 por Gilberto Freyre, autor de Casa Grande e Senzala (1933), livro em que analisa as raízes da cultura miscigenada brasileira. A publicação é relevante até hoje e passa por discussões polêmicas como a acusação de naturalizar relações perversas pois a teoria elaborada por Freyre acaba descrevendo uma espécie de democracia racial.

  • Primeiro Letreiro para o Museu do Homem do Nordeste (2013), Jonathas de Andrade. Imagem: Giovanna Gregório
  • Cartazes para o Museu do Homem do Nordeste (2013), Jonathas de Andrade. Imagem: Giovanna Gregório.

Os Cartazes para o Museu do Homem do Nordeste (2013), são um marco no trabalho de Andrade. O projeto de 77 cartazes discute identidade, imagem e representação e começou com anúncios lançados nos classificados de um jornal popular do Recife entre 2012 e 2013 que procuravam trabalhadores interessados em posar para o cartaz do Museu do Homem do Nordeste. Os anúncios variavam com chamados como “procuro moreno forte, trabalhador – feio ou bonito – para fotografia do cartaz do museu do homem do nordeste.” Impressões dos cartazes podem ser adquiridos na loja da pinacoteca.

Vista da exposição. Imagem: Giovanna Gregório

Ainda em diálogo com este projeto, encontra-se no centro da sala expositiva inúmeras molduras de madeira penduradas, expandindo o projeto para a obra Museu da Caravana do Nordeste (2002). 

Ao realizar uma exposição itinerante pelo interior de Pernambuco no início de 2020, Jonathas propôs  ao público que elabore sua versão do Museu do Homem do Nordeste, e reuniu  nestes mobiles algumas dessas realizações como Museu des não-bináries do nordeste, Museu da emoção do nordeste, Museu das pretas do nordeste, Museu do brega do nordeste e etc. Agrupa assim perspectivas do senso de pertencimento e representatividade de diferentes pessoas.

Museu da Caravana do Nordeste (2022), Jonathas de Andrade. Imagem: Giovanna Gregório

Essa é mais uma obra mobilizadora, os móbiles estão em constante movimento e a sobreposição deles torna muitas vezes difícil a leitura, é preciso se mover, avançar, recuar e mudar o local de observação para capturar as versões de museu que são propostas. O público que visita a pinacoteca pode interagir com um painel de letras e deixar suas palavras no museu de São Paulo.

Fragmento interativo da obra Museu da Caravana do Nordeste (2022), Jonathas de Andrade. Imagem: Giovanna Gregório

O caseiro (2016) alarga ainda mais as discussões vistas até aqui. A obra é composta por duas telas, em uma vemos cenas do filme O mestre de Apipucos (1959) de Joaquim Pedro de Andrade que retrata a rotina aristocrata do escritor Gilberto Freyre em sua casa. Ao lado é reproduzido o registro em vídeo que Jonathas de Andrade fez em 2016 de um caseiro transitando pelos mesmo ambientes.

Escalas de devoração é outro núcleo da exposição, no qual a  curadoria buscou tensionar campos da percepção, representação e política com relações patrimoniais, interpessoais e institucionais, selecionando trabalhos que dialogam com arquitetura e design gráfico.

Neste núcleo destaca-se a presença de Nostalgia, sentimento de classe (2012), uma instalação feita com peças de fibra de vidro que reproduzem a fachada de uma casa modernista da década de 1960 no Recife. A discussão sobre o elitismo modernista e sua falência é potencializada com uma compilação de escritos dos arquitetos Marcos Vasconcellos e Flávio de Carvalho.

  • Nostalgia, sentimento de classe (2012), Jonathas de Andrade. Imagem: Giovanna Gregório
  • Nostalgia, sentimento de classe (2012), Jonathas de Andrade. Imagem: Giovanna Gregório

Dentro do ambiente formado com as paredes da instalação está o vídeo Nó na garganta (2022), importante material para o público entrar em contato com parte de sua obra que também está engajada com questões ambientais. O vídeo vertiginoso apresenta jovens que trabalham em um zoológico interagindo com cobras, valorizando o encontro dos corpos e exaltando os sentidos do corpo. As cenas ficam cada vez mais rápidas até que encontram cenas de desastres ambientais, vemos então a profunda conexão entre espécies que finda na exploração predatória da natureza.

Vista da exposição. Imagem: Giovanna Gregório

Por fim, o núcleo Corpo Para Jogo trata a dimensão erótica de sua obra. A divertida obra Achados e perdidos (2022), resultado de dez anos que o artista passou coletando sungas esquecidas em piscinas no Recife, apresentando-as em 80 peças e organizando-as de modo a desafiar as normativas da masculinidade.

Achados e perdidos (2022), Jonathas de Andrade. Imagem: Giovanna Gregório

Esse núcleo também apresenta o vídeo O Peixe (2016), de 37 minutos. Imperdível, é um filme sensível que nos mostra um rito de abraço entre peixe e pescador, com muita conexão, respeito e afeto, o trabalho é um especial grito de esperança que projeta uma comunidade em sintonia com a natureza. 

Jonathas de Andrade é um artista jovem em plena ascensão no cenário nacional e internacional, a mostra que estará em cartaz até final de fevereiro é parada obrigatória para quem passa por São Paulo. O Rebote do Bote captura a sensibilidade e o comprometimento político social de um dos maiores artistas da atualidade. 

Giovanna Gregório é graduanda em Arte: História, Critica e Curadoria pela PUC-SP. Pesquisadora e crítica independente.

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