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Corpo e linguagem na obra de Lenora de Barros 

Publicado por Victoria Louise em 24/10/2022
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“Lenora de Barros: Minha língua” em cartaz na Pinacoteca de São Paulo apresenta trajetória experimental ao longo de décadas

Consolidada por uma carreira de mais de quatro décadas, a artista paulistana Lenora de Barros ganha uma exposição panorâmica na Pinacoteca de São Paulo, com curadoria de Pollyana Quintella. Com cerca de 40 obras, “Lenora de Barros: Minha Língua” ocupa três salas interligadas no 2º andar do prédio principal da Pina, ao lado do Parque da Luz.  

Quem conhece o emblemático trabalho Procuro-me (2002), exposto em diversas instituições e em diferentes contextos no Brasil, já teve contato com as ideias centrais na poética de Lenora de Barros. Provavelmente seu trabalho mais popular, ele exemplifica a relação da artista com as palavras e uma performatividade própria em uma longa trajetória na arte. 

Para quem ainda não conhece a artista, a exposição é uma excelente chance de ter uma visão ampla da sua obra, além de se aproximar de questões tão bem trabalhadas por muitos artistas no Brasil: os encontros e desencontros entre as artes visuais e outras linguagens, como os códigos da escrita e a oralidade. 

Vista da exposição. Foto: Diogo Barros. 

Língua do corpo à palavra

A palavra, ao passo que define um objeto, evoca na mente uma imagem. Em muitos trabalhos, Lenora esgarça os limites das definições de uma palavra diretamente relacionada à linguagem, como a língua, o silêncio, a fala ou a “coisa”. Nessas investigações, a artista usa a ambiguidade, a contradição ou a literalidade como processo artístico. Em todo caso, abre-se um novo campo de possibilidades em torno de símbolos que cotidianamente são usados sempre da mesma forma. 

A presença da língua no próprio título da exposição sinaliza o que pode ser descoberto em diversos momentos ao longo da visitação: a língua, para Lenora, vai de órgão que cumpre inúmeras funções corporais a idioma e comunicação, ou ainda se torna objeto gerador de sentidos. 

Poema, 1979-2014. Foto: Diogo Barros. 

A língua da artista aparece em obras mais performáticas como “Poema” (1979-2014), uma sequência de fotografias apresentada na vertical, na qual Lenora tem sua língua tomada pela estrutura interna de uma máquina de escrever. Já em “Linguagem”, a artista registra a textura de sua língua em fotografias entre 1990 e 2022. 

Linguagem, 1990-2022. Foto: Diogo Barros. 

Em alguns momentos, a investigação da artista é apresentada através de uma descontinuidade, onde as palavras e imagens não necessariamente precisam formar uma sentença, mas podem produzir sentidos de forma independente ou compartimentada. 

Os “ping-poems”, por exemplo, constituem-se em palavras impressas em bolinhas de ping-pong, instaladas sobre placas de acrílico, centralizadas no alto da sala. Entre as palavras impressas individualmente nas bolinhas – também recitadas por Lenora em instalação sonora -, estão “nada”, “deve” e “ver”, que podem ser lidas em diversas ordens conforme o visitante circula o espaço expositivo e olha para cima. As bolinhas também aparecem em séries fotográficas com outras frases, como em “Coisa de nada” e “Coisa em si”, ambas de 1990. 

  • Coisa em si, 1990. Foto: Diogo Barros. 
  • Coisa de nada, 1990. Foto: Diogo Barros. 

Mídias e experimentação

Uma seleção de trabalhos produzidos para a coluna “…umas” entre 1993 e 1996 no Jornal da Tarde, de São Paulo, mostra como as proposições de Lenora com a poesia concreta e experimental se configuraram nesse espaço midiático, alcançando públicos para além do campo das artes visuais. Trazendo trabalhos autorais e de outros artistas, Lenora utilizou a coluna para experimentar as linguagens da poesia, da fotografia e até mesmo brincar com gêneros jornalísticos.

Em “Ri-chora” (1975-2017), Lenora brinca com a proximidade entre a risada e o choro, espelhando o texto que transcreve um áudio no qual a artista encena os dois estados emocionais. 

  • Colunas “...umas”, 1993-96. Foto: Diogo Barros. 
  • Ri-chora, 1975-2017. Foto: Diogo Barros. 

As emoções e o humor estão presentes em muitos trabalhos da artista, que cria situações e personagens a partir da própria imagem. Elaborando composições com símbolos, peças de lã, gorros e os mais variados objetos, como o fósforo, Lenora propõe inúmeras versões de si, aproximando-se do fantástico, mas sem sair do mundo ordinário. 

Corpo, performance e linguagens

A linguagem nomeia o corpo, o define e o comunica. Ao mesmo tempo que o corpo, na poética de Lenora de Barros, está em um movimento constante de desestabilização dessas linguagens que não o comportam. 

Em “A cara. A língua. O ventre.” (2022), vídeo comissionado para a Pinacoteca, a artista modela uma língua em argila e a alisa em repetidos movimentos para frente, como o movimento da fala, do interno ao externo, até que a língua se parta ao meio. No mesmo vídeo, a artista usa as mãos para inserir três furos em uma outra massa de argila, formando uma máscara, até que as formas que sinalizam um rosto se desfazem. 

  • Frame de  “A cara. A língua. O ventre.”, 2022. Foto: Diogo Barros. 
  • Frame de  “A cara. A língua. O ventre.”, 2022. Foto: Diogo Barros. 

Um ponto forte presente em muitos trabalhos é o emprego da gestualidade bruta, especialmente no uso de ferramentas que ferem os materiais e testam os limites da palavra. O martelo, o prego, a faca, ou até mesmo o plástico que suprime o rosto da artista são ferramentas utilizadas nesses entraves que Lenora se coloca contra a matéria. 

Vista da exposição. Foto: Diogo Barros. 

Sem uma ordem linear para visitação, a exposição pode ser acessada por diferentes entradas. Instalações sonoras no espaço espalham a voz da artista recitando seus poemas, promovendo uma maior contaminação de suas ideias. 

Ao encontrar obras que abarcam diferentes momentos da trajetória da artista, é possível entender as múltiplas relações que ela estabelece com o corpo, compreendendo como ele pode ser mediado pelas linguagens. Lenora acompanhou essas mediações através dos avanços tecnológicos e toda sua obra continua atual, oferecendo novas possibilidades de decodificação e desconstrução das linguagens, das mais convencionais às mais experimentais. 

Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.

Serviço

Lenora de Barros: minha língua
Período: 08.10.2022 a 09.04.2023
Curadoria: Pollyana Quintella
Edifício Pinacoteca Luz
Praça da Luz, 2, São Paulo, SP, 2º andar
De quarta a segunda, das 10h às 18h.
Gratuitos aos sábados
R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada)Ingressos no site www.pinacoteca.org.br ou na bilheteria do museu

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